Como deixei o leite artificial e voltei ao leite materno exclusivo

A decisão de deixar a fórmula

A primeira mamadeira foi na noite depois da mamada, 90 mL a contragosto de meu marido, que sempre foi contra dar fórmula. A bebê cuspia, não sabia pegar no bico da mamadeira, eu praticamente jogava jatinhos na boca dela e ao final tive que dar em copinho, usava a tampinha da mamadeira como copinho, acho que tomou apenas 30 mL.

Logo já estava dando 2 mamadeiras de 90 mL, ao meio dia e a noite, porque comecei sentir que ao meio dia meu peito não tinha leite (ainda não sabia que o leite se produz durante a mamada), e levava a mamadeira quando saíamos, porque sentia que todo mundo me olhava quando amamentava em lugar público, e isso me deixava desconfortável.

Com dois meses e meio, após parar no PS com uma bebê constipada, e com um grande incentivo do pediatra do plantão, tomei a decisão de retirar a fórmula. Foi difícil, deu trabalho, mas foi muito recompensador, melhorou a qualidade de vida de minha bebê que sofria demais com o leite artificial. Com 3 meses e meio já não dei mais mamadeira, joguei bicos e pó fora para não ter mais tentação.  Se eu consegui, acredito que outras mulheres também conseguem, e a partir dali, escrevi esse guia passo a passo para as mães que desejam deixar o leite artificial e voltar ao aleitamento materno exclusivo.

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Maria Isabel aos 3 m, perto de deixar a fórmula definitivamente

Sem importar as razões para entrar na formula infantil, ou a idade do bebê, se a mãe está determinada deixar de lado o leite artificial, esse guia prático irá ajudar. Tenha em mente que será um processo, não acontecerá da noite para o dia, não há fórmula mágica, precisará trabalhar para que aconteça. Terá que auto-avaliar sua técnica de amamentação e muitas das suas expectativas frente ao bebê, as vezes re-ensinar o bebê pegar de novo o peito. O processo envolve mudanças físicas e comportamentais tanto em você como no bebê, que irão melhorar suas vidas.

14 Passos para tirar a fórmula infantil da dieta do bebê e voltar ao aleitamento materno:

  1. Se informe, leia sobre a produção de Leite materno, os picos de crescimento, o sono dos bebês, cama compartilhada, uso de medicamentos, sobre o Sling (se possível arrume um).
  2. Procure profissionais, pediatra, ginecologista, consultora de amamentação, que lhe acompanhem e lhe ofereça incentivo, ou pelo menos não a desencorajem.  
  3. Faça uma auto-avaliação. Agora que leu, porque acha que a fórmula foi necessária? (seja sincera) Foi insegurança, pressão externa, desconhecimento, pressão do pediatra, expectativas irreais frente ao comportamento do bebê (sono, choro, independência)? Medo do bebê não cumprir as expectativas de crescimento? Foi indicado para salvar a vida de seu bebê mas agora que está tudo bem quer amamentá-lo exclusivamente? Hoje é realmente necessário essa fórmula? Consegue identificar os erros na primeira tentativa de amamentação? Teve pega errada (mamilos rachados e doloridos é sinal claro de pega errada)? Usou chupetas para acalmar o bebê? Teve expectativas errada sobre a amamentação? Achou que o peito tinha que encher e vazar em toda mamada, por exemplo? Teve mastite? Toma ou tomou medicamentos para aumentar o leite materno? Marcava horário e tempo de duração das mamadas? Você esperava o choro de fome? Oferecia o peito aos primeiros sinais de fome?  uma lida nesse guia de amamentação para recém nascidos pode ajudar identificar as situações que detonaram a entrada da fórmula. Agora que identificou, se responda, com sinceridade: está em condições, físicas e emocionais, de deixar a fórmula infantil para atrás?
  4. Estabeleça o ponto de partida. Tem leite materno ainda? Se o bebê pega o peito e suga, mesmo parecendo ficar irritado, então tem sim. O bebê pode se irritar com o fluxo diminuído. Se não tem leite materno, seu bebê ainda pega o seio se oferecido? Se você parou de oferecer o peito por um tempo e o bebê for menor de 3 meses, então eu recomendo a relactação. Mas se você tem qualquer quantidade de leite materno, ou seu bebê é maior de 3 -4 meses,  a relactação pode não ser o melhor caminho.


  5. Converse com sua rede de apoio (marido, amigos, família) sobre o que vai fazer e pode acontecer, o que eles podem esperar de você e o bebê, e o que você espera deles. Se eles não lhe apoiam, pelo menos que não a sabotem. Precisará de tempo para ficar com o bebê, então se libere de tarefas domésticas, se possível arrume uma pessoa que lhe ajude com isso, ou então crie prioridades, faça o urgente, adie o adiável, delegue o delegável e deixe de lado tudo que não for essencial. Priorize, comida, roupa e cuidados pessoais, o resto pode esperar. Prepare sua cabeça para o que vem pela frente, use toda sua determinação e paciência. O bebê pode mudar de horários e acordar mais frequentemente a noite, pedir o peito com frequência, se irritar com o fluxo lento de leite materno, querer mamar para adormecer, para acordar, e para se distrair. Ter uma rotina cotidiana consistente ajuda muito nesse caso.
  6. É indispensável trocar mamadeiras por copinho ou colher (sonda se for relactar). O uso da chupeta deve ser suspendido também, e passar a suprir a sucção não alimentar no peito. Jogue todos os bicos fora e seja forte! Tirar a chupeta pode ser problemático se você costuma colocar na boca do bebê ao primeiro resmungo, por isso, deve começar por mudar sua estratégia para acalmar o bebê, quando ele chorar pesquise primeiro qual a razão do choro e solucione, se não achar uma razão aparente então ofereça o peito como conforto, isso sempre funciona.
  7. Verifique sua alimentação, e se mantenha bem hidratada, não se trata de tomar 6 Lt de água ao dia, nem comer por dois. O bebê requer 300-500 cal diárias, quantidade ideal a ser incrementada na sua alimentação diária. Mantenha horários de comida fixos, pelo menos de 3/3 hs, favorecendo é claro, alimentos saudáveis, e aqueles que ajudem baixar seus níveis de estresse (alface, banana, abacaxi, melancia, melão, carnes magras, cereais integrais, etc). Nunca amamente com fome, se for o caso coma enquanto amamenta. Uma dica importante é olhar seu xixi para saber se está bem hidratada, deve ser claro, frequente e abundante. Se não for assim aumente o consumo de água e outros líquidos.
  8. Fixe os horários da fórmula infantil, a livre demanda neste processo é só para o peito, não para o leite artificial. Evite oferecer fórmula de madrugada, na primeira mamada da manhã e no final da tarde. Estes são horários críticos nos que o peito deve ser oferecido para aumentar a produção de hormônios que atuam na produção do leite materno

  9. Fixe a quantidade de leite artificial oferecido em cada dose, veja como oferecer o leite fora do seio sem a mamadeira aqui , isto vai ajudar identificar acertadamente o ponto de saciedade do bebê (se ele cospe então é porque não quer, um bebê esfomeado aceita fórmula sem problema). Na mamadeira ou mesmo na sonda o bebê continua a sugar satisfazendo a sucção não alimentar e termina engolindo mais leite artificial do que precisaria. A quantidade de fórmula necessária é aquela que o bebê toma sem maior esforço por parte da mãe. A quantidade pode variar entre uma mamada e outra, o importante é que a mantenha estável em cada mamada. A partir de agora não aumente mais a quantidade.
  10. Comece estimular a produção de leite materno. Pratique a livre demanda do peito, sempre vigiando que a pega esteja correta, ao menor sinal de dor, pare e corrija a pega. Se o bebê parece irritado, tente começar a oferecer o peito antes, aos primeiros sinais de fome, ou mesmo quando ele estiver acordado e de bom humor, quando estiver cansado e sonolento, embalando ele para lhe ajudar a dormir. Assuma o peito como conforto para o bebê. Deixe que ele satisfaça a necessidade de sucção não alimentar no peito. Se possível use sling no final da tarde, período no qual é provável o bebê ficar mais chatinho pelo cansaço, ofereça o peito sempre que o bebê parecer cansado. Ofereça o peito mesmo que pareça murcho e você achar que não tem leite materno. Lembre que a produção de leite materno é glandular. Tomar banho juntos, contato pele-pele, cama compartilhada ajudam a estimular ainda mais nossos centros hormonais.
  11. Nos horários em que a fórmula é oferecida, sempre comece pelo peito, quando o bebê ficar irritado demais, ai entra o leite artificial. Se está fazendo relactação é hora de colocar a sonda, mas lembre de regular o fluxo da sonda para ele não se acostumar com o fluxo contínuo. É só prensar a sonda ritmicamente, tentando simular o ritmo de mamar ao seio >>suga, suga, vem leite, suga, suga, vem leite<< o que na sonda seria >>prende, prende, solta<<. Ao terminar de oferecer o Leite na sonda, permita a saída de gases e ofereça o peito novamente, evite que ele durma na sona, melhor que adormeça no seio. 
  12. Uma vez fixadas as quantidades e os horários de fórmula, acertada a pega, o copinho ou a técnica de relactação, comece reduzir 10 mL em cada dose de fórmula oferecida, a cada três dias (ou tempo que você julgar adequado para seu peito se adaptar). Ou seja, se hoje toma 90 mL na noite, em três dias você reduz para 80ml, em mais três dias serão 70mL, depois 60mL, etc. Sempre ofereça o peito primeiro, depois a fórmula e então de novo o peito (mesmo que esteja murcho), se for necessário use a técnica de compressão da mama, se está irritado, pare se acalmem, massageie o seio e volta oferecer, se ainda assim o bebê continua irritado, de novo se acalmem e tente oferecer o outro seio, e faça igual, compressão e massagem, se mesmo assim ele continua irritado volte ao primeiro, e vai assim até o bebê dormir. Use todas as ferramentas necessárias para acalmar o bebê, avalie se não é cansaço acumulado, pico de crescimento, use e abuse da técnica de exterogestação e do sling. Se for preciso permita que o bebê tire sonecas no sling.
  13. Observe seu filho sempre, siga a freqüência de xixi, 5-6 trocas de fraldas bem pesadas de xixi é um indicador que o bebê está mamando bem, isso claro se você não oferece chá, água nem nada que não seja recomendado. Respeite os sinais de satisfação da criança, a sugestão de reduzir de 10 em 10 mL, é isso uma sugestão, seu filho pode querer reduzir mais rápido do que isso ou sentir falta. Pode ter uma mudança no ganho de peso do mês, ser um pouco menor, mas não deve ser uma diferença gritante, isto porque ele vai se ajustar a sua curva de crescimento natural. Use seu critério, acredite no seu instinto , e tente não se deixar influenciar por comentários de terceiros (sempre tem). Lembre que bebês choram e nem sempre é fome. Tenha sempre presente as outras possíveis razões de choro, picos de crescimento, dentes, calor, cansaço. Se já diminui o leite artificial, a frequência de xixi é boa, e conseguiu manter nessa nova quantidade o primeiro dia, não aumente a quantidade de novo, mesmo que o bebê parecer irritado. Acalme ele com as técnicas que aprendeu e muito peito nele. Permita que seu corpo se adapte à nova demanda. O leite materno irá aumentar naturalmente.
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Não se esqueça durante todo o processo, curtir seu filho e sua família. Relaxe e curta seu bebê, tomem banho juntos, faça massagens estimulantes nele, crie espaços para estimular o bebê, cante, converse, dancem, mostre-lhe sons, figuras e experiências sensoriais diferentes. Deite com ele no seu colo para que ouça seu coração. Tente não passar o dia todo pensando na fome do bebê e na produção de leite materno. Seu bebê é muito mais que estômago e fraldas. Reveja seus dias, tire um minuto da noite para pensar: o que ele fez de novo hoje? Se sinta orgulhosa de  seus pequenos sucessos. Viva um dia de cada vez, uma mamada de cada vez. Seu filho vale todo o esforço.

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Texto de Zioneth Garcia.

Editado e atualizado fev de 2019

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