A necessidade de balanço e contato físico é natural para os bebês. Os nossos bebês de hoje, conservam os mesmos mecanismos de sobrevivências dos filhos de nossos ancestrais nômades, é nossa herança evolutiva. Movimento constante, ouvir barulho constante e sentir o calor do corpo são sinônimos de sobrevivência. Para o bebê ancestral, se encontrar em silêncio, na escuridão, sem nada mexer, e com braços e pernas soltos, só poderia significar uma coisa: a sua mãe teria lhe esquecido, abandonado ou perecido. O colo garantiu a sobrevivência dos bebês na antiguidade, garantindo proteção, modulação da temperatura e amamentação em livre demanda que satisfaz tanto a demanda nutricional como a regulação e estresse.
É claro que hoje não somos mais nômades, e não há nenhum perigo aguardando a criança na escuridão do seu berço, nos sabemos, mas os bebês não! Enquanto eles não são capazes de ir atrás de nós, precisam da sensação de movimento constante, barulho constante e aconchego para estar calmos de conseguir dormir.
Para o cérebro em desenvolvimento do seu bebê, o balanço e movimentos constantes ajudam a estabilizar seu sistema de percepção sensorial, isto porque ao estimular o seu sistema vestibular (responsável pela orientação espacial) o cérebro ofusca a recepção de sinais de outros sentidos, se concentrando na manutenção do equilíbrio, ofuscando temporariamente a percepção de outros estímulos sensoriais (que podem estar excessivos), o que facilita que relaxe e alcance a sensação de segurança e proteção para poder adormecer.

Para entender melhor como o balanço no colo funciona para bebês e crianças, vou fazer uma analogia. Pense no que acontece quando estamos numa montanha russa: ao subir devagar, estamos observando ao nosso redor e registrando tudo com nosso sentidos de forma consciente, mas, ao começar a descida e viradas com velocidade nosso sistema vestibular é hiper estimulado, o nosso cérebro se concentra em manter nossas costas posicionadas no espaldar da cadeira, e assim, os outros sentidos são ofuscados, não prestamos muita atenção nos gritos ou palavrões que as pessoas ao redor dão, nem mesmo percebemos a hora que a foto de recordação é tirada e ficamos com as piores caretas possíveis. Da mesma forma que na montanha russa, o cérebro do bebê prioriza a manutenção do equilíbrio na hora do balanço, lhe permitindo se desligar de outros estímulos ambientais.
Obviamente, não dá para passar 24 hs do dia, 7 dias por semana carregando o bebê, é exaustivo demais. Gradativamente, as necessidades da mãe e as necessidades do bebê, vão encontrando um equilíbrio, na medida que o bebê descobre que a cama, carrinho ou berço também são seguros e confortáveis, o dormir, e posteriormente o adormecer, pode ir saindo do colo. Reconhecer que estar fora do colo também é um local amigável e seguro, se sentindo acolhido e interagindo com o ambiente de forma tranquila, é o primeiro passo para a criança aceitar dormir fora do colo também. Aumente gradualmente o tempo fora do colo, mantendo a interação através de contato visual e conversas constantes. Para seu bebê não basta estar ao lado, ele precisa ver, ouvir e interagir com você. Se for menor de 3 meses, sua visão está em desenvolvimento, com o que distancias maiores a 1 metro podem ser muito para conseguir lhe enxergar.

Para conseguir que o adormecer saia do colo, é importante deixar claro para criança que há disposição para lhe acompanhar mas de outras formas, oferecer o movimento e estar presente sem precisar estar no colo, balançando numa rede, no carrinho, tapinhas rítmicas no bumbum, balanço dos ombros e shiado, deitados juntos na cama. O colo oferece contato físico e movimento, então será substituído por contato físico e movimento, na hora de adormecer principalmente. Para isto ter um roteiro de sono consistente que propicie o relaxamento é essencial.
Se o colo na hora de adormecer e dormir está dificultando o descanso da família, pode ser conduzido um processo para manejar a associação do sono com colo gradual, sem deixar o bebê chorando, lhe acolhendo sempre que precisar, lhe tornando mais confiante e construindo uma relação mais segura com seu ambiente (o seu quarto, seu berço, o carrinho, a creche). É importante levar o processo tanto para o dia como para a noite, trabalhando uma soneca de cada vez, um dia de cada vez, uma noite de cada vez. Sempre observando a fase que o bebê se encontra, e garantindo o bom descanso.
Um alerta importante deve ser acionado no caso desse colo ser exigido na vertical ou de barriguinha para baixo. No caso de sempre preferirem sonecas no colo na vertical e acordarem assim que movimenta para uma posição horizontal, deve ser descartado o desconforto causado por refluxo (seja evidente em golfadas ou só com a ruminação). O colo de barriguinha para baixo também pode estar sinalizando desconforto, no caso é provável incomodo gastrointestinal (gases, cólicas) e assim qualidade das mamadas deve ser avaliada (hiperlactação, mamadas muito longas ou com engasgos podem gerar mais gases e desconfortos gástricos) . Veja mais sobre manejo dos gases aqui e manejo da hiperlactação aqui
Assim como a alta necessidade de sucção pode sinalizar desconfortos causando estresse no seu bebê, a alta necessidade de colo pode sinalizar sobre carga sensorial que pode estar dificultando na hora de relaxar, assim, o manejo do colo deve passar pela avaliação da rotina de atividades, sonecas, alimentação, etc., ou seja, uma higiene de sono completa, antes de cortar do bebê o que possivelmente é seu mecanismo de regulação.
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Texto original de Zioneth Garcia – editado maio 2025
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