Pensando no desfralde com respeito

O desfralde marca a mudança de bebê a criança. Apesar de sua importância no desenvolvimento da criança, pensamos pouco acerca dele. Os textos de dicas, conselhos práticos e fórmulas abundam na web. Mas de fato o desfralde é um tema pouco estudado que precisa mais cuidado ao ser abordado.

O quê significa o desfralde na vida da criança?

O desfralde é um processo no qual a criança adquire o adequado controle dos esfíncteres que lhe possibilita parar de usar fralda e ir ao banheiro. O controle esfincteriano é uma das maiores competências adquiridas na primeira infância, possibilitando ao indivíduo maior autonomia, convívio social, autoestima e conhecimento do próprio corpo, sendo tais comportamentos derivados de aprendizagens operantes principalmente no contexto cultural e familiar, não se restringindo, portanto, a respostas orgânicas inatas (1).

Diversas variáveis ambientais, culturais e fisiológicas podem interferir na aquisição dessa habilidade, manejo inadequado pode acarretar prejuízos no desenvolvimento, desde déficits comportamentais até doenças relacionadas à excreção e à defecação. Por isso, o mais saudável é aceitar que o controle de esfíncteres não se induz; ele se adquire durante o desenvolvimento e convívio social e por tal razão, cada criança tem sua hora.


Quando deve acontecer o desfralde?

Socialmente se espera que o desfralde diurno aconteça pelo menos até os 3 anos. O desfralde noturno e o desfralde do cocô pode demorar um pouquinho mais . Porém, não existe uma idade biologicamente determinada. O que acontece de forma mais comum é começar uma cobrança social (da família , amigos ou escolinha) quando a criança está perto de seu segundo aniversario, virando conversa obrigatória em quase todas as reuniões familiares. Essa exposição da intimidade da criança só atrapalha o processo; esquecemos que o desfralde é um processo que pertence à intimidade da família e por isso só as pessoas no convívio com a criança devem intervir no desfralde. A exposição desmedida através de conversas também pode afetar de forma direta a autoestima da criança. Ninguém além de você precisa saber dos acidentes noturnos, ou do numero de trocas de cuequinhas ao dia; proteger a intimidade de seu filho é lhe proteger de constrangimentos e salvar sua autoimagem.

Já que o desfralde é um processo que implica mudanças importantes no nível físico e emocional da criança, é ideal escolher um período de estabilidade emocional para começar. Nos casos que há desmame sendo conduzido, adaptação na nova escolinha, troca de quarto, chegada de um novo irmão, ou qualquer outra mudança drástica na vida da criança é ideal acompanhar de perto as percepções da criança frente ao desfralde. É inevitável que muitos desses processos aconteçam de forma simultânea. Desmame, chegada do irmão mais novo, nova escola, e eles vão dar para a criança uma nova perspectiva de si mesma, o mais importante nesses casos é não forçar, mas conversar, persuadir, acolher e explicar, permitindo que os acontecimentos sigam seu curso natural.

Quem decide  a hora do desfralde?

Não esqueça que é a criança quem decide o ritmo; ela é a única que pode lhe mostrar se está pronta ou não para o desfralde, por isso observe, escute, pergunte, converse com ela. Não é porque um texto diz que arrancar a fralda ao fazer xixi é sinal de desfralde que seu filho esteja realmente pronto para tal. O caminho da aquisição da consciência corporal é longo e cheio de altos e baixos. A criança começa descobrir a sensação de fazer xixi ou coco, depois começa a se incomodar e pedir a troca de fralda assim que faz, depois entende  a sensação de que vai fazer e consegue avisar que está fazendo, para só depois adquirir o autocontrole e consciência corporal suficiente para antecipar a necessidade com tempo suficiente para se dirigir ao lugar adequado.

Em um desfralde precoce os acidentes repetitivos podem causar estresse e frustração de ambas as partes, mãe e bebê, o que aumenta as chances de problemas de retenção da urina ou fezes, podendo causar desde prisão de ventre e infecção urinaria, e é claro, afetar significativamente a autoimagem da criança, levando em mediano e longo prazo problemas mais sérios como encoprese ou anurese detonada em diferentes situações emocionais (2). Por isso, observe, escute, converse e conheça seu filho profundamente; um desfralde na hora certa para seu filho só traz ganancias e vai lhe poupar muita dor de cabeça.

1- Mota, Denise M., & Barros, Aluisio J. D.. (2008). Treinamento esfincteriano: métodos, expectativas dos pais e morbidades associadas. Jornal de Pediatria84(1), 9-17. Retrieved August 27, 2015

2 – Anderson Jonas das Neves; Sandra Leal Calais . Effects of behavior management of fecal incontinence in an adolescent. Psicol. cienc. prof. vol.32 no.3 Brasília 2012

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