Crescemos em uma cultura que entende que educar as crianças é fazer com que elas façam o que precisa ser feito de qualquer forma, mesmo que isto signifique fazer uso de violência (física ou psicológica), confundimos educação com autoritarismo. “Você faz porque eu estou mandando, porque eu quero, porque é preciso, e ponto!”. Mas já passou o tempo em que bater em crianças era aceitável, não é mais (nunca deveria ter sido), pelo menos perante a lei.
Apesar da lei menino Bernardo (Lei n.° 13.010/2014) , ainda hoje é possível encontrar defensores do uso da palmada “educativa”, alegando que as crianças ficarão mal educadas fazendo o que elas quiserem. Há uma grande, enorme confusão, entre bater e educar. É importante deixar bem claro que Não bater não é sinônimo de não educar, pelo contrário, significa refletir sobre o tipo de educação que queremos dar e especialmente sobre o tipo de cidadão que queremos formar em nosso lar. Para você que ainda confunde não bater com não educar, ou que acha que criança que não apanha faz tudo o que quiser, então posso lhe informar que está confundindo educação sem violência com negligenciar a educação de nossos filhos, são duas coisas completamente diferentes. Está na hora de parar com essa confusão.

O caminho da educação sem violência não é fácil, pelo contrário, é trabalhoso, porém extremamente recompensador. A educação não violenta se serve das nossas capacidades emocionais; somos cobrados constantemente para aumentar a capacidade de reconhecer nossos próprios sentimentos, de nomear e expressar estes corretamente, para que assim possamos reconhecê-los naquela pessoinha ao nosso cuidado, mesmo quando na maior parte do tempo ela ainda não consegue reconhecê-los e nomeá-los, nosso papel será justamente ensina-a para que isto aconteça. Educar sem violência é uma escolha de educação que irá se tornar uma escolha por uma filosofia de vida abrangente, na qual ajudamos a criança a desenvolver sua consciência, guiando-a pelo caminho do autoconhecimento, desenvolvimento de critérios ético e moral, na relação com os espaços e as outros seres do mundo. Adotar a educação sem violência nos leva entender que estamos formando os seres humanos, os novos cidadãos do mundo.
A educação positiva é focada na formação de vínculo emocional positivo, é empática, se baseia no reconhecimento da criança como um ser humano completo e complexo, tendo o respeito pelas suas particularidades, o respeito pelo seu desenvolvimento neurofisiológico e o amor, como os principais pilares. O objetivo final, ao educar nossos filhos dessa maneira, é ajudar a criança desenvolver o autocontrole e a autodisciplina, construindo seu senso de certo e errado, através do vínculo positivo, não do medo de punição nem da expectativa de recompensa. Nossa esperança é que nossos filhos, no futuro, sejam capazes de escolher o seu caminho conscientemente, assumindo as consequências de suas escolhas, fazendo o que acham certo, legal, moral e eticamente.

Ao contrário do que muitos acreditam, educar usando os recursos da educação positiva não é deixar a criança fazer tudo o que quiser fazer, isto é permissividade, uma forma de negligencia. A criança precisa ser lembrada constantemente dos limites do mundo, dos perigos, das regras de convivência, das normas de higiene e saúde, etc. Mostrar para a criança como o mundo funciona pode deixá-la chateada, frustrada por não poder fazer algo que ela queria muito fazer, mas que à luz das normas de segurança, higiene, convivência social, é inadequado ou errado (pular da sacada, comer coisas do chão ou tomar o brinquedo do amigo p.e.), por isso educar sem violência, usando a educação positiva Não é educar sem choro, me atreveria a dizer que é justamente o contrário, uma criança que se sente segura ao expressar seus sentimentos irá expressar eles sempre que puder, usando as ferramenta que cognitiva e biologicamente possui – O CHORO – especialmente quando são bebês e crianças pequenas, em processo de desenvolvimento de outras formas de linguagem.
Não é raro que as crianças tenham os maiores acessos de choro com seus pai, sabe aquela criança que fica na avó sendo “um anjinho” e ao chegar a mãe começa a chorar por tudo? Não é por premeditação ou seletividade, é que a criança vai se sentir mais segura com quem possui uma forte conexão emocional, aquela pessoa que tem certeza irá reconhecer seus sentimentos. Garanto que crianças educadas com disciplina positiva serão felizes, apenas nos lembremos de que ser feliz e viver sorridente não é a mesma coisa, somos muito mais felizes quando sabemos que podemos de nos expressar, até mesmo quando estamos tristes ou chateados.
Educar sem violência também não é fazer que a criança faça tudo o que nós queremos ignorando suas capacidades e necessidades, através de prêmios ou castigos, isto é behaviorismo. Ao fixar comportamentos desejados através de presentes físicos ou emocionais (elogios desmedidos p.e.), estamos desestimulando o uso da consciência, a criança faz porque vai ganhar um presente ou evitar um castigo, está sendo guiada apenas pelo prazer ou medo, não porque entende e reconhece que aquela ação boa ou má vai ter uma consequência lógica que afetará ela ou seus semelhantes. Essa é uma forma de autoritarismo, não se diferencia em quase nada do velho “você vai fazer porque eu sou sua mãe/pai/professor e estou mandando”.

Sem querer desanimar alguém aí, mas querendo que muitas mães e pais que conheço caiam na real, vou lhes contar meus caros: Educar sem usar a violência como recurso, não é tarefa fácil, é muito muito difícil, às vezes cansativo. Talvez a parte mais difícil seja nos conhecer e reconhecer, nos aceitar com todas nossas qualidades e defeitos, tomar consciência de nossos pontos sensíveis e ficar vigiantes sobre eles constantemente, reconhecer até mesmo para nossos filhos que não somos perfeitos. Através desse autoconhecimento conseguiremos reconhecer as particularidades em nossos pequenos já que potencializamos a nossa capacidade empática, seremos realmente capazes de reconhecer o que o outro sente. A violência está presente em nós, no ambiente, na sociedade, tomar consciência dela é primeiro passo para a controlar, e não permitir que esteja presente no cotidiano com nossos filhos.
O respeito é uma consequência desse reconhecimento da criança como um ser complexo em pleno desenvolvimento, se conhecemos nossos filhos saberemos o que podemos ou não esperar deles, quais são seus próprios limites físicos, pessoais, suas capacidades e potencialidades…… e o amor, bem esse nem precisa falar, depois de aprofundar no conhecimento dessa pessoinha não tem como não se apaixonar, ainda mais. O trabalho mais duro durante a educação positiva é tornar consciente o que fazemos quase de forma automática. Fazer dos pequenos desafios da rotina oportunidades de aprendizado. É difícil, cansa pensar e aplicar as consequências lógicas nas pequenas rebeldias do dia dia, algumas até passam batidas, outras merecem nosso olhar atento.
Cansa ter que repetir mil vezes a mesma explicação, o mesmo pedido, a mesma advertência de perigo, tem vezes que da vontade de jogar a toalha mesmo! Mas é justamente nessas horas que reconhecer nossas próprias limitações é necessário: um dia cansativo no trabalho, uma noite de sono ruim, a visita na casa de parentes que parece um desastre, uma situação no relacionamento do casal mal resolvida, entre outras, podem nos deixam suscetíveis às respostas impaciente e irascíveis com as crianças. Somos humanos! É normal, estamos formando humanos, nada mais normal que aceitar nossa própria humanidade.
Mas somos adultos, nós podemos e devemos resolver, se nós não tentarmos resolver, então quem o fará? Ao entrar nesse caminho da educação não violenta, buscando vinculo emocional positivo com nossos filhos, você passa por um processo de avaliação e mudança de muitas questões de sua própria vida, necessárias para ter melhor disposição no processo educativo e conseguir equilibrar a vida familiar.
Espero que esse texto seja a forcinha que precisa quem está batalhando por fazer diferente na criação de seus filhos, um incentivo em quem ainda quer criar coragem e mudar. Estamos precisando de mais senso de humanidade, respeito, empatia e amor no mundo, como pais e educadores temos em nossas mãos o futuro do mundo. Vamos mudar o mundo, começando por nós mesmos!
Dicas literárias para pais e educadores estudiosos:
Andreia C. K. Mortensen e Ligia Moreiras Sena. Educar sem violência: Criando filhos em palmadas. Papirus. 2014.
Daniel J. Siegel e Tina Pyne Bryson. O cérebro da Criança: 12 estrategias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar sua família a prosperar. 2011 (tradução ao português 2015 ). nVersos
Daniel J. Siegel e Tina Pyne Bryson. Disciplina sem drama: guia prático para ajudar na educação , desenvolvimento e comportamento de seus filhos. 2014 ( tradução ao português 2016). nVersos editora.
Elizabeth Pantley. Soluções para disciplina sem choro. M.Books. 2012.
Harvey Karp. A criança mais feliz do pedaço. Pandorga. 2012
John Gottman e Joan DeClaire. Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos. 1997 (tradução ao português 2001). Objetiva
Jane Nelsen. Disciplina positiva. 3 ed. Manole. 2015.
Precisando ajuda?
A consultoria Mães com Ciência pode ajudar na amamentação, sono, desmame, desfralde e educação positiva. Saiba como funciona aqui ou Agende uma consulta virtual aqui.
Texto original de Zioneth Garcia
Veja também:
Dez passos para começar aplicar a educação sem violência no seu lar
Entendendo as crises de choro ou “birras”
Você tem medo do choro de seu filho?
Passos para criar a rotina desenhada em casa
10 condutas que ajudam prevenir as crises de choro ou “birras” nas crianças
Nossa minha filhinha tem 3 anos ela conversa muito bem é bastante esperta tenho ela é um filho de 11 anos dois extremos todos querem serem exclusivos mas o que me deixa realmente triste é educar minha filha na palmada distância muito nossa relação.
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Tatiane, se está te deixando mal é porque realmente não é o caminho. Uma consultoria para educação positiva pode ajudar encontrar novas formas e se relacionar, colocando limites e regras para ela sem precisar de impor castigos.
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Olá tenho duas filhas uma de quatro e uma de três
Minha mais velha é muito imteligente mais feita por tudo se eu chamo ela ela grita chama todos de feiudo grita com a avó que pra estragar mais ainda mora conosco já tentei castigo não sa certo e quando tento conversar com ela é pior faz caretas emita quando falamos com ela …não obedece de forma nenhuma
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Ana é importante avaliar a linguagem que usamos com a criança. Ter certeza que vc está sendo clara. Lembre-se, vc é o adulto da relação. Então cabe a você a mudança. Tal vez uma consultoria de educação positiva possa ajudar. Fico a disposição
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como devo aplicar este metodo
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Ana o primeiro é começar o processo de autoconhecimento, e conhecimento de seu filho.Assim, poderá fazer mudanças conscientes nas respostas e comportamentos das crianças.
Sugeriria uma consultoria para educação positiva, onde poderá receber orientação de como começar o caminho da disciplina positiva de forma prática, em seu lar.
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Socorro !! Hoje estou aqui a procura de ajuda, mas sei que daqui um tempo irei agradecer, ta sofrido pra mim ter que dá uma palmada na maioria das vezes para meu filho que só tem apenas 2 anos e 08 meses obedecer, sinto que quando converso ele entende pois é muito inteligente e atento a tudo, mas quando começa a birra parece que ele fica cego,surdo e não me ouve falar principalmente se ele pegar nos gatos e em seguida meter a mão na boca.
Já não sei mais como agir,hoje tive uma crise de choro e educação violenta sei que não quero. Me ajudem !!
Grata.
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Olá Marta,
posso te ajudar através da consultoria de educação positiva. vou te enviar informações no email, se preferir pode me contatar no whatsapp 47 988213869
Att.
Zioneth Garcia
Consultora materna
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Cuido de crianças, inclusive tenho uma de 3 anos, está me dando muito trabalho, pois não consegue brincar, não divide nada com as outras crianças, converso muito com ela mas infelizmente não obtenho resultado nenhum, estou ficando preocupa. O que devo fazer? Me ajude por favor. Obrigada
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Olá Rita. Seria muito importante unir esforços com a família. Até mesmo para tentar descobrir o quê está acontecendo na vida da criança que a leva ter estes comportamentos.
Na escola, é importante acolher e explicar claramente a dinâmica de atividades. A repetição de orientações é muito importante nessa fase.
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