O sétimo princípio da Declaração Universal dos Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1959, estabelece que: toda criança tem direito ao lazer infantil. Mas o quê é lazer infantil? é ter aulas de natação, música, artes marciais, inglês, cinco vezes por semana? é ver TV quatro horas por dia? É ter acesso a brinquedos, praças, parques ? Não, esse lazer ao que se refere essa declaração é o direito de brincar, algo fundamental para a construção de uma infância digna.
O valor da brincadeira é inestimável para o desenvolvimento infantil. Brincar é essencial para o desenvolvimento das crianças, é um processo permanente de descoberta. A criança empilhando blocos, a que brinca com água e terra e a que mistura tintas coloridas, todas estão experimentando propriedades de materiais e leis da física: cores, texturas, rigidez, peso, são avaliados a cada tentativa de empilhar, misturar ou pintar, além de desenvolver sua motricidade. Uma criança brincando de casinha, de médico, dentista ou professora, está interpretando sua realidade, elaborando sentimentos trazidos de suas próprias vivências, compreendendo, praticando e interiorizando regras sociais e culturais.
Brincar é o mecanismo que as crianças usam para interpretar o mundo ao seu redor. Aprendem sobre os papéis sociais representando situações que observam e vivenciam nos locais que frequentam, definindo quem exerce cada papel dentro do seu faz de conta, como as pessoas envolvidas desempenham esse papel, e assumindo um papel dentro dessa rede de relações sociais de mentirinha. A criança aprende sobre papéis sociais e regras de convivência e através do seu faz de conta.
O brincar ressignifica espaços, trazendo novas formas de se relacionar com os ambientes. Aquele espaço vazio embaixo da mesa de jantar vira um forte, uma casinha, um centro de comando espacial. O olhar lúdico da criança vai além do óbvio, quando a espontaneidade da imaginação toma conta tudo é possível. É o local onde os sonhos alcançam a realidade, e assim a criança fugir a um mundo onde os problemas reais, do mundo dos adultos têm menor importância.
Brincar permite a criança conhecer seu corpo. Os desafios motores que o ambiente traz para a criança são superados através do brincar. Brincando ela explora seus limites, desenvolvendo o controle de suas habilidades motoras grosas (se sustentar, engatinhar, andar, correr, pular) e finas (segurar objetos, encaixar, pintar, amassar, desenhar). O movimento é essencial dentro da brincadeira, não existe brincar sem movimento, seja grande o pequeno.
Ao brincar a criança vai se apropriando de suas expressões culturais, mantendo e até mesmo resgatando tradições. Suas expressões culturais vão se refletir na estética que usa nas suas brincadeiras: cores, imagens, canções, características dos personagens. Enquanto brinca, está em construção de conceitos de beleza, fazendo a leitura do seu contexto sociocultural. A autoestima e auto aceitação começa alí, ao conseguir associar imagens e pessoas semelhantes a si mesma e os seus parentes aos papéis sociais que ela mais almeja dentro do faz de conta. Nesse sentido, escolher e oferecer às nossas crianças símbolos e personagens diversos, nós que encontramos identificação por semelhança física com ela, é essencial para a auto aceitação. Se a única boneca bonita é loira, branca de cabelos lisos, onde fica a beleza da criança preta ou parda, de cabelos cacheados ?
Brincar é a linguagem que a criança compreende, uma linguagem que adultos sabemos e podemos usar para ajudar a criança encarar os desafios de sua vida. Quando precisamos ajudar a criança a processar um sentimento ou uma situação. Trazer ao contexto da brincadeira é uma das melhores estratégias. No faz de conta, podemos recriar inúmeras vezes uma experiência, e ajudar a criança entender suas ações e sentimentos, através dos personagens do faz de conta, assimilando as consequências dessas ações e, possibilitando reflexão sobre suas escolhas. Costumo falar para as famílias que a mente da criança é como um solo fértil, quando apresentamos uma ideia nova estamos plantando uma sementinha que precisa ser regada constantemente através das conversas e brincadeiras para que a criança assimile novas regras ou combinados da família. É assim que o processo de desmame, dormir na sua caminha, desfralde, chegada de irmãos entre outras grandes mudanças na vida da criança podem ser trabalhadas.
Essa semana se celebra A Semana Mundial do Brincar (SMB), com o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre a importância do brincar e a essência da infância e acontece anualmente na semana em que se comemora o Dia Mundial do Brincar (28 de maio). Desde 2009, essa semana é promovida pela Aliança pela Infância, uma organização presente em mais de 40 países, que se encontra no Brasil desde 2001.
Nesse ao o tema da semana é “Confiar na força do brincar” . Aproveite para curtir as atividades nesse final de semana, aproveite a programação de atividades na sua região , visite o site da Aliança pela infância para saber quando e onde acontecem.
Referências
http://aliancapelainfancia.org.br/
http://aliancapelainfancia.org.br/participe-da-semana-mundial-do-brincar-2021/
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Texto original de Zioneth Garcia
Mães com Ciência 