Tenho visto várias interpretações “criativas” sobre o relatório da Academy Americam of pediatrics – AAP. Três ponto causam a maior polêmica. Em ordem de menção no relatório: amamentação, dormir junto ao bebê e o uso de chupeta. A amamentação é recomendada. Acordo com o informe técnico da AAP amamentação é associada com a redução do risco da morte súbita infantil ( Sudden infant death syndrome – SIDS). As evidências sugeriram que a manutenção do aleitamento materno exclusivo até seis meses aumenta o efeito protetor contra a morte súbita, e que seja direto do seio ou oferecendo o leite materno ordenhado, esse efeito aumenta com o tempo de exclusividade do leite materno na dieta do bebê. Qualquer tipo de aleitamento materno tem mostrado maior efeito protetor contra a morte súbita infantil que a não amamentação.

Dormir junto é recomendado pelo menos nos primeiros seis meses, mas se sugere a prática idealmente até um ano. Então dormir junto passou de ser um fator de risco para ser um fator protetor, graças à inclusão de novas variáveis nas análises. O destaque está nos arranjos que garantem a segurança, dormir ao lado MAS em superfícies separadas. Ou seja, colocar o bebê no seu berço, cama ou colchão ao lado da cama do casal, a distância entre elas pode ser 1m, 50 cm ou 0 cm. O importante é cada um ter o seu espaço, e esse espaço ser seguro, sem laços nem fitasem objetos que possam se soltar e parar sobre o rosto da criança, com lenços e cobertas bem presas, para que não possam se enrolar no bebê . Nada novo além do que os adeptos do Co-sleeping, colecho ou cama familiar defende em há décadas. Dormir juntinho seguindo normas básicas de segurança.
No mesmo documento aparece a recomendação de “considerar oferecer chupeta durante o tempo que o bebê dorme”. Mas fazem uma aclaração e um alerta para crianças amamentadas. A introdução de chupeta deve ser adiada até que a amamentação está firmemente estabelecida pelo menos. No documento reconhecem e alertam sobre os riscos para a amamentação que o bico artificial oferece. Mas devemos lembrar que estas são orientações gerais, incluindo também as crianças que não são amamentadas por qualquer razão, e é para esse casos que a AAP sugere que, para os bebés que não estão sendo diretamente amamentados (tomam fórmula infantil ou tem aleitamento materno fora do seio), se comece o uso de chupeta logo que desejado. Deixando mais claro ainda: crianças amamentadas não precisam de chupeta para prevenção da morte súbita, amamentar já é um fator de proteção.

Quero aproveitar essa oportunidade para deixar um alerta: Cuidado com a interpretação da tradução do resumo do artigo do jornal baseado na entrevista aos autores do artigo de interesse. Já brincou telefone sem fio? pois bem, é assim mesmo que acontece, o que chega até nós pode ser bem diferente do que realmente quer ser divulgado no âmbito científico. Critério deve ser nosso fiel companheiro quando lemos na internet.
A continuação as recomendações da AAP, em tradução livre. No fim do texto poderá encontrar o link para o relatório onde se concentram e explicam as evidências analisadas e o consenso de recomendações que gerou.

Recomendações de nível A: há evidências de boa qualidade para orientar os pais
- O bebê deve dormir de barriga para cima.
- Use uma superfície firme para dormir.
- A amamentação é fortemente recomendada.
- É recomendável compartilhar o quarto com a criança em uma superfície separada. Quarto compartilhado, com o bebê num berço ou cama ao lado da cama do casal pelo menos até 6 m.
- Manter objetos macios e roupas de cama soltas longe da área de sono do bebê.
- Considerar oferecer chupeta durante o tempo que o bebê dorme .
- Evitar a exposição ao fumo durante a gravidez e após o nascimento.
- Evitar o uso de álcool e drogas ilícitas durante a gravidez e após o nascimento.
- Evitar superaquecimento.
- As mulheres grávidas devem procurar e obter atendimento pré-natal regular.
- Os bebês devem ser imunizados de acordo com as recomendações da AAP e CDC (Centers for Disease Control and Prevention).
- Recomenda-se tempo de barriga para baixo supervisionado e acordado para facilitar o desenvolvimento e minimizar o desenvolvimento de plagiocefalia posicional. Os pais são incentivados colocar o bebê de bruços enquanto acordado e supervisionado por curtos períodos de tempo começando logo após a alta hospitalar, aumentando para pelo menos 15 a 30 min no total diário até as 7 semanas de idade.
- Não use monitores cardiorrespiratórios domésticos como estratégia para reduzir o risco de morte súbita infantil.
- Os prestadores de cuidados de saúde, os funcionários dos berçários, as UTI Neonatais e os prestadores de cuidados infantis devem apoiar, adotar as recomendações de redução de riscos de morte súbita infantil desde o nascimento.
- A mídia e os fabricantes devem seguir as diretrizes de sono seguro em suas mensagens e publicidade.
- Continuar as campanhas que incentivem o sono seguro para os bebês, concentrando-se em maneiras de reduzir o risco de todas as mortes de bebês relacionadas ao sono, incluindo morte súbita infantil, asfixia e outras mortes não intencionais.
Recomendações de nível B: existem evidências inconsistentes ou de qualidade limitada
- Evite o uso de dispositivos comerciais que sejam inconsistentes com as recomendações de sono seguro.
Recomendações de nível C: não há evidências diretas. A recomendação é baseada em consenso ou opinião de especialista ou série de casos para estudos de diagnóstico, tratamento, prevenção ou triagem.
- Continue a pesquisa e vigilância sobre os fatores de risco, causas e mecanismos fisiopatológicos da morte súbita infantil e outras mortes infantis relacionadas ao sono, com o objetivo final de eliminar completamente essas mortes.
- Não há evidências para recomendar o “swaddling” como estratégia para reduzir o risco de SMSI.
Referências
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*Texto original de Zioneth Garcia
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