Lidando com o refluxo gastroesofágico dos bebês e crianças

Quase todos os bebês têm episódios de refluxo gastroesofágico, ou seja, eles regurgitam (golfam) ou vomitam em algum momento do dia ou da noite. Mesmo normal, pode causar um sério desconforto e atrapalhar o descanso do bebê ou da criança.

O refluxo gastroesofágico é o retorno do conteúdo do estômago para o esófago. Isto acontece por um relaxamento espontâneo do esfíncter esofágico anterior, o músculo se abre, deixando que o conteúdo ácido do estômago retorne pelo esófago. Quando isto acontece de forma repetitiva pode levar à aparição de uma lesão crônica e repetida no esófago (esofagites), o que causa dor, desconforto e piora no funcionamento do esfíncter. 

O refluxo da maioria dos bebês é fisiológico, e vai passar naturalmente conforme crescem, mudam de postura e começam uma dieta com sólidos. A dieta líquida, a postura deitada e uma barriguinha em constante crescimento (onde os músculos,  incluindo o esfíncter estão mais relaxados) são algumas razões para este refluxo ser tão comum. Porém, é preciso se preocupar e procurar avaliação sem demora do pediatra ou gastropediatra, quando o bebê ou criança que regurgita muito apresenta baixo ganho de peso, anemia precoce,  irritabilidade e choro contínuo por horas, ou sintomas respiratórios como apneias sem explicação, chiado, tosse crônica mais persistente a noite, repetição de pneumonia, otite, faringite, laringite ou amigdalite. 

Vale ressaltar que o refluxo gastroesofágico pode ser apenas um sintoma de problemas mais complexos, como a hiperlactação ou mesmo a alergia alimentar. Nesse casos, o controle com medicamentos pode não ser suficiente para deter o problema. Sendo ainda mais importante o acompanhamento com o medico especialista.  

Como mãe já tive que lidar com duas crianças com refluxo gastroesofágico (sintoma da sua alergia alimentar), e atualmente com o refluxo de meu caçula. Então quero compartilhar algumas medidas posturais e comportamentais que tem me ajudado, e que sempre passo para frente para ajudar as famílias que lidam com as dificuldades no sono causadas pelo refluxo. Estas medidas ajudam aliviar o desconforto, e são complementares o tratamento orientado pelo médico. 

Foto por Creation Hill em Pexels.com

Medidas para lidar com o refluxo gastroesofágico em bebês e crianças. 

1- Dormir em postura elevada, inclinando o berço ou cama 30-45°. Use travesseiro anti refluxo ou eleve o colchão elevando a parte superior da cama usando um par de tijolos. Um travesseiro ou rolinho sob os joelhos, contra o bumbum pode evitar que escorregue cama abaixo. 

2- Evitar deitar logo após comer. Mantenha seu bebê numa postura mais verticalizada por um período de 15- 30 min depois da mamada, antes de lhe deitar. Em crianças maiorzinhas, dar um intervalo de 30min -1h entre a refeição e a soneca ou sono noturno é uma boa ideia. Não encare esse tempo de espera como tempo perdido, aproveite para conduzir um roteiro de descanso onde você pode ajudar seu bebê ou criança relaxar para embalar o sono mais fácil depois.  

3-Evitar longos períodos de jejum. O estômago vazio continua produzindo ácido, por isso, organize a rotina da criança para que tenha refeições constantemente, evitando que o seu estômago fique vazio. Refeições volumosas, deixando grandes intervalos entre elas aumentam a probabilidade do refluxo acontecer. É melhor comer refeições menores, e mais frequentes. Isto vale para bebês em aleitamento, alimentação complementar ou crianças desmamadas.    

Foto por Helena Lopes em Pexels.com

4-Evitar alimentos gordurosos, chocolates e cafeína. Se você amamenta, isto significa evitar o consumo excessivo desses alimentos. Se seu filho já come, então controle a dieta familiar para que esses alimentos não estejam presentes à mesa regularmente.

5- Evitar trocas de fralda ou movimentos intensos de pernas após se alimentar. Claro que tem vezes que é impossível evitar o cocô após a mamada, nesse casos troque a fralda rolado para os lados, sem levantar as pernas para cima, evite pressionar a barriguinha. Colocar uma inclinação no trocador também irá ajudar.  Nos casos de crianças maiores, evitar atividades físicas intensas logo após a refeição é ideal, tenham um tempinho de descanso prudente para permitir que o estômago seja, pelo menos parcialmente esvaziado. 

Lembre que o acompanhamento com o pediatra ou gastropediatra para realizar o adequado diagnóstico e tratamento é parte essencial do manejo do refluxo gastroesofágico.   

Referências

Ana Paula Santos Gumiero. Refluxo Gastroesofágico em Crianças.Em: Thelma B. Oliveira (Dra. Relva). 2012. O Livro da maternagem: para mães, pais, cuidadores e doulas. Schoba. Pag 496 – 498.

Carlos Gonzalez. Um presente para a vida toda. Guia de aleitamento materno. 2006, 2009 (tradução ao português 2019). Editora Timo. Pag. 334-335.

Rocksane C. Norton, Francisco J. Penna. 2000. Refluxo gastroesofágico. J. pediatr. (Rio J.).  76 (Supl.2): S218-224. http://www.jped.com.br/conteudo/00-76-s218/port.pdf

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Texto de Zioneth Garcia.

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