Sempre recomendo a conversa calma e as historias para ajudar a criança relaxar antes de dormir, o que vale tanto para as sonecas quanto para o sono da noite. Mas nem sempre temos acesso a livros, como viajar com uma biblioteca nas costas? ou fazer a soneca na casa da amiga sem filhos? Pois bem, há algum tempinho a Christiane Nóbrega escreveu esse ótimo o relato, cheio de dicas para a hora de contar historias sem livro, e merece ser resgatado.
Estou sem livro, ele quer uma história e agora?
por Christiane Nóbrega,
Aqui a cama compartilhada foi julgada. A pobre… sem nenhum direito de defesa. Condenamos a coitada, ela foi considerada culpada por bagunçar os horários de dormir das crias. Na prática, a sentença foi cumprida só com a transferência de cama, da nossa para as deles. Cada um deitava, alternadamente, na cama de uma cria e ficávamos por lá até pegarem no sono.
Foi um caos! Samuel se agita com música, Lelê se acalma. Elias cantava e Samuel queria dançar. A luz apagada e eles reclamando do escuro. Decidi contar histórias, mas sem acender a luz. Teriam de ser histórias da minha cabeça. Evidente! Lembrei-me das que ouvia na infância e comecei “Havia uma Dona Baratinha que queria se casar…”
– Mãe, mas por que ela queria casar? – foi a primeira interrupção. Determinada, expliquei e segui a história – “Dona Baratinha cantava pela vila uma canção que dizia quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha”.
-Mãe! Ela queria alguém que ia querer só o dinheiro dela? – mais uma fungada, uma explicação e segui sendo interrompida a cada pretendente. Para quem não conhece essa delícia de história, os pretendentes da Dona Baratinha são os mais diversos, de cavalo a cachorro, de bode a gato. Imaginem as indagações daqueles que estariam sendo ninados!

A Ana Maria Machado recontou esse clássico das histórias orais no livro “Dona Baratinha”, ilustrado por Maria Eugênia e publicado pela FTD.
Seguimos tentando, porque a gente não desiste nunca. Outro dia fui contar uma lenda que minha mãe contava e que eu sempre contei para o BH e para a Lelê, mas acho que para o Samuel foi a primeira vez. É uma lenda amazônica que fala do coelho que matou uma onça e fez uma flauta de seu osso. Pronto! Instalou-se o caos! Dessa vez o inquisidor foi Samuel:
– Mas, mãe! Por que a onça estava correndo atrás do coelho?
– Para se alimentar, Samuel.
– Mas ele *picisava* matar a onça? Não dava só *pa* correr? E por que a onça não come ração igual ao Loque (nosso labrador)? Vamos levar ração na *folesta*?
Vencida a explicação de que a onça está no topo da cadeia alimentar e que na floresta é assim, segui a história: “o coelho cata o osso da perna da onça, faz uma flauta e começa a tocar e cantar essa flauta que eu tô tocando foi a onça que matei…”.
– Mãe! Como toca *fauta* e canta ao mesmo tempo?
– Não sei Filho, é só uma história. Nas histórias tudo é possível. – E segui… “quando de repente, aparece outra onça e pergunta: – O que, seu coelho? Matou uma onça? O coelho nervoso responde que não, que verdade foi uma anta e a onça entendeu errado e segue cantando trocando de animais até hoje.”- Dessa lenda achei uma versão com jabuti nesse site

Em outros dias, contamos Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, algumas histórias da Bíblia… ou histórias inventadas mesmo e outras das nossas vidas.
Foi um delicioso passeio pela nossa infância e pela nossa tradição oral, que é tão rica. Quem não tem na memória uma história contada pelos pais, avós, professores ou até mesmo vista na TV? Pode ser de uma aventura na escola, de como foi o dia do nascimento da criança, de como conheceu o pai, de uma festa legal e até aquelas bem engraçadas que sempre que revemos os amigos de infância contamos.
E adivinhem só o resultado disso tudo? A cama compartilhada foi finalmente absolvida e todos voltaram para o nosso quarto, ao menos até agarrarem no sono e Elias transportá-los para suas camas. Além disso, vários pedidos das crianças:
– Mãe, conta uma história da sua cabeça?
Lindo relato! Me trouxe lembranças da minha infância, e da infância de meus irmãos, ouvindo e vendo meu pai contando e recitando poemas para nos fazer dormir. Muitas ideias surgiram por aqui, ansiosa para botar na prática essa noite. Espero que tenha trazido boas ideias por ai também!

Christiane Nóbrega é brasiliense e advogada. Mãe de três, todos com alergia alimentar. Diante das dificuldades e, sobretudo, da solidariedade que encontrou pelos caminhos da APLV, resolveu ajudar outras pessoas assim como fizeram com ela, e uma das formas que encontrou foi escrevendo e contando histórias. Tem três livros publicados: “Júlio, um dinossauro muito especial”, lançado em junho de 2016, e “A Branca de Leite” lançado em agosto de 2017 e “Fios” lançado em 2019. Adquira os livros da autora aqui
Não deixe de visitar o site https://christianenobrega.com.br/
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