O alojamento conjunto deveria ser a prática padrão nas maternidades no mundo todo, e é, de fato, um dos procedimentos essenciais na assistência humanizada ao parto e nascimento de crianças saudáveis. Mas você sabe o que significa realmente o alojamento conjunto e entende porque ele é importante para a saúde da recém mãe e seu recém-nascido?
Muitas pessoas acham que o alojamento conjunto do recém-nascido com sua mãe é apenas ficar no mesmo quarto, receber ele após um período no berçário (que pode variar de 30 minutos até 12 horas ou mais), enquanto sua mãe está na recuperação ou realizam os procedimentos de rotina da maternidade, mas não é, essa é uma concepção errada, que tem permitido que as maternidades demorem, desde há mais de 30 anos a adequação das suas instalações para garantir o alojamento conjunto de verdade.O alojamento conjunto existe para garantir que o bebê recém-nascido saudável e sua mãe recebam todos os benefícios do contato físico imediato e contínuo após o nascimento. O bebê que fica longe da sua mãe (ou pai) é privado de inúmeros benefícios que hoje sabemos ser essenciais para seu desenvolvimento emocional, físico e imunológico.
Por isso, quero simplificar sua vida lhe oferecendo 5 razões para que na maternidade, diga não ao berçário sem necessidade. E se você, assim como eu, já passou por essa experiência, então compartilhe com sua amiga gestante para que não aconteça com ela o mesmo.
5 Razões para dizer NÃO ao berçário na maternidade (se seu filho nascer saudável)
1- Garantir a sobrevivência imediata de seu recém nascido. O contato imediato após o nascimento, pele a pele, entre você e seu recém-nascido é um mecanismo insubstituível para garantir a sobrevivência de seu filho. No seu colo, no contato com sua pele, seu bebê será aquecido, estabilizando sua temperatura corporal e assim estabilizando lentamente sua frequência cardíaca e respiratória, enquanto baixam seus níveis de cortisol e outros marcadores de estresse (nascer é um trabalho extenuante e estressante). Qualquer procedimento realizado nos bebês recém-nascidos saudáveis ( colírio, vacinas, peso, etc) pode esperar, e quando realizado pode ser feito na sua presença ou no seu colo (caso das vacinas, por exemplo).Dessa forma o bebê não será exposto novamente de forma desnecessária a altos níveis de estresse.
2- Estimular o vínculo emocional com seu filho. Você esperou nove meses seu bebê mas é nesse pequeno instante no qual surge o primeiro olhar que deixamos uma marca permanente do seu cérebro, é o imprinting, impronta ou primeira impressão, presente na maioria de mamíferos da qual não somos a excepção. Esse primeiro contato é o que garante o reconhecimento, essa é minha mãe e esse é o meu filho. Mas não é apenas um olhar, como muitas vezes acontece nas maternidades, que mostram o bebê e levam imediatamente para realizar os procedimentos de rotina, esse primeiro contato precisa ser pleno, olhar, cheirar, segurar, sentir a pele e o calor corporal emanando entre as duas almas. Vários estudos têm mostrado como esse primeiro momento pode ser um fator determinante para a aceitação dos filhos (em mães que pretendem entregar para adoção), assim como um fator a considerar em casos de depressão pós-parto e problemas com a amamentação.
3- Formar a microbiota que acompanhará seu filho pelo resto da vida. Cada um de nós é um ecossistema ambulante, temos em nosso organismo milhares de seres microscópicos que, quando estão em equilíbrio com nosso organismo, fortalecem nosso sistema imunológico, nos protegem de micro-organismos prejudiciais e nos ajudam com algumas funções vitais (digestão, excreção, etc) . Quando esses micro-organismos estão em desequilíbrio, falamos em disbiose, uma situação que vários estudos relacionam com a aparição de quadros alérgicos e outro tipo de doenças adquiridas. Quando um bebê nasce, nasce como um habitat disponível para qualquer micro-organismo que entrar em contato com ele, começando a colonizar todos os epitélios: intestinal, estomacal, boca, dermes, etc. Existem três fontes primárias para a microbiota que coloniza o organismo do bebê recém-nascido saudável: Micro-organismos provenientes do canal vaginal durante o parto, micro-organismos da pele da mãe, obtidos através do primeiro contato pele a pele e do colostro consumido durante a primeira hora de vida. Quando permitimos que o nosso bebê vá ao berçário antes de entrar em contato com nosso corpo (mãe ou pai ou acompanhante) , estamos permitindo que uma série de organismos estranhos ao seu ambiente particular (o de seu lar) tenham a oportunidade de colonizar o organismo de seu filho, dando origem à primeira disbiose de seu pequeno, o que pode resultar em cólicas, dermatites, alergias mais para frente. (Recomendo assistir ao documentário Microbirth para ter uma boa visão sobre esse assunto)
4- Garantir a descida do colostro e amamentação. Após o parto, com a saída da placenta, os hormônios da mulher sofrem uma queda, permitindo que se elevem os níveis de prolactina para produzir o leite materno, o primeiro leite que o bebê irá receber é o colostro. Rico em gorduras, proteínas e agentes imunológicos ativos (micro-organismos e imunoglobulinas ativas). O primeiro contato com o bebê é essencial para facilitar o processo de estabelecimento da amamentação, mesmo que o bebê não mame nos primeiros minutos, o contato físico, o cheiro e a calma que esse momento oferece são um estímulo sem par para a descida do colostro. Muitas mulheres que são separadas do seu filho por longos períodos após o parto apresentam dificuldades para implementar a amamentação, demora na descida do leite (mesmo sendo parto normal). Para piorar, quando levam seu bebê ao berçário sem necessidade as chances dele receber leite artificial antes de chegar ao seu colo são altas, o que acaba atrapalhando a amamentação (como vai estimular corretamente seu peito o bebê satisfeito e sonolento?!) e o processo de formação da microbiota intestinal do seu pequeno, aumentando o risco de alergias, por exemplo.
5- Controlar a hemorragia pós parto. Quando colocam seu bebê no colo ou na sua barriga pela primeira vez assim que ele nasce, seu corpo sofre uma descarga enorme de ocitocina, o que ajuda terminar de expulsar a placenta e contrair o as paredes do útero para fechar os vasinhos que irrigavam a placenta. Quando o bebê permanece no colo e é colocado para mamar, a ocitocina continua sendo liberada na sua corrente sanguínea, mantendo as contrações uterinas constantes, e podendo até sentir uma leve cólica durante as primeiras mamadas. Adicionalmente essa ocitocina liberada durante o primeiro contato, favorece o estabelecimento do vínculo emocional (ocitocina é o hormônio do amor!).
Se você está gestante, lembre de colocar explicitamente no seu plano de parto que deseja que seu bebê fique com você O TEMPO TODO após o parto. Isto é, desde que sair da sua barriga (seja por parto vaginal ou cesárea), durante a recuperação, durante os procedimentos rotineiros para o recém nascido e na habitação. Caso por alguma razão você não consiga segurar seu bebê, o pai (ou acompanhante) pode e deve oferecer o mesmo conforto que você daria ao seu filho no seu colo (de preferência pele com pele). Lembre que acompanhante não é visita, é um direito garantido por lei.
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*Texto original de Zioneth Garcia
Veja também:
Guia básico de cuidados com o recém nascido
Cinco razões para dar colo ao recém nascido