Relato de Desmame natural do Nico

Já escutei algumas pessoas, profissionais inclusive, falar que desmame natural não existe. Pois bem,  hoje quero compartilhar com vocês a historia de desmame de minha amiga Thaiane.

 

Relato de Desmame natural do Nico

Por Thaiane S. Guerra Caetano

Não posso contar meu desmame sem comentar como foi o inicio de nossa amamentação.

O que posso dizer deste início é que não foi fácil, nada fácil.

Me preparei imensamente para o parto, e achava que depois de conquistada esta montanha estaria tranquila em minha vida como mãe, afinal não há desafio maior do que parir #sqn. Então assim, como muitas mulheres pouco me preparei para o pós parto, e após seu nascimento de um parto natural pregado no peito logo após nascer, cantei vitória, não acreditava que algo poderia dar errado. E deu. Quem quiser ler meu relato de amamentação completo está aqui.

Nico não conseguia ganhar peso, com 1 mês havia ganhado 100g, com 2 meses estava pesando 3200g, nasceu com 2820g,  eu tinha amigas com recém nascidos maiores que me filho com 2 meses, e ele nem era prematuro, nasceu com 41s3d.

Fui tomada pela dor e pelo fracasso de não conseguir amamentar, me sentia impotente, perdida e derrotada. Depois de tentar praticamente tudo, de ter procurado vários especialistas em amamentação, joguei a toalha e iniciei a relactação com fórmula infantil. E assim relaxei pois ele finalmente começou a ganhar peso, as dobrinhas começaram a aparecer. E ele começou a ganhar muito peso, mesmo mamando um volume muito pequeno de formula, ou seja, meu leite o alimentava mais, o medo, a insegurança, me cegavam, traziam ansiedade e me impediam de amamentar.

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Fiz de minha amamentação um martírio, eu era uma mulher que precisava produzir leite, e ele era um bebê que precisava ganhar peso, deixei partir os doces momentos da amamentação sem preocupação, aquela troca de olhar, o cheiro e o toque, e a mágica do leite acontece nestes pequenos momentos.

E o tempo foi passando e mantive a sonda de relactação até 1 ano e 3 meses, claramente não precisávamos dela, mas meu lado inseguro ainda precisava e me permiti esse tempo para curar meus medos. Quando curada a abandonamos, até mesmo porque ele já comia!  Porém, começamos um novo desafio, a pressão social para o desmame. Em nossa cultura a amamentação é benéfica até o sexto mês e após isso ela perde seus benefícios, o que é um grande engano. Infelizmente muitos pediatras e profissionais da saúde, sugerem o desmame precoce a tantas mulheres, mesmo a OMS recomendando que o aleitamento materno deve seguir por 2 anos ou MAIS, e o desmame natural na espécie humana quando não há outros artifícios como mamadeiras e chupetas ele normalmente ocorre por volta dos 7 anos de idade, parece absurdo não é? Para gente ver o que a cultura coloca em nossa cabeça.

E desde muito pequeno aceitei que meu filho mamaria pelo tempo em que estivesse bom pra nós dois. E assim foi. Nico seguiu crescendo e mamando muito, quando chegamos aos 2 anos de idade eu já me incomodava com algumas mamadas, me incomodava por não conseguir brincar com ele, meu lado bicho as vezes queria sumir, e pela primeira vez pensei em desmame. Comecei a notar varias amigas que amamentavam nesta mesma fase com o mesmos sentimentos, náusea e irritação eram os principais no momento de algumas mamadas, algumas desmamaram nessa fase, ok.

Eu sentia que por mais que eu quisesse por fim na amamentação neste período, ele ainda não estava pronto, mas percebi que ele sentia que eu não estava bem, então ele começou a distanciar as mamadas, passando a mamar mais a noite e menos durante o dia, e aquela sensação ruim foi passando, e voltamos a uma amamentação tranquila. E aí eu descobri a incrível delicia que é amamentar crianças maiores, a gente batia o maior papo na hora da mamada. Ele parava de mamar para me contar o que havia brincado na escola, enquanto eu conversava, ele grudava no peito, me olhava, sorria, fazia gracinha, comentava sobre o sabor do leite, apertava o peito pra ver o leite esguichar, abraçava o tetê, dizia que me amava. Sou muito, muito grata a vida por ter tido esta fantástica experiência.

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E assim ele foi crescendo, e cada vez mais as mamadas foram se distanciando e após os 3 anos raramente mamava durante o dia, preferia a noite pra relaxar antes de dormir. Isso não me impedia de viajar para congressos, fiz uma pós graduação neste período, e ele ficava bem quando eu não estava, e ficava bem quando eu estava, e assim seguimos nossa jornada.

Após os 3 anos de idade combinamos de não mamar fora de casa, as pessoas não conseguem respeitar e sequer compreender os reais sentidos da amamentação, e me chocava em ver a quantidade de mulheres e mães repletas de preconceito com um ato tão natural e puro. Valores sociais e culturais, enfiados na cabeça das pessoas, sem nenhum filtro, onde as regras são ditadas para todos, mesmo que para poucos estas regras se valham de sentido algum.

E assim mantivemos nossa amamentação entres nós dois, afinal só dizia respeito a nós. E ele foi crescendo e crescendo. E eu perguntava a ele quando ele iria parar de mamar, e ele dizia que deixaria de mamar aos 5 anos, quando o irmão dele estivesse a caminho. Cada vez mais ele se distanciava do peito, pulava um, dois, três dias sem mamar, depois voltava ao peito com saudade, depois passava alguns dias sem lembrar, e fomos assim por uns 2 anos até que ele completou 5 anos. Sim, 5 anos, o menino que escorregava pelo colo, que já contava na boca uma banguela e dois dentes permanentes, que sabe muito do universo, faz contas e me fala nome de vulcões que eu desconheço, sim este menino ainda precisava mamar no peito, ao mesmo tempo que estava descobrindo que não precisava mais.

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Não sei dizer como e quando foi sua ultima mamada no peito, de tão natural que foi este momento. Não me lembro, se perdeu em algum dia, sei que foi em algum dia de agosto aos 5 anos e 3 meses. Quando me dei conta de que ele não mamava mais, descobri que seu irmão(a) estava a caminho, como ele havia profetizado há alguns anos atrás. Me tomei de um sentimento tão grande, de uma sensibilidade tão avassaladora que só nossa história pode contar. O amor pelo peito continua, pega, faz carinho, e diz ao irmão que mamar é bom.

O que eu aprendi com a nossa história, é que cada mãe e cada bebê merece ter seu tempo. Não acho que todos os binômios precisam de 5 anos para finalizar esta fase, mas acredito que este tempo único diz respeito a cada um. O preconceito com a mulher que amamenta os grandinhos é forte, e não precisamos disso, alias o preconceito de qualquer forma é um retrocesso moral, não seja essa pessoa que fala sem pensar.

O leite materno é saudável pelo tempo em que ele estiver sendo utilizado, suas propriedades nutricionais não perdem efeito, além do mais quanto menor o volume de leite a ser produzido mais concentrado ele fica. Não tive problema nenhum com os seios, não fiquei com as mamas cheias de leite, e nem precisei acompanhar meu filho chorando desesperado porque ele precisava do peito sem estar emocionalmente desmamado, foi tão natural que os nossos corpos simplesmente adormeceram para nossa amamentação, sem deixar rastros fisicos ou emocionais, além das muitas lembranças e historias pra contar. Agora com o outro bebê não sei qual sera o nosso tempo, mas se estivermos bem estou pronta pra mais 5 anos de amamentação. 🙂

E quando me perguntam como dei conta de amamentar por tanto tempo, sinceramente eu não sei, acho que é por não seguir regras, a vida precisa de fluidez, simplesmente não apego a questões cronológicas, vivo a vida com prazer e reverencio cada etapa.

Beijo grande

Texto de Thaiane Guerra Caetano , escrito originalmente para Geração Mãe.

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Thaiane S. Guerra Caetano
Mãe do Nico e do Henrique
Enfermeira Obstetra atuante no Instituto Geração Mãe
Pós graduanda em Medicina Tradicional Chinesa
Especialista em Urgência Emergência e Terapia Intensiva
Formada em Hipnose Clínica
Consultora em Aleitamento Materno e Babywearing.

Atendimento Instituto Geração Mae:  Av. California, 678 – Ribeirão Preto / SP. Tel: (16) 3236-7655

 

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4 comentários

  1. Meu Deus, que linda história Thaiane, me emocionei muito. Uma história linda de amor e respeito mútuo… Minha filha Sophia tem 3 anos e 7 meses e só mama a noite é em casa, realmente é como vc descreveu, ela conversa, conta casos da escolinha durante as mamadas, é mto lindo! Fiquei feliz ao ler seu relato pois as pessoas não entendem o que é isso é o respeito que deve existir . É uma decisão entre mãe e filho. Agradeço pela sua história, e a Sophia vai continuar mandando até o dia que ela quiser e parar naturalmente. Bjs e Deus abençoe vc é sua família

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  2. Linda essa história, me trouxe uma paz profunda, exatamente o que eu precisava, porque mesmo com um bebê pequeno de 1ano e meses meses as pessoas perguntam se eu ainda amamento e precisava confirmar o que meu coração diz que não existe uma data ou idade que precisamos desmamar. Obrigada por este relato

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