5 estratégias para estabelecer a comunicação com crianças pequenas

 A comunicação é a base de qualquer bom relacionamento, e a relação com nossos filhos e filhas não é exceção. Nesse texto trago algumas estratégias de comunicação que ajudarão lidar com diversas situações, desde começar estabelecer regras básicas de segurança e convivência até corrigir comportamentos inadequados e desafiadores. As primeiras três estratégias podem ser usadas com crianças a partir de um ano, as ultimas dois são melhor aproveitadas por crianças maiores de 2 anos. 

1- Estabeleça expectativas claras sobre sua criança. O quê ela tem ou não capacidade de oferecer? Entender a fase de desenvolvimento é essencial para conseguir criar uma linguagem que a criança entenda. É importante lembrar que os comportamentos da criança são resposta aos comportamentos que os adultos têm como ela, o exemplo, assim como as atitudes (e predisposição) dos cuidadores, tem uma função determinante  para o comportamento das crianças na primeira infância. As crianças estão em pleno processo de construção dos mecanismos de regulação emocional, sua maior necessidade é obter atenção, sem importar se tratasse de atenção positiva ou negativa, e usaram os recursos que tem para conseguir.   Veja aqui algumas características do cérebro infantil que ajudarão entender o seu filho

Entender que crianças menores de 4 anos não conseguem guardar muitas instruções ao mesmo tempo, evitará que você peça sequências de pedidos longos ou pedidos de ações complexas que a criança não conseguirá fazer, deixando você e ela frustrados. Um exemplo comum que recebo é a queixa de não organizar os brinquedos quando solicitado. Vamos pensar sobre isto. Organizar os brinquedos é uma ação complexa, que pode ser desmembrada em várias pequenas ações: recolher os carrinhos, sentar as pelúcias, juntas os blocos de montar, etc… A criança de 2-4 anos olhará para a bagunça e não saberá por onde começar, ficando imóvel ou desistindo da tarefa antes mesmo de começar. Mas se você, tem claro que que o cérebro da criança não consegue guardar tantas pequenas ações ao mesmo tempo, que a iniciativa da ação lhe pertence ao adulto, e que a criança responde melhor quando envolvemos brincadeiras, poderá ter uma estratégia para guiar seu filho na tarefa de guardar os brinquedos passo a passo. No lugar de dizer “vai recolher os brinquedos”, você pode usar  um “vamos ver quem recolhe os carrinhos na caixa mais rápido, você ou eu ”  “ agora, vamos colocar as bonecas para dormir juntinhas no cesto, dando beijinho de boa noite para cada uma” 

Antonio – Imagem de Zioneth Garcia acervo pessoal

2- Conversa clara e sincera. Expliquem claramente para a criança  a preocupação sobre seu comportamento, e a necessidade fazer várias mudanças para lhe ajudar a garantir o seu bem estar e melhorar a convivência da família. As mudanças devem ficar estabelecidas  também como uma demanda e necessidade dos pais, explicando os porquês das mudanças e o processo que usarão para que aconteçam. “Está acontecendo  —- , estamos nos sentindo —– precisamos que aconteça assim —— então vamos fazer —-”

Use essa estratégia sempre que houver uma mudança importante, por pequena que seja,  com criação de novas regras e combinados. 

Para crianças maiores de 3-4 anos, ao tempo que apresenta o problema, expondo seus sentimentos e as suas necessidades, pode também estimular pensar em uma solução para a situação, ouça as propostas, negociem e defina a solução mais aceitável para todos, acorde à realidade da família.   

3- Repetição, paciência, determinação e persistência. Evitem traçar metas temporais para as mudanças que precisam ser feitas, porém, tentem manter um ritmo constante, todos os dias conversar, lembrar os combinados, encorajar os comportamentos considerados adequados, e trabalhar as emoções e experiências do dia.  A memória permanente se forma a partir dos 3- 4 anos, é preciso muita repetição e disciplina por parte de pais e cuidadores para manter o comportamento da criança bem equilibrado com uma rotina estável, garantindo satisfação oportuna de todas as necessidades. Não existe nada óbvio com as crianças, é preciso lhes instruir repetitivamente. A repetição traz segurança para as crianças, elas gostam da previsibilidade, por isso pedem tantas vezes as mesmas músicas, os mesmos livros, as mesmas brincadeiras. É a previsibilidade que lhes oferece conforto. Mesmo após uma semana de conversas e repetições sobre alguma tarefa, o dia que você esquece de instruir a criança se perde na atividade, ficando insegura e mostrando um comportamento mais reativo, em consequência. Então, tenha presente que não basta umas dezenas de lembretes, é necessário muita, muita repetição.

Enquanto o cérebro está concentrado na aquisição de equilíbrio e aprimoramento do sistema neuromotor, qualquer instrução referente a regras de segurança, regras de convivência social ou de comportamento, serão literalmente deletadas na faxina que o cérebro faz enquanto dorme, a criança esquece e precisará que lhe sejam apresentadas novamente. Nos primeiros anos, a aprendizagem pede repetição. Demora cerca de 10-21 dias para estabelecer um comportamento novo como habitual. Pode ser cansativo para os adultos nos primeiros dias, mas para nós também vai se tornando habitual e deixa de ser uma carga mental, enquanto adultos nós habituamos falar, a criança se habitua ouvir. 

Maria Isabel – foto de Pedro Son

Estratégias para inserir em maiores de 2 anos

4- Recontando a própria história. É importante que a criança entenda que qualquer comportamento inadequado é uma fase temporária. Ela não “é”  definida pela forma que se comporta, apenas “está” passando por uma fase de aprendizagem. Evite colocar rótulos, a criança construí a sua autoimagem através do olhar do adulto, refletido nas ações e linguagem que usa (verbal e não verbal), os rótulos, até mesmo os considerados positivos criam uma cobrança intrínseca sobre o comportamento da criança, cria uma expectativa e predispõe a criança e os seus cuidadores, é comum ouvir definirem as crianças como “chorona”, “agressiva”, “sapeca”, “boazinha” , “ruim de comer”, “boa de garfo” ou lhe atribuir características fixas como  “Não gosta de…” “só come …”. Lembre sempre que as crianças são pessoas em constante mudança, estão aprendendo, descobrindo o seu mundo interno e o mundo externo, de relações sociais e com seu ambiente. 

Quando existe uma mudança de comportamento muito grande que precisa correção, ajuda lembrar junto da criança a fase na que o seu comportamento era adequado, escutando relatos de  como era seu comportamento, talvez se vendo em fotos ou ouvindo anedotas,  enfatizando no como tem mudado com o tempo e o crescimento, mostrando que ela está sempre mudando, e que assim como uma vez já mudou, poderá mudar de novo, isto ajudará desconstruir qualquer rótulo que possa ter sido incorporado, para um entendimento de estar em processo de mudança. 

5- Re-significando experiências, refletindo sobre suas escolhas e ações. Experiências novas, que trazem novos desafios para o comportamento, podem ser interessantes de serem trabalhadas, explorando os sentimentos bons e ruins que possam ter sido gerados. Podem ser tanto experiências positivas ou negativas. Faça a criança relatar o acontecimento,  pode ser com ela mesma ou com os outros (as outras crianças da escola, p. e),  e caso ela não fale ainda, lhe ajude iniciando a narrativa, trazendo a sua percepção da situação. Questione sobre os sentimentos gerados durante a experiência, se foram bons, encoraje a repetição em uma nova oportunidade. Se foram sentimentos ruins, analisem como poderia ter sido melhor.  Ajude a criança a projetar na sua mente as situações, como num filme, e mudar o desfeito a vontade, reescrever a história  “e se…”, dessa forma poderá explorar as possíveis consequências de suas escolhas.  Refletir sobre sua ações é um passo importante para compreender que as ações e escolhas geram consequências.  

Escolha momentos calmos, use as brincadeiras de desenhar ou construir, para ocupar as mãos, isto ajudará ter a criança num estado mental mais calmo  e assim melhorar a comunicação. 

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Texto original de Zioneth Garcia

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