A cólica é uma das maiores preocupações dos pais de recém nascidos e bebês até 3 meses de idade. Sendo considerada uma das principais causas de choro excessivo nos bebês. As cólicas podem ser descritas como episódios recorrentes de choro, onde o bebê se apresenta inquieto e irritado sem nenhuma causa óbvia , o que deixa os pais muito preocupados. Na cólica não há outros sintomas, é só o comportamento do bebê que pode ser identificado como desconforto ou dor, por vezes, visível nas expressões no seu rosto. O diagnóstico de cólica é por descarte de todas as outras possíveis causas de choro: fome, higiene, sono, colo.
Na busca de causas e soluções, muitos apontam a alimentação materna como a responsável pelo desconforto do bebê. Por isso, compartilho com vocês um texto esclarecedor de Monica Lopes de Assunção, nutricionista materno infantil e Dra em Saúde da Criança.

O quê a mãe come pode causar cólica no bebê?
É importante lembrar que a cólica no recém nascido não é uma “obrigatoriedade”, ela ocorre em 20 – 30% dos bebês. Para a alimentação materna provocar cólica no bebê seria necessário que o alimento ou algum de seus componentes atravesse o processo de digestão, enfrentando os sucos gástricos que degradam a maioria de nutrientes, para chegar ao intestino materno, absorvido e transportado até a glândula mamária para posteriormente ser excretado no leite materno e chegar à barriguinha do bebê onde causaria a cólica.
Uma dúvida muito comum entre as mamães e que por vezes leva a exclusões desnecessárias ou substituições indevidas é a orientação equivocada que muitas recebem para substituir leite e derivados lácteos por versões lac free (isentas de lactose). A alegação, sem respaldo científico, é que a lactose desses produtos passaria para o leite da mãe e provocaria cólica no bebê.
Independente se a mãe consome ou não produtos com lactose e até mesmo nos casos onde ela é vegetariana estrita e não consome nada de produto animal, nem mesmo o leite como acontece em alguns casos, ela vai apresentar lactose em seu leite; pois esse açúcar é o principal nutriente do leite humano (67 – 70%). Logo a utilização de produtos lacfree só se justifica em situações onde a mãe apresenta intolerância à lactose e não faz acompanhamento nutricional para utilização de enzimas/probióticos.
E qual seria a relação da lactose com a cólica ? No recém nascido, sobretudo prematuros, existe uma menor habilidade em digerir a lactose nos primeiros dias. Poderíamos até denominar de uma “intolerância parcial à lactose”, isso se deve ao fato de que essa enzima é produzida mediante a oferta láctea. Afinal, nosso corpo só produz o que precisamos. Como essa produção não ocorre de uma hora para outra, é possível que alguns bebês sintam esse desconforto, com as mães apreensivas com a barriguinha com gases. Que é ocasionada pela lactose que nessa idade, ainda não foi totalmente degradadas absorvida.

Alguns alimentos que as mães têm dúvidas sobre sua associação com cólica ou que podem fazer mal ao bebê são: Chocolate, Refrigerante, Café, Leite,Feijão, repolho. Para esses alimentos temos os seguintes compostos e seus possíveis mecanismos de ação:
Chocolate: contém teobromina, composto que passa pelo leite e podem provocar excitabilidade se consumido em grande quantidade.
Refrigerante: contém cafeína (responsável por um maior quadro de excitabilidade/agitação) além de inúmeros aditivos que podem passar para o leite materno. Por se tratar de um produto não alimentício e ultraprocessado não se recomenda o consumo na lactação.
Café: contém cafeína, responsável por um maior quadro de excitabilidade/agitação, quando em excesso pode ocasionar efeito colateral indesejável. Contudo, em baixas doses, 1/2 xícara pequena de café coado e fraco, pode ser utilizado caso a mãe sinta necessidade de consumir essa bebida.

Feijão, repolho, brócolis, couve flor: contém em sua composição rafinose e estaquiose, responsáveis por desconforto por não serem digeridos no trato gastrointestinal, já que não temos as enzimas responsáveis pela degradação deste carboidrato, que ao alcançar o intestino grosso passa ser fermentado pela microbiota intestinal, produzindo gases e levando ao desconforto materno, mas sem passagem destes açúcares ou dos gases produzidos pelo intestino da mãe para o leite materno. Recomenda-se para minimizar o desconforto, o remolho dos grãos em água mineral com no mínimo 8 horas, com no mínimo 3 trocas.
Leite de vaca e derivados: contém várias proteínas, que embora degradadas, frações de aminoácidos “peptídeos” são absorvidos e chegam no leite materno, sem comprovação “científica” com cólica infantil, exceto nos casos onde a criança desenvolve alergia a proteína do leite de vaca ou apresenta uma “intolerância” – algo ainda muito novo e com dificuldades de comprovação, exceto pelo teste terapêutico de exclusão deste alimento da dieta materna. Ressaltando que em situações de desconforto infantil quando a mãe consome leite de vaca e derivados a exclusão é de todos os lácteos, pois queijo contém muito mais proteína do que o leite de vaca.
. . . . .
Resumindo, não há razões para sair fazendo restrições na dieta da mulher que amamenta apenas para evitar a cólica. Os gases e cólicas de seu recém nascido podem não ser consequência direta do que a mãe come, nas primeiras semana de vida há uma boa probabilidade que estejam associados ao processo de amadurecimento gastrointestinal e estabelecimento da amamentação, alguns compostos presentes em certos alimentos podem causar inquietação e irritabilidades, porém, só quando consumidos de forma excessiva. Um chocolate ao leite (50-100 gr) vai ter pouquíssima quantidade de teobromina, uma cafezinho (80 mL) vai ter pouquíssima quantidade de cafeína, com o que seu efeito real no organismo da mãe e do bebê vai ser muito pequeno. Feijão, brócolis, couve flor, repolho, podem causar desconforto materno, mas sem passagem através do leite materno não terão efeito direto sobre o bebê.
Monica Lopes de Assunção

Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Alagoas, com Mestrado em Nutrição Humana pelo Programa de Pós Graduação em Nutrição da UFAL e Doutorado em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal de Pernambuco. Professora Adjunta da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas e Pesquisadora do Laboratório de Nutrição Básica e Aplicada.
Instagram @monica_lopesassuncao
Veja também