A comunicação é a base de qualquer bom relacionamento. Devemos escolher com cuidado a mensagem que queremos transmitir e usar uma linguagem compreensível por nosso interlocutor. Se falamos em idiomas diferentes haverá falhas na comunicação. Na relação com as crianças não é diferente, devemos estabelecer a linguagem mais adequada (verbal, não verbal, visual) e considerar as particularidades da sua fase de desenvolvimento (veja 5 características do cérebro infantil a ter presentes na hora da comunicação).
Mesmo não verbalizadas, as crianças se comunicam constantemente, através de seu comportamento e interação com os adultos, o choro, os pedidos de mamada, pedidos de chupeta, e comportamentos que consideramos inadequados ou desafiadores podem ser avaliados desde a ótica de comunicação de necessidades a serem satisfeitas.
Entre 8-9 meses de vida os bebês já conseguem identificar pequenos comandos, começam a identificar cada vez mais palavras, dando respostas evidentes. Agua, papa, mama, Tetê, colo, chão… eventualmente começam a vocalizar pequenas silabas, e mesmo sem pronunciar palavras completas, aos 12 meses o repertorio de palavras compreendidas pode superar as 800 palavras facilmente. Costumo falar que nessa fase eles tem audição 360 graus, bastante compreensão, porém precisam muita ajuda para interpretar as informações de forma adequada.
A seguir algumas ferramentas para melhorar a comunicação com as crianças em varias fase de desenvolvimento, elas são acumulativas, ou seja, introduzir uma nova ferramenta não significa que as outras devem ser deixadas de lado.

1-Conversas orientadoras constantes
Desde sempre, mas é mais evidente e útil a partir dos 8-10 meses, na fase que começam engatinhar e explorar mais seu ambiente. Explique a rotina para a criança tempo todo, deixando claro o que vai fazer, orientando e adiantando duas ou três atividades à frente. Foque em deixar claro o que se espera do comportamento. Não esqueça de pontuar de forma explícita: Vamos fazer —— quero que você faça —— . Estabeleça as regras da atividade a seguir: – serão dois historinhas e então desligamos a luz- , – pode levar esse ou aquele brinquedo no banho – . Evite usar conceitos abstratos como se comportar bem ou mal, ser obediente, crianças pequenas ainda não entendem bem esses conceitos. Prefira deixar claramente explicado o que é e não é aceitável no comportamento. – Sem chorar, sem gritos, andar da mão -. Use frases curtas de 2-3 palavras para formar comandos curtos, que possam ser repetitivos. Lembre de usar um tom de voz afirmativo e assertivo, que transmite firmeza e segurança. Evite usar tom de pergunta, para não criar a falsa ilusão de escolha. Ofereça escolhas onde exista realmente a possibilidade de escolher: qual dessas DUAS roupas? qual desses DOIS brinquedos? Limite o universo de escolha e limite o tempo para a criança tomar sua decisão.
2- Uso de avisos antes da mudança de atividades
Mudar de atividade de forma abrupta podem deixar as crianças incomodadas, nervosas ou resistentes. Crianças em geral não gostam de mudanças muito bruscas. Por isso, desde sempre dar vários avisos permitindo que a criança se prepare para a mudança de atividade ajuda atenuar a resistência, até mesmo para as atividades problemáticas. A partir de 8 meses, quando começam prestar mais atenção às instruções, inserir avisos antecipando a mudança de atividade pode atenuar bastante as lutas e resistências. Um aviso 10 min antes, outro 5 minutos antes, outro aos 3 minutos, fazendo um convite para finalizar e fazer a seguinte atividade e finalmente conduzindo à outra atividade. Se você conduz a mudança brincando, as chances de seguir sem resistência são maiores. Mas caso não aceite de bom agrado a troca de atividade, informe que é necessário fazer e leve para a execução da atividade. Se houver choro, valide o sentimento e permita que se expresse, sem deixar de fazer o que precisa ser feito.
Para crianças maiores de dois anos, o uso de avisos sonoros, como um alarme no celular ou relógio para avisar da proximidade da mudança de atividade, aliado ao pedido de colaboração da criança para atender esses avisos, pode fazer se sentir mais ativa e dona da sua rotina, colocando-a em uma posição mais autônoma e colaborativa.
Um alarme na hora de levantar, como uma música ou som de passarinhos no celular, pode ser usado como marcador da hora de levantar, especialmente quando há necessidade de cumprir horários sociais (escola / trabalho) e também na hora do desmame noturno (do seio ou da mamadeira), para reforçar os combinados que faz com a mãe.

3- Rotina visual.
Pode ser usada a partir dos 18 meses. Ela reforça as informações que trazemos verbalmente através da ligação com algo mais concreto, as imagens em uma linha temporal. A rotina visual é uma ferramenta não apenas para a criança, mas para a família e cuidadores, ela permite sincronizar e manter coesa a abordagem de todos os envolvidos. Organize desenhos, fotos ou imagens em uma linha, dessa forma facilita para a criança a compreensão de ter uma ordem sequencial nas suas atividade. Nessa rotina deve considerar as coisas que as crianças adora fazer, e aquelas que não gosta muito fazer mas deve fazer mesmo assim. Aquilo que precisa ser feito, deve ir antes das atividades que gosta de fazer. A expectativa e o prazer da atividade seguinte é o incentivo para cumprir aquelas atividades desagradáveis rapidamente. Durante as atividades problemáticas vai conversando sobre as opções da atividade a seguir (aquela legal).
4- Quadro de regras
A partir dos dois anos, uma vez estão familiarizados com rotinas visuais. Podem ser apresentadas de forma lúdica, com desenhos ou imagens representativas, 3 a 4 regras simples, em um quadro visível para todos, de forma que possam estar sempre presentes para serem reforçados aqueles comportamento desafiadores da fase. Ao apresentar essas regras, conversamos com a criança de forma que a convidamos a refletir perguntando os comportamentos adequados ou não no contexto problema, deixando estabelecidas as consequências da quebra dessas regras para a família ou a sua rotina. Por exemplo: fazer xixi e cocô no banheiro pode ser uma regra trazida na fase do desfralde, trazendo como consequência a necessidade de parar de brincar para se limpar quando fizer na roupa.

5- Brincar, encenar e criar
Criar historinhas para fazer encenação na hora de brincar ou de dormir para reforçar os conceitos chaves que precisam ser trabalhados. Recrie situações vivenciadas na história ou comportamento problema, usando outro nome para o personagem fictício, mostrando como os outros personagens respondem, como se sentem. Conte como esse personagem aprende e consegue mudar o comportamento, e como isto muda a resposta dos outros personagens ao redor. Brincar é uma ferramenta que a criança usa naturalmente para interpretar o seu ambientes, e podemos aproveitar para introduzir as demandas familiares e sociais ao respeito do comportamento. Por exemplo, brincado de dia e noite podemos firmar aos comportamentos associados ao dia e à noite, trazendo a demanda de descanso noturno da família. Brincando de comidinha podemos reforçar a importância da alimentação adequada, brincado de escolinha podemos corrigir comportamentos sociais considerados inadequados no trato com outras crianças, etc.
Para as crianças maiores de 3 anos, que já se interessam por uso de materiais escolares, as atividades artísticas também são uma fermenta excelente. Desenhar, colorir, amassar, e em gera explorar a criatividade através de materiais manipulados diretamente pela criança, ajudam aproximar e estabilizar o seu temperamento no dia dia, uma vez que se exercita o autocontrole, a paciência e a concentração. Desenhar, pintar, usar massinha são atividades que podem ser inseridas cotidianamente nessa fase. e podem ser aproveitadas nas saídas por exemplo, ao jantar fora, ao visitar casa de outras pessoas, ao viajar longas distancias em avião.
6- Um cantinho para se acalmar
Para crianças maiores de 3 anos, ou que já estão apresentando níveis de consciência compatíveis a está fase, um espaço da casa destinado para se acalmar pode ser interessante. Organizem um cantinho que pode ser no seu quarto ou um ambiente neutro, onde possa ter liberdade de extravasar sentimentos explosivos sem correr risco de maltratar ninguém, ou mesmo possa escolher uma atividade prazerosa para se acalmar. Organize o cantinho junto com a criança, explicando o seu uso. Pode colocar almofadas e objetos que lhe ajudem se acalmar (pelúcias, livros sobre raiva, lâmpada, garrafa da calma, brinquedo teimosinho para bater, bola antiestresse, brinquedos sensoriais, etc). Em situações nas quais a criança se mostrar extremamente nervosa ou até mesmo agressiva, você poderá afastar a criança do ambiente problema, indo juntos até o cantinho da calma, sem limite de tempo, permanecendo do lado para lhe auxiliar no processo de regulação emocional, abraçando ou apenas permanecendo do lado enquanto a criança se acalma.
Desenvolva uma técnica para se acalmar que possa usar dentro e fora de casa. Use e ensine-a para criança também. Existem varias técnicas, vale a pena testar e escolher um sistema que acolha a personalidade e temperamento da criança . Por exemplo, ver sua imagem no espelho, segurar a mão, beber água, respirar contando até 10, cheira florzinha/assopra velinha. Uma vez escolhido o melhor sistema para vocês , passe a usar a sempre que for preciso ir ao cantinho da calma.
O cantinho da calma não é uma punição ou castigo, seu objetivo é justamente permitir que a criança se afaste dos gatilhos de raiva e frustração, para que se acalme com a ajuda do adulto, para então juntos refletir sobre o comportamento inadequado (conversando ou brincando).

7- Foque nas atitudes e comportamentos bons mais que nos ruins
Elogie em público e reprenda em particular! Dar mais atenção aos comportamentos bons do que aos comportamentos inadequados incentiva a criança manter a atenção de forma positiva. É muito comum as mães receber as queixas sobre o comportamento ruim na porta da escola, na hora da saída, e então esse ser o tema central na conversa da hora do jantar familiar. Pode ser um desafio mental para pais, mães e educadores, requer quebrar com uma serie de ideias preconcebidas sobre educação. Deixar a criança constrangida, envergonhada ou com medo de punição não fará que ela consiga maior controle sobre seu agir impulsivo. No lugar de contar os erros tentem ressaltar as coisas boas, por mais pequenas que sejam “hoje ele respeito a filha do escorrega direitinho” “ela gostou bastante de pintar com dedos” .
Ao longo do dia, enfatizar os bons comportamentos, mesmo que pequenos, mostra à criança que pode ganhar atenção valiosa quando o comportamento é adequado. Frases curtas, no momentos certo podem ser o incentivo para continuar pelo bom caminho. “gostei de ver que —– ” “percebi que ficou com raiva e escolheu não bater, muito bom!” “hoje foi um dia corrido, que bom que você teve paciência” “é muito bom quando você escuta o que peço”.
A noite, um tempinho de conversa calma, antes de dormir é um momento especial para falar sobre o dia de vocês, ressaltando os comportamentos positivos (mesmo que os julgue pequenos) que teve durante o dia, agradeça por o bom comportamento com beijos, abraços e carícias.
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Texto original de Zioneth Garcia