Sono e desmame: Relato de caso

O caso que quero compartilhar hoje é uma situação bem comum. A mãe conseguiu postergar a volta ao trabalho até umas semanas após os 6 meses, me procurou quando seu bebê estava com 7 meses e meio, fazia um mês tinha começado trabalhar, e desde então o bebê que dormia em seu berço a noite toda com uma ou duas mamadas breves de madrugada, passou a dormir no meio dos pais já que a amamentação era praticamente contínua durante a noite, estava instaurado um ciclo de cansaço acumulado em mãe, pai e bebê que tinha trazido grandes conflitos na amamentação.  

A mãe estava orgulhosa de ter conseguido a amamentação exclusiva, tinha recebido sugestão de várias pessoas, incluídos alguns profissionais, de desmamar, já que o seio era o apontado como o culpado do sono ruim. No começo ela não aceitou a sugestão, mas após algumas tentativas por controlar a demanda noturna sem sucesso, o desmame se tornou uma alternativa mais forte. A situação estava insustentável, queria que o bebê voltasse dormir como era antes, acordando umas poucas vezes para mamar.

Foto por Dominika Roseclay em Pexels.com

Na avaliação a mãe relatava que a criança se alimentava muito bem, durante o dia aceitava bem outros alimentos e tomava apenas uma mamadeira de 120mL na tarde. Ficava com os avós, sem maiores problemas.  Já que a introdução alimentar foi um sucesso, a mãe não sentiu necessidade de armazenar leite materno. Sua rotina era muito corrida, pai e mãe levantavam cedo deixavam o bebê na casa da avó e iam trabalhar, a mãe vinha para o almoço e dava uma mamada no seio. A jornada de trabalho era longa, das 08 até às 18 hr, tempo no qual o bebê, de 7 meses, mamava no seio apenas uma vez e mais uma na mamadeira a tarde. Chegando em casa a noite por volta de 19:30 hs,  a correria continuava, com jantar e arrumações para o dia seguinte, assim a estratégia para garantir o descanso da mãe foi dormir junto ao bebê, porém não estava dando muito certo, o pai reclamava de sono leve por se sentir inseguro com o bebê no meio.  O bebê não tinha uma rotina estruturada na casa da avó, as sonecas poderiam acontecer em qualquer momento, no colo, no carrinho até mesmo no chão enquanto brincava, não tinham hora nem duração específicas. Mas quando a  mãe estava presente só adormecia mamando, e só conseguia finalizar uma soneca eficiente se o seio se mantivesse dentro da boca o tempo todo.

Os problemas detectados que precisamos corrigir foram então: aleitamento em ciclo reverso, cama familiar inadequada, regulação da associação do sono com a sucção, falta de rotina estruturada durante o dia, falta de convivência familiar efetiva e angústia de separação.

Foto por cottonbro em Pexels.com

A proposta consistiu então em corrigir o aleitamento durante a alimentação complementar, incluindo mais leite (materno ou fórmula) na rotina alimentar, passando de 2 vezes en 10 hs para 4 vezes no mesmo período, o bebê ficaria bem mamado antes de ficar na avó e receberia o peito novamente no almoço e assim que a mãe voltasse no fim de tarde, completando 6 momentos de aleitamento durante o dia, além de manter a alimentação, a tarefa era então, priorizar o leite, mesmo que o bebê aceitasse um pratão de comida, deveria ficar espaço para o leite materno, associando o aleitamento às sonecas e algumas refeições. Uma mudança na cama familiar também foi sugerida, adequar a cama com um anexo que seria o espaço do bebê, que por sua vez deveria ser introduzido, demarcado visualmente (fronha diferente) e reforçado com brincadeiras e repetição constante.

A angústia de separação também foi  trabalhada, através de brincadeiras em família e atitudes simples na hora de deixar o bebê na casa da avó e de interagir com ele no dia dia. O grande desafio foi então arrumar um tempo familiar dentro da rotina tão corrida que a família tinha, organizamos os dias e as noites, propondo atividades para os avós fazerem com o bebê em diferentes momentos do dia, alternando a intensidade dos estímulos e as sonecas. Foi um jogo longo de encaixe de horários, mas conseguimos garantir que pelo menos uma hora por dia após a ceia e antes da hora de dormir, a família desligasse aparelhos e se dedicariam a eles mesmos.

O outro grande desafio foi o processo de regular a ssociação do sono com a sucção, foi um trabalho duro da mãe, com altos e baixos, mas com muita constância e paciência conseguiu. 

 

No meio do caminho, enquanto implantamos a proposta detectamos outras situações que poderiam atrapalhar o bom descanso da criança, como a presença constante da televisão na casa dos avós, em vários momentos do dia. Já que a criança passava o dia todo na casa dos avós, os passeios, as brincadeiras no chão, no quintal, estavam limitadas ao período da manhã. A tarde eles já estavam cansados e preferiam deixar brincar na sala assistindo vídeos de musiquinhas na TV . Os pais tiveram uma conversa com os avós, que se esforçaram para limitar a TV, porém, está continuava presente mais que o desejado, os pais então começaram considerar uma escolinha meio período, para dar um alívio aos avós que também estavam ficando esgotados ao final do dia.

Após mais ou menos um mês da primeira conversa (foram muitas trocas de mensagens e áudios durante as três semanas de acompanhamento) , recebi um retorno do casal, me contando que seu bebê estava dormindo melhor, acordando uma vez a noite para mamar, ainda na cama compartilhada, era o pai que o fazia adormecer no começo da noite e não mais o seio. O pai estava dormindo melhor agora que seguiam as normas de segurança da cama compartilhada de forma correta, e adorava acordar e dar aquele cheirinho no bebê antes de levantar. A rotina continuava corrida, mas com a pausa do horário familiar tinham sentido um alívio. A mãe estava considerando uma redução de seu horário de trabalho e começaram a procura por escolinhas, já que planejavam colocar em creche meio período quando o bebê completasse um ano.

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Texto original de Zioneth Garcia

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