Seu bebê acorda demais à noite, só quer mãe e não aceita ir com mais ninguém? Já tentou quase tudo e mesmo assim não melhora o sono? Calma aí, você pode estar lidando com a angústia de separação. Veja aqui do que se trata e algumas dicas para lidar com ela e melhorar o descanso de todos em casa.
Em algum momento após os 6 meses o bebê se descobre como um indivíduo diferente da mãe, o que traz não apenas a expressão das próprias vontades (e certa irritação ou até mesmo agressividade) senão também o entendimento que pode ficar sozinho, o que traz junto medo e insegurança. O melhor a fazer é acolher, acalmar esse medo, atender prontamente o choro e garantir ao bebê que se sinta seguro e protegido novamente. Essa fase é conhecida como a angústia de separação, começa se expressar entre 6-9 meses mas continua sendo visível em picos de maior ou menor intensidade até uns 3-4 anos. Mudanças na rotina do bebê ou mesmo situações particulares da família ( viagens, visitas, férias, volta das férias, doença, internação, conflitos familiares etc) podem acabar detonando uma crise de angústia de separação no bebê ou criança pequena.
Nessa fase, parece que dormir é sinônimo de sofrimento, basta começar a rotina de sono que a criança fica irritada, incomodada, até agressiva. Dizer “hora de dormir” pode ser o detonante de um pequeno apocalipse a cada noite. Pode se negar trocar a fralda, tomar banho, escovar dentes, sendo uma luta cada pequeno passo na rotina, isto porque ela sabe o que virá: a luz desliga e ela ficará sozinha, terá a sensação de que sua mãe não voltará mais. Algumas nem mesmo deixam a mãe ir embora, grudam no seio ou no colo (ou na bochecha ou o pescoço, ou no sovaco – como os meus filhos). Quando finalmente dormem pesado, a mãe deixa a criança, e então ao entrar na fase de sono leve, a criança acorda e chama a mãe novamente, chorando é claro! O que pode se repetir uma e outra vez e outra vez durante uma mesma noite. Nesses casos não adianta muito outra pessoa ir acudir a criança, nem o pai, nem avô, nem babá resolvem, tem que ser a mãe a ajudar já que ela é o foco da sensação de perda.
Com o tempo, na medida que se desenvolvem os vínculos familiares, a criança pode manifestar angústia de separação referente ao pai ou parente muito próximo também, nesses casos a mãe não resolve, tem que ser o pai ou parente muito próximo que é o foco da sensação de perda (aqui já rolou angústia focada ao pai após viagens de trabalho, por exemplo).
Nesse momento muitas mães assumem erroneamente que o problema é sempre fome, já que amamentar sempre funciona e ajuda a adormecer de volta mais rápido, e começam os questionamentos sobre se o peito realmente sustenta, algumas até mesmo introduzem mamadeira com Leite artificial. É importante entender que a necessidade neste momento não é essencialmente de nutrição, mas de acolhimento emocional. Então, cuidado com a introdução de leite artificial nessas fases, pode acabar mudando o metabolismo da criança, entrando em um ciclo de alimentação reversa, onde ele deixará de comer de dia para compensar o que recebe a noite. Durante as crises a criança precisa se sentir segura novamente para conseguir seguir sua noite de sono, para emendar um ciclo com o seguinte de forma rápida; ela precisa se sentir calma e segura. Essa calma e segurança vem de você, a mãe, com o acolhimento, o colo e o contato físico.

Seis dicas para lidar com a angústia de separação:
1 – NUNCA espere o bebê chorar para acudi-lo. O choro é um sinal de estresse, e estresse é inimigo número um do sono. Um bebê estressado demora mais para dormir. Se você o escutou resmungar, vá até ele e acalme-o antes que abra o berreiro. Muitas vezes ficamos acordadas na cama olhando para o teto e rogando ao céu que o bebê adormeça sozinho novamente (fiz muito isso na primeira filha), mas raramente funciona (e acaba que ninguém dorme do mesmo jeito). Então, lhe sugiro melhor ir logo que percebe que está acordando e mostrar que está do lado com um shhhhh, massagem nas costas, tapinhas rítmicos no bumbum ou “calma mamãe está aqui” bem baixinho.
2 – Se a criança já engatinha bem ou já anda, pode ser interessante estimular sua autonomia usando uma cama estilo Montessori (ou um colchão no chão) e mostrar o caminho para ir até a mamãe, mostrar que sempre que ele precisar você estará lá. Deixe um abajur ou luz tênue acessa durante a noite que ilumine o caminho até você. Para um bebê que já tem certa autonomia ao se locomover, o berço atua como uma barrera que pode aumentar sua ansiedade.
3- Ao colocar a criança para dormir, faça um ninho que permitirá que ela se sinta aconchegada e segura. Criará a ilusão de estar no colo ou em contato físico constante. Colocar um paninho com seu cheiro ajuda bastante acalmar o bebê também.

4 –Realize brincadeiras e atividades para atenuar a angústia de separação. Brinque de esconde-esconde, converse com seu filho de um cômodo ao outro (da cozinha para a sala por exemplo), pratique saidinhas rápidas e garanta que você voltará sempre que ele pedir, brinque de fazer sombras usando lanternas no escuro no quarto da criança. Ensine-a esperar, ao acudir aos pequenos pedidos de dia, lembre inesperadamente de alguma coisa para fazer e peça “um minutinho”, ressalte que vai voltar rápido, vá faça o que for e volte focando no “viu a mamãe foi e voltou rapidinho” e então faça o que seu pequeno pediu para fazer. Veja aqui mais dicas para atenuar essa angústia de separação
5 – Uma avaliada geral da higiene do sono cai bem nessa fase para garantir um melhor descanso de todos. Lembre que acordar de 1- 2 vezes a noite é normal até os 3 ou 4 anos. A grande diferença está na forma como voltam adormecer, algumas crianças adormecem sozinhas novamente nas acordadas noturnas, outras não, depende do temperamento, estado emocional e de desenvolvimento neurológico da criança. Na medida que seu filho cresce você será menos solicitada na hora que acordam no meio da noite. Por favor, não use métodos de adestramento do sono ou que implicam o choro desassistido, eles não garantem que a criança vai dormir, ela continuará com o ciclo de sono normal para sua idade (com várias fases de sono leve ou acordadas noturnas), porém, os sentimentos de medo e solidão da criança continuam lá, apenas deixam de ser expressados e acolhidos.
6 – Se seu bebê só dorme de volta após tomar mamadeira em cada uma das numerosas acordadas noturnas, ou sendo maior de um ano só dorme com o seio na boca, então considere a possibilidade de precisar um esforço para lhe ajudar desassociar sono da sucção. O mais importante é que seu bebê se sinta seguro com você por perto, não apenas ao sugar ou ficar de barriga cheia.
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Texto de Zioneth Garcia