Alergia Alimentar: mais inclusão, menos exclusão por favor.

Alergia alimentar é um tema que me toca no fundo do coração, aqui tenho uma criança curadas da APLV , outra também de ovo e oleaginosas, e eu mesma com alergia ao camarão e outros crustáceos. Em datas festivas, onde a oferta de comida é variada,  vejo o quanto sou afortunada por finalmente poder dizer que pelo menos eles, estão curados da alergia, mas não foi fácil, continua havendo muito preconceito frente às restrições alimentares. 

Se uma mulher fala que faz dieta restritiva de leite, queijo, glúten, ovos ou o que seja, com o intuito de emagrecer, por querer ser mais bonita, caber numa roupa especial ou apenas ser mais saudável, as pessoas nem questionam as razões para restringir sua alimentação, pelo contrário, muitas vezes acompanham ou até mesmo fazem um cardápio exclusivo para essa pessoa quando lhe convidam na sua casa. Mas se você diz que não come aquele pudim, lasanha, pizza, pão ou biscoito que lhe oferecem porque seu filho é alérgico às proteínas do leite de vaca e você o amamenta, ahhhh! Ai você recebe um olhar de reprovação duplo, um por amamentar, e outro por essa “frescura” de fazer dieta para amamentar. Já é bem difícil as pessoas entender e ao menos respeitar sua escolha, mesmo que ela tenha as razões mais nobres, então, é quase impossível para essas pessoas mostrar um pouco de empatia.


Quem faz dieta restritiva por alergia alimentar constantemente tem que lidar com a exclusão da mesa familiar, das reuniões sociais, do restaurante, do mercado, do salão de beleza, etc. O mundo não é muito empático com as mães que amamentam, e ainda menos empático com alguém que opta por fazer dieta restritiva para manter a amamentação. Não é raro que até mesmo a família tente nos excluir das refeições e um momento que deveria ser para socializar e relaxar, se torna um sofrimento.

Nessa minha saga com o leite de vaca descobri que existem civilizações inteiras que viveram sem experimentar uma gota de leite de outra espécie diferente da nossa. E então como que sobrevivem? Peixe, ovos, carnes, vegetais, frutas, nozes, castanhas, grãos, etc. Sim! Eles comiam muito bem, tinham ossos fortes, dentes saudáveis, e seus registros antropológicos não sugerem nem sinal de osteoporose; eles conseguiam todo o cálcio de sua alimentação. Ainda hoje sobrevivem várias culturas que consideram que o leite é unicamente para os bebês e crianças pequenas. Sabia que somos os únicos mamíferos que tomam leite na fase adulta? E então, por que nos temos a ideia que é impossível viver sem leite? Marketing e cultura. Está tão arraigada em nossa cultura essa ideia que o leite é essencial que é muito difícil fazer entender às pessoas ao nosso redor que dá para fazer pão, bolo, doces, chocolate, biscoitos, bolachas, e qualquer receita sem usar uma gota de leite, manteiga ou margarina. Se só com um ingrediente já é difícil, agora imagine dizer bolo sem leite, sem ovo e sem glúten…. Viu a dificuldade?


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O pior é quando as pessoas mentem ou omitem informação sobre os ingredientes da preparação, e a mãe de alérgico ou o alérgico, comem por engano, pode ser sem intenção (ou com ela, por acreditar ser frescura e querer testar para ver), nos levando ao desespero com as reações sem saber onde houve o furo da dieta. Isso nos leva que mães de alérgicos, paremos de confiar na comida fora de casa. Quando essas omissões acontecem na própria família, quem deveria nos ajudar cuidar, a dor é ainda mais forte, sentimos como se a luta fosse só nossa, e ninguém mais se importas-se com isso.


Embora, a mãe que faz dieta restritiva raramente precisa que façam o bolo sem leite, ovos ou glúten para se sentir incluída socialmente, até porque provavelmente a casa e utensílios do anfitrião estarão contaminados, uma ligação para perguntar por um cardápio que possa ser oferecido, uma informação completa sobre os ingredientes de um determinado alimento ou mesmo um convite para compartilhar uma preparação dela, podem ser suficientes para que essa mãe se sinta querida e bem vinda.

Se você convive com uma mãe de alérgico, tenha a mente aberta, a inclusão também significa compartilhar o mundo do outro. Cansei de ver as caras de nojo de certas pessoas, quando oferecia preparações que habitualmente teriam leite, sem ela. Alguns nem mesmo chegam a experimentar. Para uma pessoa completamente saudável experimentar um pedacinho de bolo diferente, seja sem leite, sem glúten, sem ovo, sem margarina, não vai fazer muita diferencia, pode se surpreender, só isso. Mas para as mães que fazem dieta restritiva, e especialmente para seus bebês, um pedacinho de bolo com todos os ingredientes que a maioria está acostumada usar pode significar muito sofrimento, dor, tempo e esforço perdido. Perder semanas de estabilidade e até retardar a cura.


Acertar a dieta de exclusão de alérgenos não é fácil, leva tempo até conseguir retirar todos os traços, há muitos tropeços do caminho. O trabalho é árduo, de observação diária, com diário alimentar, fazendo várias tentativas para chegar em receitas aceitáveis ao paladar, testando marcas, lendo rótulos (muitas vezes incompletos), fazendo ligações aos SACs atrás de explicações, apenas para descobrir que aquela marca de biscoito que parecia ser perfeita para você, trocou de fornecedor e já não pode ser mais usada. Como não é fácil, nada mais do que justo que esse esforço seja respeitado, especialmente pelas pessoas que convivem, a família.

Veja também

Não alimente o filho dos outros sem autorização!

Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar – Sociedade Brasileira (2018)

Alergia Alimentar –  Material Educativo Asociação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI)

Alergia Alimentar Brasil

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