Antes de pensar na alimentação que queremos que nossos filhos tenham, precisamos pensar na alimentação que nós temos. E, para falar a verdade, tem alguma coisa que não está andando bem com nossa alimentação. Não é estranho termos em nossa população taxas altíssimas de hipertensão, diabetes, infartos, AVC… todas doenças relacionadas diretamente com sobrepeso e obesidade. Fico cada vez mais chocada com as idades nas que estas doenças estão aparecendo, antes era coisa dos avós, hoje é cada vez mais frequente ter adultos em média idade, e até mesmo adultos jovens com alguma dessas doenças. Basta dar uma olhada na hora do almoço em qualquer restaurante que oferece “Buffet por kilo” ou “a vontade”: pratos fartos até a borda, poucas opções de saladas, legumes e verduras intocadas por horas pelos fregueses enquanto que, as batatas fritas precisam ser repostas continuamente.
Não podemos esquecer que comer bem, em intervalos regulares e de forma balanceada, é o primeiro passo para ter um metabolismo capaz de alternar os ciclos de atividade e descanso de forma adequada. Boa alimentação é essencial para ter boas noites de sono, adequados processos de desenvolvimento e aprendizagem, e manutenção da memoria.

Avaliando nossos hábitos alimentares
Desde a infância nos acostumamos a comer além de nosso limite, ignorando sistematicamente os sinais de satisfação de nosso corpo. Já escutou ou falou “comi até ficar triste”? . Comer para nós, humanos, têm uma função além da fisiológica; nós comemos para socializar, comemos em festas de aniversário, casamentos, churrascos, até velórios…. já pensou o que seria de um aniversário sem o bolo de parabéns? Impensável né? Mas parece que esquecemos que para socializar o importante são as pessoas e que a comida é apenas um mero coadjuvante.
A consciência que nossos hábitos alimentares precisam mudar pode chegar apenas quando viramos pais, e então adiamos a mudança até quando o bebê começa a comer, e como não é fácil adiarmos mais um pouco até ele “ter consciência” e sem perceber iniciamos nossos filhos nos mesmos hábitos que queríamos mudar, justamente para que eles não os tivessem.
Como educadores (pais, mães, tios, avós, professores, padrinhos, etc), devemos ter presente que os comportamentos das crianças são o reflexo das ações dos adultos com quem convivem, e isso inclui a forma como se alimentam. Alimentar-se é um comportamento que se aprende por imitação; desde a introdução alimentar somos nós, pais e mães, os responsáveis por construir o relacionamento que nossos filhos terão com a comida, e seja boa ou ruim, essa relação será para sempre. Se nosso filho come ou não verduras, se ele gosta ou não de legumes, se consume ou não frutas, ou se só come doces ou frituras, a responsabilidade de incentivar ou desencorajar é nossa (veja mais sobre dificuldades no comportamento alimentar de crianças maiores de um ano)

As preferências alimentares são uma construção mediada principalmente pelo ambiente social e cultural no qual a criança se desenvolve. A convivência com pessoas com dificuldades alimentares, em geral vai ter um impacto considerável nas crianças mais pequenas, que estão construindo sua relação com a comida. Por exemplo, se a criança passa por uma fase na que se recusa experimentar pratos ou ingredientes novos (algo normal), e por acaso, convive com pessoas adultas que abertamente rejeitam ou desdenham de alguns ingredientes, ficamos sem bases para persuadir e convencer a criança experimentar novas preparações ou novos ingredientes. Por quê ela teria que comer se o outro também não come?
Não só o que a criança come é importante, como, quando, onde e quem a alimenta também é essencial. Devemos dar atenção à interação entre a pessoa que alimenta e a criança. Essa interação deve resultar na chamada alimentação responsiva. Cabe ao cuidador a responsabilidade de ser sensível aos sinais da criança e aliviar tensões durante a alimentação, além de fazer das refeições momentos agradáveis. Comer deve ser um prazer, para todos os envolvidos.
Construindo os hábitos alimentares de nossos filhos
Todos os alimentos que seu filho ou filha consome na sua casa saem de um único lugar: o seu bolso! Parece óbvio, mas se você não comprar doces, balas, refrigerantes para ter em casa sempre, nem para você nem para seu filho, ele não vai ver, não será uma opção e por tanto, não vai comer esse tipo de coisas em casa frequentemente. Sem elas em casa, disponíveis, não existe a possibilidade de formar o hábito de consumo regular, e dificilmente irá se esbaldar quando as tiver na frente. Se no lugar de industrializados e ultra processados, você compra e tem o hábito de consumir frutas frescas, frutas secas, e outros alimentos in natura, e deixa a disposição da suas crianças. Além, de comprar e consumir legumes e folhas verdes com prazer, provavelmente seu filho adotará esse hábito naturalmente, por imitação.
Se as refeições familiares são prazerosas, envolvendo a criança em momentos de conexão emocional positivos, deixando-a participar em todos os momentos da refeição, desde a compra de alimentos ao preparo e consumo da refeição, então esses alimentos mais saudáveis não só terão a memoria do exemplo de casa, mas a memoria afetiva do comer bem junto com a família. É claro que nem todo serão flores, certamente enfrentará várias fases de comer mais ou menos, ou de selecionar, isto faz parte do desenvolvimento de suas preferências alimentares, mas com o estímulo de uma alimentação saudável sendo ofertada constantemente, de forma respeitosa e amorosa, o futuro é promissor.

Uma criança que se recusa levar uma alimentação saudável, rejeitando frutas, legumes, verduras, e refeições equilibradas, que tem alta predileção por comidas altamente processadas, é um alerta para a família toda. Oferece uma oportunidade única de avaliar os hábitos alimentares e o relacionamento que os adultos ao redor desta criança mantem com a comida, e que estamos perpetuando em nossa família. Nunca é tarde nem cedo para pensarmos na saúde de nossos filhos e nossa família; mudar hábitos não é fácil, porém fazendo juntos, em família, incluindo as crianças ativamente nesse processo, só temos a ganhar.
Procure ajuda de profissionais, hoje o acompanhamento nutricional feito por nutricionista, deixou de ser um luxo para se tornar uma necessidade de quem precisa mudar seus hábitos para melhorar sua saúde, há atendimento de nutricionista no SUS, o nutricionista é um profissional credenciado em vários planos de saúde supletiva e também existem muitos profissionais que acompanham de forma particular , incluso online (e não é caro não gente).
Em termos de educação alimentar, lembre: Coma hoje como espera que seus filhos comam amanhã!
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*Texto original de Zioneth Garcia – atualizado 25/03/23
SILVA, Isabel; PAIS-RIBEIRO, J.L.; CARDOSO, Helena. Porque comemos o que comemos: Determinantes psicossociais da selecção alimentar. Psic., Saúde & Doenças, 2008. Lisboa , v. 9, n. 2, p. 189-208.