Entendendo e manejando o terror noturno

Situações nas que as crianças choram e gritam desesperadamente a noite, que sentam ou saem andando, que parecem se defender (podendo bater nas coisas). Começam chorar quando claramente estão ainda dormindo, não parecem responder a nenhum estímulo externo, e do mesmo jeito que começam, param, se aquietam e continuam dormindo, podem ser terror noturno.  

Acordar a noite chorando, por ter um sonhos ruins (pesadelos), atravessar uma fase de angústia de separação e sair andando pela casa para procurar a mãe ou simplesmente ter dificuldade para voltar adormecer sozinho, e só voltar dormir quando a mãe ou pai acude e acalma,  é muito diferente de apresentar terror noturno.

O quê é terror noturno?

O terror noturno é um transtorno de qualidade do sono,  classificado como umas das parassonias: fenômenos motores, autonômicos ou experienciais indesejáveis, que ocorrem durante o sono, geralmente no primeiro terço da noite, e associadas a despertar parcial ou incompleto. Junto ao terror noturno também temos o sonambulismo e o despertar confusional (1). Alguns autores consideram o terror noturno um tipo de sonambulismo violento.

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O terror noturno ocorre em 2% a 3% de crianças e adultos, sendo mais comum em crianças maiores e adolescentes, mas podendo estar presente também nas crianças pequenas. Caracteriza-se por sintomas motores e autonômicos intensos (taquicardia, taquipneia, dilatação pupilar e diaforese), incluindo gritos. É associado com sonhos, desorientação e amnésia após cada episódio. Os terrores noturnos são ligados ao sono não REM, ao contrário do pesadelo que acontece no  sono REM, por tal razão, fazem com que o barulhento, indivíduo seja resistente ao consolo, têm término súbito e costumam ocorrer no início da noite. (2).

Quais fatores que podem predispor ao terror noturno?

Como fatores que podem predispor à aparição de terror noturno estão: idade (visto que esta patologia é mais verificada em crianças), a privação de sono, o uso de medicações (tais como neurolépticos, sedativos e anti-histamínicos),  um ambiente de sono barulhento ou estimulante, febre, estresse e presença de distúrbios intrínsecos do sono (como apneia obstrutiva e síndrome das pernas inquietas). Adicionalmente, casos de sonambulismo ou terror noturno em outros membros da família próxima, é considerado um fator de risco aumentando para a propensão da criança a estes fenômenos. (3)  

Segundo os critérios da International Classification of Sleep Disorders (ICSD)10, o terror noturno pode ser classificado de duas formas:

  • quanto a severidade em: 
    • leve: menos de um episódio por mês e não trazendo danos a outros ou ao paciente,
    • moderado: aquém de uma crise por semana, sem injúrias ao paciente ou a terceiros, e
    • severo: quadros praticamente diários com agravos físicos ao doente/terceiros
  • quanto a duração em:  agudo (até um  mês), subagudo (entre um e três meses) e crônico (três meses ou mais).
Foto por Tatiana Syrikova em Pexels.com

Qual é o tratamento para o terror noturno?

Tratamento medicamentoso geralmente não é necessário. Se as crises de terror noturno são pontuais, leves a moderadas, com até um mês de duração, podem estar associadas às fases nas que a criança (ou família) manejam altos níveis de estresse ou ansiedade: fases de desenvolvimento, doenças (com ou sem internação), mudanças de rotina, mudanças ambientais (casa, cidade, país), situações traumáticas ou de dor intensa (perdas familiares, acidentes, separações), etc. Por tanto, o tratamento principal do terror noturno nesse caso é a higiene do sono, identificação e manejo das fontes de estresse. Para o manejo do estresse a educação emocional, a comunicação constante e uma rotina consistente é essencial. Caso se trate de um trauma, é importante procurar o acompanhamento psicológico adequado. Em alguns casos, onde a fonte de estresse não pode ser facilmente controlada, pode ser interessante o uso concomitante de homeopáticos ou fitoterápicos que auxiliem no manejo do estresse.

Em casos severos e subagudos, onde os episódios diários se estendem além de um mês, se sugere a avaliação junto a um neurologista, realizando um estudo do sono detalhado, e descartando qualquer situação neurológica de base que possa estar prejudicando a qualidade da transição do ciclo de sono. Em casos raros, nos que pode ter associada uma situação neurológica atípica (epilepsia, TEA, paralisia cerebral, ou outros distúrbios do sono)  pode ser necessária a intervenção com medicamentos de forma temporária (em geral ansiolíticos), para atenuar a ansiedade ou estresse da criança, como medida de controle da crise. Mesmo em crianças com casos neurológicos atípicos a higiene do sono, identificação e manejo do estresse é essencial na prevenção dos episódios de terror noturno. 

Como manejar os episódios de terror noturno? 

O ideal é sempre prevenir, se você percebeu que seu filho é susceptível a esses episódios aqui vão algumas dicas:

1- Identifique as situações detonantes, e então tome medidas extra para o relaxamento ao longo do dia e especialmente antes de dormir, a noite, quando estas situações estão presentes. Uma historinha a mais, um cheirinho de lavanda no ambiente, ou até mesmo dormir junto da criança,apenas por uma noite, pode ajudar para que ela se sinta mais segura e relaxada na hora de dormir.

2- No momento da crises não mexa a criança, apenas se certifique que está segura e aguarde. Pegar no colo, tentar acordar ou segurar com força só ativará um reflexo de defensa e fuga que pode deixar o episodio mais longo e agitado.

3 – Tenha uma “marca” de segurança, pode ser um toque, um som, um objeto, que seja usado na hora do relaxamento, antes de dormir, e esteja presente na hora do adormecer. Assim, nas crises eles poderá ser usado para acessar o inconsciente. Um “SSSS mamãe está aqui”,  ou colocar o objeto na mão da criança suavemente, para ela se posicionar no espaço e conseguir sair do trance é muito melhor que segurar no colo ou tentar acordar.

4- Se a criança já anda, certifique-se que no caso de andar ela não vá para janelas ou escadas. Deixe a casa o mais segura possível, sempre.

5- A criança não lembrará de nada do acontecido durante o episodio, então não tente encontrar explicações, perguntando sobre o que sonhou ou que aconteceu. As conversas devem se focar em encontrar o detonante da crise, a mais nova fonte de estresse: é doença, é dente, é pressão social na escola, ansiedade por alguma atividade, saudades de alguém? Descubra e se necessário, trabalhe as emoções com conversas, brincadeiras, e muito carinho.

Referências bibliográficas

1- Nunes L M . Distúrbios do sono. Jornal de Pediatria – Vol. 78, Supl.1, 2002

2- Neves GSML et al. Transtornos do sono: visão geral. Revista Brasileira de Neurologia . Volume 49 . No 2. abr – maio – jun, 2013

3 – da CRUZ M C, et al . Terror noturno: revisão bibliográfica de uma parassonia. Arch Health Invest (2017) 6(12):604-607

4- American Academy of Sleep Medicine: International Classification of Sleep Disorders: Diagnostic and Coding Classification of Sleep Disorders Manual, 2nd ed. Westchester: American Academy of Sleep Medicine, 2005

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Texto original de Zioneth Garcia

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