Ser pai ou mãe da criança que é mordida é tão ruim como ser a mãe da criança que morde. As mordidas podem acontecer com todas as crianças, em algum momento de seu desenvolvimento, sendo mais comuns entre 10 meses e 2 anos. A continuação ofereço algumas dicas para enfrentar a situação quando é nossa criança quem leva as mordidas.
1 – Avaliar o contexto no qual a mordida acontece, para descobrir o por que acontece, é essencial para definir a estratégia de resposta. É importante perceber que nem sempre a criança mordida é a vítima da situação. As mordidas também acontecem como reflexo de defesa ou fuga quando a outra criança se sente invadida ou agredida. Se seu filho ou filha, leva mordidas frequentemente, de diferentes crianças e em diferentes locais, é provável que ela apresente um comportamento que pode ser perturbador para as outras crianças. Algumas situações comuns, como tirar o brinquedo da mão do coleguinha, chegar beijando ou abraçando outras crianças insistentemente, furar a fila, invadindo a vez do outro que está esperando, entre outros comportamentos, podem tornar a sua criança um alvo frequente das mordidas.

2- Uma vez identificadas as situações nas quais a criança é mordida, identifique as situações ou comportamentos detonantes, ajudando a criança se proteger. Mostrar que todos temos limites pessoais, lhe ajudando identificar no outro os sinais de desconforto pode ajudar a criança prevenir as mordidas precocemente. Conversas e brincadeiras de faz de conta para treinar as situações de risco, ajudam a criança entender como deve reagir e se afastar quando o outro mostrar irritação, ajudando se proteger das mordidas antes que aconteçam. Crie um comando curto com o qual você possa lhe alertar da irritação do outro e da proximidade da mordida “dá espaço” “devagar” “ele não está gostando”. Se o alerta não funciona, afaste a criança antes da situação fugir do controle.
3- Ofereça alternativas aos comportamentos que podem oferecer maior risco de levar mordidas. Se a criança chega nos locais querendo abraçar beijar todas as crianças, e isto tem lhe rendido algumas mordidas, talvez seja hora de mostrar que nem todo mundo gosta desse contato, e que é importante respeitar o espaço do outro. Ensinar dar oi e mandar beijos com sua mão pode ser uma boa alternativa, por exemplo. Respeitar o espaço da criança, não lhe exigindo dar beijos em todo mundo também é importante. Lembre que todos temos direito dizer não.
Se a criança está na fase onde tudo é “meu” , podem se apresentar várias situações nas que o brinquedo desejado está na mão de outra criança, mesmo sendo o próprio (a propriedade nessa fase é relativa), é importante desestimular a criança tirar o brinquedo da mão do outro com violência, estimule a fazer trocas oferecendo outro brinquedo igualmente legal, por exemplo. Caso não seja possível a troca, porque ambas crianças desejam mesmo brinquedo com a mesma intensidade, pode ser necessária uma intervenção, mas nesse caso, não favoreça nenhuma das crianças, ofereça uma distração onde ambas crianças tirem o foco daquele brinquedo. Coisas simples como um aviãozinho de papel para cada criança, por exemplo, podem ajudar aliviar a tensão do ambiente. Uma vez a tensão seja superada então ajude as crianças estabelecer regras de uso “cada um tem sua vez”.

4- Reforce e repita as orientações constantemente. Lembre que crianças abaixo de 3 anos ainda não possuem memória permanente, com o que a correção de comportamentos de risco deve ser constante e repetitiva. Não basta uma historinha, uma conversa ou uma dúzia de alertas para se proteger da mordida, é preciso repetir muitas vezes de diversas formas, sem baixar a guarda. Não é raro, acreditar o comportamento ter sumido e novamente acontecer após ter baixado a guarda.
Quando a mordida é na escola:
- Converse com os responsáveis para identificar as situações, esteja disposta escutar, nem sempre a criança mordida é apenas uma vítima.
- Identifique se as mordidas vem da mesma criança ou de diferentes crianças, pode ser um dado chave para definir a abordagem. Se sempre é a mesma criança que morde, e seu filho ou filha não é a unica levar mordidas, então a escola precisa encontrar uma estratégia junto aos pais daquela criança para corrigir esse comportamento. Mas caso seja apenas sua criança a levar mordidas, de diferentes coleguinhas, o foco da correção de comportamento será ela. Em termos práticos, se a turma tem apenas uma criança que morde várias crianças, os olhos dos cuidadores devem estar sempre sobre ela. Mas, se o foco das mordidas de diferentes crianças da turma é sua criança, então os olhos das cuidadoras devem estar sobre ela, para identificar e lhe alertar sobre os comportamentos de risco, e se for preciso intervir antes da situação sair de controle.
- Converse e reforce em casa com seu filho, lhe orientando sempre contar para os adultos quando algum coleguinha morder.
Para NUNCA fazer
- Não estimule a criança morder nem bater de volta.
- Não use termos pejorativos nem rotule a outra criança.
- Não repreenda a outra criança, alerte os pais sobre o comportamento e deixe que eles corrijam do próprio filho.
Referências
Rosaria Fernanda Magrin Saullo; Maria Clotilde Rossetti-Ferreira; Katia de Souza Amorim. Cuidando ou tomando cuidado? Agressividade, mediação e constituição do sujeito – um estudo de caso sobre um bebê mordedor em creche. Pro-Posições. v. 24, n. 3 (72) p. 81-98 . set./dez. 2013
Juliana de Albuquerque Venezian; Bruna Ronchi Oliveira; Maria Augusta da Costa Araujo. O manejo da agressividade da criança: o que uma mordida quer dizer?. An 7 Col. LEPSI IP/FE-USP 2009
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Texto original de Zioneth Garcia
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