Hoje venho compartilhar com vocês três casos que me deixaram sensibilizada, e especialmente preocupada pela saúde materna, apesar do foco da consulta ser o bebê, quando vejo que o comportamento do bebê responde ao comportamento familiar ao redor de uma situação de saúde materna particular, é imprescindível cuidar da mãe. Um padrão de comportamento que tenho observado, problemas de sono e crises comportamentais frequentes no bebê em resposta a uma situação de saúde materna.
Caso 1: dor crônica e angustia de separação
A criança com 9 meses, em plena angústia de separação, engatinhando por tudo e começando se levantar, cheia de energia para gastar, e dando bastante trabalho para sua mãe na hora de dormir. Uma situação que não está nada fora do normal, porém, a mãe lidava com uma doença que lhe causa bastante dor, tentando evitar uma cirurgia através de um tratamento médico periódico que também lhe causava desgaste físico e dor. No dia dia era ela com seu bebê, o pai trabalha viajando e a família morava em outra cidade, apesar de próximos, o cotidiano é basicamente sozinhos. Na nossa conversa e acompanhamento posterior percebi um padrão de comportamento, o bebê tinha as noites mais difíceis, despertando continuamente para mamar justamente nos dias que sua mãe sentia mais dor, especialmente após o tratamento. A avó vinha cuidar da filha e neto, mas a criança era irredutível em querer a mãe.
A solução foi tentar descansar juntos, manter a dor o mais controlada possível usando medicações (foi levantada a lista de medicações disponíveis e compatíveis com a lactância para ela discutir junto ao especialista) . Também incluímos um processo de comunicação mais ativo, explicando para criança quando sua mãe estava ou não disponível ou com dor. Mas especialmente, foi discutido o realizar a cirurgia que seria o tratamento definitivo, sugerido pelo especialista, mesmo que significasse alguns dias fora de casa.
Caso 2: Tratamento psicológico e gases do bebê
A criança de 2 meses só adormecia mamando e no colo, normal, não fosse o fato de precisar dormir assim dia e noite, a mãe me procurou exausta, várias noites em claro. Na nossa anamnese e conversa ficou evidente que tinha algo além do comportamento da criança. A mãe tinha distúrbio de ansiedade, estava em acompanhamento com psiquiatra e tomava duas medicações para o controle da ansiedade, mas tinha interrompido a terapia após o nascimento. Ao longo do acompanhamento percebemos um padrão nas acordadas diurnas e noturnas, a criança acordava com gases ou cocô. A alimentação da mãe não era, ela já cuidava tudo nos mínimos detalhes. Então nossas suspeitas caíram em duas substâncias, probióticos oferecidos para a bebê desde o nascimento, para as cólicas, e um dos medicamentos que a mãe usava regularmente. Fizemos o teste de mudar o horário da medicação, e deu uma mudança no horário do cocô, acordo com a bula ela poderia causar problemas intestinais, então orientei procurar o psiquiatra e levar esta informação, e com muita boa vontade, ele concordou em mudar a medicação. A mãe também suspendeu o uso do probiótico, e finalmente o cocô e os gases deram uma boa diminuída.
Com a criança melhor, passou aceitar mais fácil dormir fora do colo, ficar períodos maiores sem mamar. É claro que ainda há muitos desafios pela frente, está amadurecendo seu sistema neurológico ainda, mas a rotina estruturada e as melhoras notáveis no comportamento da criança ao controlar o desconforto, foram suficientes para deixar a mãe muito mais tranquila.
Caso 3: Colo , dor crônica, mobilidade reduzida na mãe e medo do tratamento comprometer a amamentação
A família entrou em contato procurando ajuda para ajudar o filho adormecer sozinho sem precisar de peito nem colo. Um bebê de 8 meses, grandão, que gostava muito do colo da sua mãe. Nada fora do normal. Porém, a mãe sofria de dores crônicas nas costas e braços, resultado de uma lesão antiga nas costas. Desde antes da gestação estava fazendo tratamento de controle da dor com medicação e fisioterapia. Porém, durante a gestação interrompeu o tratamento por medo dos medicamentos fazer mal ao bebê, e a dor lhe impediu de continuar com a fisioterapia de forma regular. A mobilidade da mãe estava cada vez mais comprometida, ao ponto de ter travado varias vezes e precisa de atendimento de emergência.
A rotina da criança não estava ruim, estava dentro do normal para a idade. Precisávamos encontrar um jeito de substituir o colo e o seio por outra forma de aconchego que facilitasse a criança se acalmar e adormecer. O bebê praticamente vivia no colo da mãe, era mais fácil trazer para o colo que se agachar para ficar no chão junto dele para brincar, o que piorava muito a dor. Recebeu várias recomendações de desmame abrupto para conseguir retomar o tratamento, mas preferiu não as seguir, ao ponto de parar de procurar acompanhamento médico por conta delas. A mãe deixou de lado os cuidados com sigo mesma para priorizar a amamentação.
O primeiro grande desafio foi justamente retomar os cuidados com a saúde materna, pesquisamos juntas a compatibilidades dos medicamentos com a amamentação, os mesmos que ela utilizava antes da gestação, para nossa alegria, eram compatíveis com a lactância. O seguinte passo foi procurar novamente o especialista e levar essa descoberta para ele lhe orientar um tratamento adequado novamente. Então, organizamos a rotina da criança, para que qualquer pessoa pudesse acompanhar, até mesmo o aleitamento, abrindo assim a possibilidade da mãe se ausentar 2- 3 vezes por semana para que pudesse realizar a fisioterapia e atividade física que estava precisando com urgência.
Por último,fizemos um processo para desassociar o sono com a sucção e com o colo, primeiro modificando o local de dormir. Com a saúde melhor, sem tanta dor, foi possível fazer a transição do berço para uma cama baixa do lado da mãe, e então substituir o embalo no colo por deitar junto, dando balancinho no bumbum e nas costas. Incluindo também o pai em todo esse processo, para que gradativamente ele também pudesse ofertar estes cuidados. Deu um pouco de trabalho, mas finalmente, com muita conversa, muita paciência e carinho, o bebê passou adormecer fora do colo, para o alívio da sua mãe. E ela finalmente colocou sua saúde no topo da lista de prioridades da família.
Esses, são três casos extremos, que onde foi preciso a ação interdisciplinar, vários profissionais e familiares envolvidos, ao redor de uma situação. E você, mãe, já fez seu check up anual? sua saúde física e mental está em dia? Não espere chegar no fundo do poço para cuidar de você mesma, é preciso cuidar da mulher, para que possa ser uma mãe melhor!
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Texto original de Zioneth Garcia