Depois que os bebês completam um ano de vida, os alimentos sólidos começam gradativamente substituir o aleitamento, os ciclos circadianos se estabelecem e a criança pode ficar mais tempo sem mamar a noite. Adicionalmente o cérebro da mulher que até então satisfazia se com 3-4 horas de sono noturno, começa solicitar mais horas de sono continuo, tornando cada vez mais cansativas as noites com múltiplos despertares para acolher o bebê. É então que muitas família começam pensar no desmame noturno, e vários mitos na forma de palpites aparecem. Venha ver 6 mitos que as famílias escutam frequentemente nessa fase.
1- Depois do desmame noturno vai dormir a noite toda
Mentira! Quando uma criança para de mamar durante o período de sono noturno, não significa que a necessidade de acolhimento noturno diminui, apenas que é capaz de reconhecer e aceitar outras formas de conforto além da sucção.
O Padrão de sono das crianças evolui junto ao seu desenvolvimento neurofisiológico. O despertar noturno à procura de acolhimento é normal até 3-4 anos. Vai diminuindo a frequência, intensidade e duração desse despertar gradualmente com o crescimento, na medida que as relações com o ambiente se tornar mais seguras. Tendo 1 -2 despertares a noite entre 1-2 anos, 1 vez por noite entre 2-3 anos, e despertares esporádicos próximo dos 4 anos.
2- Depois do desmame noturno vai comer melhor
Mentira! Se a alimentação não está correndo como esperado é importante avaliar as causas da recusa alimentar, observando desde as expectativas e comportamentos dos adultos até a rotina e preferências da criança. O aleitamento noturno geralmente apontado como responsável pela recusa de alimentos pode ser justamente o suporte nutricional que evita que a criança tenha comprometido o aporte de nutrientes essenciais para seu crescimento. Cortar o aleitamento noturno sem avaliar as causas da recusa alimentar, pode agravar esse comportamento de recusa alimentar, uma vez que ao privar a criança do seu mecanismo de conforto primário, a sucção, a irritação e estresse tomam conta do seus dias, dificultando ainda mais o processo de experimentação de novos alimentos.
Para o desmame noturno não impactar o estado nutricional da criança, deve haver um preparo emocional e comportamental, de todos os envolvidos no processo: mãe, pai, cuidadores e é claro a criança. O aleitamento e a alimentação diurna devem garantir a oferta de nutrientes completa para a criança, antes de qualquer tentativa de regulação do aleitamento noturno.

3-Depois do desmame noturno vai aceitar que o pai o coloque para dormir
Mentira! A aceitação do pai ou qualquer outro cuidador na hora de dormir não depende do bebê nem de desvincular o sono da amamentação. O comportamento dos bebês é pessoa específico, eles sabem o que cada um dos seus cuidadores pode ofertar. A relação do bebê com outros cuidadores, além da sua mãe, se constrói diariamente, não é de um dia para outro, leva tempo e dedicação. O bebê precisa confiar, se sentir cuidado e amado para se permitir relaxar e se entregar ao sono.
Para dormir o bebê precisa estar calmo, satisfeito nutricionalmente e receber ajuda para relaxar. Mesmo que a sua mãe não esteja disponível, se o cuidador mostrar disponibilidade emocional para acolher o bebê ele conseguirá dormir. O contato físico, o colo e o embalo, por exemplo, podem ser muito boas estratégias para ajudar o bebê adormecer quando sua mãe não está por perto. Não é preciso esperar por um desmame para tentar.
4- Dormir longe da mãe vai fazer que o bebê esqueça o seio
Mentira! Uma prática muito comum é afastar o bebê da sua mãe na intenção que “aprenda dormir sem o seio”, seja deixando o bebê ou criança dormir aos cuidados de uma terceira pessoa ( avó, babá, pai, etc) enquanto a mãe se afasta por algumas noites. Nesses casos o bebê pode até dormir bem por uns dias, sem solicitar o seio durante a madrugada, especialmente quando recebe acolhimento, com colo e muito contato físico de seus cuidadores na ausência materna. Porém, no retorno da mãe os pedidos de mamadas noturnas também costumam voltar e muitas vezes acompanhados de um aumento considerável dos pedidos de mamadas diurnas.
Isto acontece porque a ausência materna é um período de muito estresse para o bebê, pelo que a tendência será procurar aliviar ele através da sucção (uma vez que estão na fase oral). O bebê não esquece nem sua mãe nem a forma que ela o acolhe, o seio. Vale lembrar que o comportamento dos bebês é pessoa específico, eles sabem o que cada um dos seus cuidadores pode ofertar, assim, mais que forçar um desmame noturno por ausência materna é importante abrir o leque de possibilidades que a mãe tem a oferecer ao seu bebê para lhe acalmar. Em outras palavras, o bebê precisa enxergar a sua mãe além de um par de seios e aprender juntos a se conectar através de outras formas além da amamentação.
Para o desmame noturno ser bem sucedido é preciso de preparo emocional de ambas partes, mãe e bebê, a mãe deve aprender a acolher sem o seio e o bebê aprender a reconhecer que sua mãe oferece mais que sucção.
5- A mamadeira noturna vai evitar que acorde a noite para mamar
Mentira! A mamadeira com fórmula infantil durante a noite ou madrugada é popularmente sugerida como estratégia para os bebês dormirem mais tempo ou “a noite toda”. Porém, tem vários problemas nessa prática, ela não garante que os bebês diminuam o número de despertares. De um lado, devemos considerar que pelo menos até seus 3-4 anos, um despertar noturno pode ser normal, não por alimentação, mas pelo seu desenvolvimento neurofisiológico, ciclos de sono mais curtos, significam mais passagens pelo sono REM durante a mesma noite, ou seja, muitas mais oportunidades de fixar aprendizados e memórias. Por outro lado, não podemos esquecer que nem sempre que acontece um despertar durante a noite ou madrugada é para mamar por fome, pode ser despertar apenas à procura de acolhimento, por sucção não nutritiva ou aconchego, para conseguir emendar o seguinte ciclo de sono rapidamente.
Ignorar que o bebê também procura a sucção não nutritiva durante a noite pode levar a aumentar consideravelmente a quantidade de leite que é ofertado ao bebê. Uma vez que na mamadeira o bebê não consegue diferenciar a sucção nutritiva e não nutritiva, os cuidadores podem entender como fome a sucção de uma mamadeira vazia no meio da madrugada, impactando o equilíbrio nutricional, se refletindo inclusive no ritmo de aleitamento e alimentação diurnos.
Adicionalmente , o bebe pode simplesmente rejeitar a mamadeira vinda de outras mãos diferentes às da sua mãe, ou seja, o problema de despertar noturno pode continuar e aumentar uma vez que precisará de muito mais esforço para preparar a mamadeira do que simplesmente oferecer o seio. Ao introduzir a mamadeira de madrugada, sem importar a idade, introduzimos o risco de confusão de bicos, podendo diminuir consideravelmente a produção de leite materno e assim colocando em risco a amamentação.

6 -O sono da criança e da família só vai melhorar depois do desmame noturno
Mentira! O desmame noturno não é recomendado para menores de um ano, porém, isto não significa que mães de bebês menores de um ano estejam condenadas às noites mal dormidas. Quando a amamentação noturna está intensa, e o bebê acorda repetidamente é importante avaliar as possíveis causas. Amamentação na grande maioria das vezes não é o problema, muitas vezes é justamente o que não permite que as noites sejam piores. O desmame noturno não é a única solução para melhorar o sono do bebê e sua família. Antes de pensar em desmame é importante avaliar a higiene do sono, o que vai incluir ajustar o ciclo de aleitamento, a rotina familiar, as atividades durante o dia, as sonecas e é claro comportamentos associados à hora de dormir. Os bebês precisam relaxar para conseguir dormir, é por isso que procuram o seio tanto no começo da noite como ao longo dela.
Não é preciso esperar pela idade do desmame para começar a melhorar o sono familiar.
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Texto original de Zioneth Garcia