Já vão quase 15 meses de distanciamento social, de pandemia. Muitas famílias enfrentaram mudanças enormes na sua rotina e organização do lar. Crianças fora da creche, sem pracinha, sem parquinho, sem amigos, sem a ajuda na faxina de casa, com mãe e pai de corpo presente mas com atenção ausente, longe de vovós, aprendendo viver e dividir o espaço da casa. Se para adultos foi e está sendo difícil, para bebês e crianças está sendo extremamente complicado. A quebra de rotinas já estabelecidas e a adaptação a esse novo ritmo de vida podem causar impacto direto no ritmo metabólico, comportamento, apetite e sono das crianças.
Já recebi nesse período famílias que voltaram enfrentar desafios considerados superados há muito tempo. Situações como regredir num processo de controle de esfincteres que estava indo bem, voltar dormir na cama dos pais, voltar acordar repetidas vezes a noite, voltar a mamar sem controle durante o dia e a noite, apresentar novamente crises de comportamento, entre outras. Todas elas com uma coisa em comum: uma grande mudança com muito estresse envolvido durante o período de pandemia. Alguns casos, de famílias fora do Brasil, onde a vida está tendendo se normalizar, continuam enfrentando os problemas mesmo após a “normalização” da rotina.

Observando de perto estes casos, algo se torna comum, os adultos relaxam os seus horários e até mesmo a sequência de atividades se perdeu ao longo das semanas de isolamento. Sem a pressão de hora para entrar na escola ou chegar no escritório, a hora das refeições que no começo atrasava alguns minutos e acaba oscilando em intervalos de horas. As atividades associadas às saídas de casa, como trocar o pijama ou fazer xixi antes de sair, se perdem no meio do dia. Essa falta de previsibilidade na rotina das crianças passa a conta nos seus ritmos biológicos, a insegurança se instaura, a ansiedade e estresse se manifestam, através de mecanismos que muitas vezes são velhos conhecidos.
Após meses de distanciamento, retomar à rotina normal é mais uma grande e abrupta mudança, apesar de termos a sensação da vida ter pausado durante o esse período de distanciamento social, os ritmos metabólicos mudados durante o isolamento não se retomam automaticamente ao voltar à vida normal. Se você está à espera da volta ao ritmo anterior ao da pandemia ou simplesmente quer dar uma organizada na vida familiar enquanto o isolamento não termina, essas dicas podem ajudar.
6 Dicas para manejar as regressões comportamentais trazidas pela pandemia
1- Organize seus dias, estabeleça horários de levantar e de ir dormir que respeitem os ciclos de luz naturais. Mesmo em casa, procure a iluminação natural o máximo possível. Recupere seus pequenos rituais: acordar e lavar o rosto, tirar o pijama de manhã, abrir as janelas e regar as plantas, tomar aquele cafezinho na tarde, escovar os dentes após almoçar, tomar banho e colocar pijama, etc. Você é a primeira fonte de informações do ambiente para seus filhos. Se você continua e pijama às 12 h, seus filhos vão esperar uma comida tipica de café da manhã e no o almoço nesse horário.

2- Organize as refeições, mantenha horários regulares e uma frequência maior ao longo do dia. Planejar as refeições, cozinhando bastante no final de semana, mantendo comida congelada, ou mesmo tendo um serviço de marmitas congeladas pode ser de grande ajuda par a manter os horários. Crianças pequenas estão em fase de crescimento e sentem fome de forma mais frequente que você , que já parou de crescer há alguns anos. É normal que peçam algo de comer em intervalos de 2h a 2 h e meia. Organize 5-6 refeições por dia, entre grandes e pequenas. Lembre que seus filhos comem o que você lhes deixa a disposição, se há bolachas, doces, refrigerantes e outros alimentos industrializados a vista com fácil acesso eles vão aumentar bastante seu consumo. Para evitar que comam esses tipo de ultra processados o melhor é evitar comprar.
3- Controle o tempo e o acesso a eletrônicos. Especialmente para criança pequenas o tempo a mais na TV ou celular nesse período está cobrando uma conta cara na qualidade do sono. Abaixo de 2 anos evite os eletrônicos, acima de dois anos controle rigorosamente, evite exceder 2 h de eletrônicos ao dia, e desligue pelo menos 2 h antes do horário ideal de dormir.
4- Crie regras claras e repita-as constantemente, não importa que você repetiu a mesma regra todos os dias nos últimos 5 dias, precisa muita repetição para que as regras sejam incorporadas como hábitos. Não assuma nada como obvio ou implícito. TUDO deve ser colocado de forma explicita, da forma mais concreta possível para as crianças compreender. Evite palavras abstratas “boazinho” “obediente” são palavras que não tem significado para as criança pequenas. Use frases curtas, focando em ações executáveis: hora de sentar a comer , vamos deitar , hora de desenhar.

5- Converse com as crianças, elas são excelentes ouvintes, porém, péssimas interpretes. Explique o que está acontecendo: Porquê não vão mais para creche? Porque não podem ir mais à pracinha do lado de casa? Porquê os vovós não podem receber nossa visita? Antecipe e explique as atividades ao longo do dia, avise quando as mudanças estão por vir. Comparta seus sentimentos usando linguagem de compreensão simples para as crianças, assim como você se sente esgotado da rotina em casa, com saudades da família e amigos, elas também sentem. Compartilhar suas emoções de forma adequada abre a porta para que seus filhos também procurem compartilhar com você.
6- Uma vez retomada a organização da vida familiar, retome o controle daqueles comportamento que foram regredindo durante esse período, um a um, como você conseguiu controlar esses comportamentos na primeira vez que apareceram? é hora de lembrar e recomeçar. Utilize a conversa constantemente, lembre a criança os progressos que tinha conseguido antes da pandemia e lhe estimule fazer novamente com sua ajuda. Vai com calma, a situação está longe de ser normal, precisa ter mais paciência do que teve antes.
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Texto original de Zioneth Garcia