Dia dos namorados é mais uma daquelas datas para aquecer o comércio, quando namorados é a desculpa perfeita para ter aquele encontro especial. Quando pais de filhos pequenos, deixa de ser tão importante assim. No meio de corações e rosas em todos os comércios, a gente se lembra que antes de pais, somos mulheres e homens que um dia foram apaixonados. Mas a vida a dois, quando chegam os filhos, inevitavelmente muda. A responsabilidade aumenta, o estresse explode e o cansaço toma uma nova dimensão.
Após o nascimento do bebê, nasce uma nova mulher-mãe, e um novo homem-pai, e dessa forma uma nova família. A cada filho, as coisas mudam. Nem sempre o tempo de assimilação dessas mudanças se sincroniza, não é raro que a ficha demora um pouco mais para cair para um do que para o outro. O conflito pode aparecer, alimentado também pelo cansaço acumulado de noite mal dormidas, a pressão dos gastos que antes não existiam, o ajuste da dinâmica de tarefas domésticas, do orçamento familiar e a inclusão dos cuidados com o bebê.

Muitas vezes nos perdemos nos mesmos, ao tempo tentamos nos reencontrar como casal. Nesse panorama, manter o mesmo nível de romantismo pode ser um desafio, trocamos rosas por fraldas, jantar em restaurante caro por um jantar em família e em paz dentro de casa, o vinho por um chazinho quente e a noite de balada por um seriado embaixo das cobertas após colocar as crianças na cama. Talvez nem role aquela noite de paixão, e tudo bem.
É normal experimentar uma queda na libido, e não é por falta de amor ou de atração física, é puro cansaço, físico e mental, de ambos os lados, tanto mães como pais experimentam esse baixo desejo sexual. A alimentação desregulada, o excesso de peso, o sedentarismo, e o descanso pouco satisfatório, são fatores que mexem com a homeostase (equilíbrio hormonal) e em consequência pode haver alteração, mesmo que leve, nos hormônios sexuais. A queda nos níveis de testosterona, hormônio responsável por ativar o desejo sexual em homens e mulheres, também conta nas mudanças no relacionamento do casal após os filhos.

Em mulheres, a amamentação leva à elevação dos níveis de prolactina, há uma nova homeostase, muitos incluso culpam a coitada da amamentação pela baixa libido das mães, mas o mais provável é que as noites mal dormidas e o cuidar de uma pessoinha completamente dependente, ao tempo que se cuida de casa, trabalho e de si mesma (quando dá), seja suficiente fonte de estresse para alterar a produção desses hormônios sexuais. Até mesmo mães que não amamentam experimentam essa queda no desejo sexual.
Em homens, os níveis de testosterona também podem dar uma diminuída. Na natureza, machos de primatas sociais territoriais ficam na periferia do grupo como uma medida para manter elevados os níveis de agressividade (essencial para defesa do território e do grupo), uma vez que o contato com as fêmeas grávidas e filhotes recém nascidos pode levar à diminuição de níveis de testosterona nos machos (o que levaria à diminuição do nível de agressividade). Humanos, apesar de termos uma forte influência do contexto sociocultural, não somos muitos diferentes em termos biológicos, o novo papai tende estar mais entregue ao cuidado da nova mãe e filho (mesmo sem saber muito bem o que fazer), diminuindo também a sua agressividade em geral.

Mas não é só sexo que constitui um relacionamento de casal, o cuidado mútuo, a parceria, a compreensão e o amor pelos filhos vem para fortalecer e compensar enquanto as coisas encontram novamente um equilíbrio. A fase do cansaço passa, as noites mal dormidas uma hora param, os filhos crescem, e um dia talvez vão embora fazer suas vidas. O casal voltará estar sozinho um dia, como foi no começo, e até lá tem uma vida inteira de mudanças, e oportunidades para se apaixonar novamente pela pessoa ao seu lado.
Não tenho dica para aquecer a noite dos namorados com sua pareja. Apenas desejo que tenham uma noite feliz, cheia de amor, seja curtindo a sós uma velada romântica ou embaixo das cobertas enquanto assistem por décima vez o filme preferido das crianças.
Referências.
Gettler et al. 2011. Longitudinal evidence that fatherhood decreases testosterone in human males. PNA. September 27, vol. 108 , no. 39: 16194–16199. http://www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.1105403108
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Texto original de Zioneth Garcia