Recentemente se retirou a censura das publicações de fotos de parto, uma vitoria para a naturalização do processo de parto e nascimento, que permite dignificar a experiência para todas. Mas, para muitas mulheres, pelas mais diversas razões o parto tal qual foi sonhado não aconteceu, e para elas pode ser difícil de assistir as amigas, conhecidas ou pseudocelebridades das redes sociais mostrando o esplendor de seu momento, enquanto elas não conseguiram o parto sonhado. Pensando nessas mães decidi resgatar e trazer para vocês um texto que minha amiga Thaiane Caetano, por quem guardo uma grande admiração, escreveu há alguns meses atrás, e gentilmente aceitou compartilhar aqui no Mães com Ciência.
O parto que acontece
“Muitas mulheres experimentam um sentimento de vazio após o nascimento de seus filhos, sentimento este muito ignorado pela família, pelo companheiro, pelos amigos e pela sociedade e muitas vezes ignorado inclusive pela própria mulher. Este sentimento é aquele vazio que fica após o parto, um sentimento de frustração da experiência vivida!
Todos os dias recebemos pelas redes sociais vídeos de partos MARAVILHOSOS, muitos de perder lágrimas, tocam fundo no coração diante da beleza e da simplicidade do momento, mas é importante entender que aquela experiência não é a nossa, entender que estes vídeos em terras de cesárea servem para nos ajudar a mudar a nossa triste realidade intervencionista, mostrar que é possível ter um parto respeitado, digno, amável e intenso. É um verdadeiro triunfo ver sua imagem inspirando tantas pessoas e compartilhando a imensa beleza de um momento tão transformador. Mas não podemos nos esquecer que aquela experiência ali registrada diz respeito somente aos envolvidos naquele momento, e que o nascimento é um evento intenso e incontrolável, portanto imensamente transformador. E todo processo de transformação deixa marcas.
O desejo pela busca do parto respeitoso não deve se iniciar pela beleza, mas sim pela segurança, o restante será tecido durante o seu próprio tempo. Vale a pena programar, vale a pena se organizar, sonhar, se apaixonar com as experiências alheias, visualizar, mas não se esqueça que o nascimento pode levar vários rumos e isso não significa que sua experiência foi mais ou menos bonita.
Muitas vezes deixamos de viver a nossa própria experiência e nos prendemos no universo frustrante da experiência não vivida ou que não queríamos viver, para nos ajudar este processo acontece nos primeiros meses após o parto, quando nos encontramos mergulhadas no pós parto, com todas as suas explosões hormonais e com a adaptação de ter um pequeno bebê em casa. Se dê um tempo!!!
Você procurou uma equipe humanizada, contratou bons profissionais, juntou dinheiro, fez yoga, leu vários livros, se preparou e mesmo assim as coisas não aconteceram da forma como você sempre sonhou. Sua equipe foi satisfatória, você NÃO sofreu violência obstétrica, mas você se sente frustrada. Você pode ter planejado um parto domiciliar e precisou ser transferida para o hospital. Você pode ter planejado um parto natural e precisou de analgesia. Você pode ter, em algum momento do seu trabalho de parto, a indicação de uma cesariana necessária. Você pode ter planejado parir na água e seu bebê nasceu na cama em posição deitada. Você pode ter também planejado parir a luz de velas, com sua música favorita tocando, e você acabou parindo no centro cirúrgico.
Você pode ter encarado 30 horas de trabalho de parto quando você sempre imaginou que teria um parto a jato. Você pode também ter tido o parto exatamente da forma como você sonhou e seu bebê não nasceu tão bem e precisou de alguns cuidados antes de mergulhar no seu colo e mamar. E você viveu tudo o que sonhou, e mesmo assim você não está satisfeita. Isso faz da sua experiência menos bonita? Claro que não, isso faz com que sua experiência seja única, isso faz com que seu parto seja vivido, você viveu sua experiência por inteiro, sem edições ou maquiagem. A culpa não é sua e nem de ninguém, essa é a vida que brilha diante dos seus olhos
Tenho certeza de que em todas elas houveram momentos de extrema beleza, de amor, de cumplicidade, o resultado é o real, o possível e não aquele idealizado, e essa é a grande chave de nosso aprendizado, esse é o grande portal que atravessamos com a chegada dos nossos filhos. O parto é isto, é a porta para a maternidade. Se permita chorar, viver e reviver, mas também se permita um tempo. E saiba que é um evento incontrolável, e portanto não podemos idealizá-lo. O parto é pra ser vivido.
O parto é um evento de imensa transformação, há muitas sensações e sentimentos envolvidos, como medo, angústia, dor, alegria, amor, cansaço, ansiedade e é isso que faz dele um evento único e intenso. Como um evento dessa magnitude vai acontecer na vida de um casal e vai terminar sem deixar marcas, sem deixar nós? O nascimento de um filho é uma marca permanente na vida de uma pessoa, é um dos dias de nossas vidas em que temos maior dificuldade em esquecer, seja ele rápido, demorado, como o sonhado, com intercorrências, no improviso, ele sempre vai deixar marcas.
E infelizmente poucas pessoas vão te compreender. Seu filho está saudável e você também, então por qual motivo você não está bem? Minha dica é procure grupos de mulheres que já passaram pelo nascimento. Procure os profissionais que te acompanharam no parto, converse com eles. Não tenha medo e nem vergonha de pedir ajuda, e saiba que a grande maioria das mulheres precisa de um tempo para reviver seus partos.
Não coloque a imagem do parto lindo na sua vida, se orgulha da sua experiência, do ápice de sua vida como mulher, pois você gerou e trouxe ao mundo seu maior presente. Não reflita no seu próprio espelho uma imagem que não é sua, não coloque metas de experiências que são suas. Aproveite, viva!!!
Para as gestantes ou tentantes busque o melhor, se prepare, vá para yoga, contrate uma boa equipe, conheça o local de parto, lute por melhorias, mas se prepare para viver o real, o possível. Liberte-se!!! Viva seu parto por inteiro, viva seus improvisos, sua falta de controle, seus devaneios, se apaixone pela sua própria experiência, pois nela você é protagonista! O mais incrível é poder viver algo novo, único e transformador. Liberte-se. A luta pela humanização do nascimento não está na beleza que choca os olhos, está nas melhores práticas para um nascimento seguro, está no respeito à mulher e ao bebê.
Viva! Liberte-se! “
Texto de Thaiane Guerra Caetano , escrito originalmente para Geração Mãe.
Thaiane S. Guerra Caetano
Mãe do Nico e do Henrique
Enfermeira Obstetra atuante no Instituto Geração Mãe
Pós graduanda em Medicina Tradicional Chinesa
Especialista em Urgência Emergência e Terapia Intensiva
Formada em Hipnose Clínica
Consultora em Aleitamento Materno e Babywearing.
Atendimento Instituto Geração Mae: Av. California, 678 – Ribeirão Preto / SP. Tel: (16) 3236-7655
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