Por mais que a família se preparar para a chegada do novo bebê, há uma série de variáveis que são impossíveis de prever. Como será o novo bebê? como o filho mais velho irá encarar a intensidade dos primeiros dias do pós parto? Como será a nova rotina familiar com dois filhos de idades e necessidades completamente diferentes? Ter medo é normal, mas deixar o medo dominar pode ser um grande problema.
O caso que quero compartilhar com vocês hoje começou como uma consulta para ajudar a mãe ajustar a rotina de seu bebê de 21 dias, mas logo no começo de nossa conversa ficou claro que o problema não era a rotina do bebê. Ele mamava e dormia bem, o esperado para um bebê de 20 dias, mas o sentimento da mãe era que precisava de muito mais tempo para poder dedicar um pouco ao seu filho mais velho que tinha 2 anos e 4 meses.
O problema identificado então foi a dinâmica familiar, as pessoas ao redor da mãe, ao tentar lhe garantir tempo para estar com seu recém nascido, acabou isolando a do seu filho mais velho. A mãe ficava sozinha em casa o dia todo, enquanto seu filho mais velho ia para escolinha no período da manhã, o pai pegava ao meio dia para deixar na casa da avó, onde almoçava e ficava durante toda a tarde, até o pai pegar na volta para casa só no fim do dia. Assim quando a criança chegava em casa, ele e sua mãe estavam morrendo de saudades um do outro, mas com a correria e o cansaço do jantar, e preparativos para a hora de dormir, era muito pouco o tempo que passavam juntos. Essa diminuição da atenção por parte da mãe, é claro que começou mostrar seus efeitos no comportamento da criança, que exigia, nem sempre da melhor forma, os cuidados da mãe, dificultando para o pai e os familiares que estavam cuidando dele.
A solução era óbvia, mãe e filho mais velho precisavam estar mais tempo juntos para que ela pudesse oferecer a atenção positiva que ele precisava. Mas achar uma estratégia para que isto acontecesse foi muito difícil. Havia um medo enorme por parte dela, de não dar conta dos dois. Ela estava muito segura da demanda de cuidados do recém nascido, das necessidades do filho mais velho ela está ciente, mas como conciliar os dois no dia dia, era o ponto de quebra.
Muita conversa rolou, acho que foi uma das consultas mais longas que já fiz, montamos um plano para que mãe e filhos pudessem passar as tardes após a escola juntos. Compartilhei muitas dicas e soluções que eu mesma usei com meus filhos, lhe mostrei que seu medos eram normais, e que todas as mães de dois em algum momento os sentimos, que a maioria os superamos, do nosso jeito, e que ela deveria encontrar seu jeito de superar seus medos também. Sua principal insegurança era que um atrapalhasse a rotina do outro, e então foi ai que nos focamos.
Para isto foi preciso melhorar a comunicação e fortalecer o vínculo com filho mais velho, através do manejo da rotina introduzindo várias ferramentas da disciplina positiva. Enquanto se organizava a rotina do recém nascido ao redor da rotina familiar, para que no fim fosse possível construir uma rotina familiar sustentável dentro da nova realidade, atendendo equitativamente as necessidade de todos. Mãe, pai, e filhos.
O desafio dela foi enorme, superar seu medo de não dar conta e encarar os cuidados com os dois, sozinha. Mas ela ganhou mil pontos pela coragem! No dia seguinte à consulta ela começou, o papai trouxe o filho para casa após a escola, o almoço (que já estava pronto) seria acompanhado pelo pai, que sairia e deixaria a mãe comandando o sono da tarde, para depois de despertarem, brincar juntos mantendo as necessidades do recém nascido atendidas, enquanto oferecia toda a atenção ao filho mais velho durante as brincadeiras.
Ela encarou muito determinada o desafio, teve choro do filho mais velho nos primeiros dias, mas na medida que a rotina foi se ajustando, a mãe descobriu que ela dava conta do recado de dois filhos SIM, o que lhe trouxe uma enorme injeção de autoestima. Após algumas semanas sem retorno, ela me respondeu que estava muito feliz, a rotina estava indo muito bem e seus pequenos estavam se descobrindo um ao outro.
O segundo puerpério não é mais fácil, o segundo filho pode até ser mais tranquilo na questão de cuidados, que tiramos de letra, mas a dinâmica de ser uma família de duas ou mais crianças não é simples. No segundo puerpério é comum sentir que se está constantemente em dívida com o filho maior. Cada uma sabe ode o seu calo aperta. No caso da mãe do relato apertou no medo de não dar conta dos dois sozinha. Atender várias crianças em idades diferentes, com necessidades diferentes que precisam serem satisfeitas oportunamente, sem esquecer do autocuidado e do casal. É uma labor que precisa planejamento, organização e em especial coragem.
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Texto original de Zioneth Garcia