Esse não é bem um relato de caso, mas de uma situação vivenciada por uma das famílias participante numa das palestras sobre educação positiva que ministrei em Curitiba.
Me causou curiosidade, porque uma situação parecida aconteceu em minha casa, e outras pessoas na turma também se familiarizam com a situação, o que nos permitiu repensar a abordagem, tentando nos colocar no lugar da criança.
A criança de três anos chega da escola, a mãe cuida do irmão mais novo e o pai, cansado do dia de trabalho, querendo apensa se jogar no sofá, cede ao pedido de fazer um ovo cozido, a criança está cansada, inquieta e impaciente, perguntando insistentemente se já está pronto. Quando finalmente está cozido, está quente e ele não quer mas esperar, a solução óbvia, é ajudar esfriar mais rápido aumentando a superfície em contato com o ar, e então parte o ovo ao meio. Mas assim que o pai apresenta o ovo para criança está desanda chorar, escandalosamente, é o mesmo ovo, mas agora não o quer, tem mais ovos na geladeira, porém teria que cozinhar de novo… e aquele na mesa? Porque ceder aos caprichos do menino? o pai pensa: deve estar agindo apenas para chamar a atenção, deve ser por causa do irmão mais novo… ahhh! não vou ceder, já fez o ovo agora vai ter que comer, e por uns minutos tenta se impor, sem sucesso, a criança simplesmente piora a crises de choro, e então ele mesmo come o ovo e começa fazer outro. Se você fosse o pai o quê faria?
Agora vamos tentar imaginar do ponto de vista da criança: você é uma criança de 3 anos, chegou da escola cansada, os pés doem de tanto que correu hoje no parquinho, queria muito um chamego demorado da mamãe, mas apenas ganha um beijinho e um carinho rápido, a mamãe está muito ocupada com o irmão mais novo e tudo bem, você gosta dele também. Você está com fome e pede um ovo cozido para o papai, ele diz que fará, e você fica imaginando a hora que pegará aquela bolinha branca nas suas mãos, a morderá até revelar o amarelinho quase mágico do seu interior. A fome é grande, está com pressa, e pergunta insistentemente para o papai se está pronto. O papai diz que está quente, mas você insiste, não tem tempo de esperar, e então o papai pega uma faca e parte o ovo ao meio…. ESTRAGOU SEU OVO! porque? aquele ovo redondinho quase magico foi dividido ao meio, não era isso que você queria, fica triste, frustrado e muito bravo, chora mas ninguém consegue entender o motivo. “É o mesmo ovo”, dizem, mas para você é um ovo cozido que foi estragado e não dá mais para comer do jeito que você tinha imaginado. Fica frustrado e muito irritado, continua cansado e com fome, entre mais tentam fazer que você coma aquele ovo, mais bravo você fica. Se você fosse uma criança, sem muitas ferramentas de comunicação, o quê você faria?
Esse é um exemplo de uma batalha na que nenhuma das partes vai sair ganhando. Todos cansados, todos irredutíveis. Não podemos esperar que a criança entenda que o pai está cansado, então cabe aos adultos envolvidos agir. Acolher, tentar descobrir a razão do choro e tentar negociar.
Uma sugestão após desatar o choro com o ovo cortado seria:
Pai: não gostou? ficou ruim , fico ruim, fico ruim. João queria ovo inteiro e papai estragou!
Criança: Ainda chorando, mas menos intenso (opa.. acho que papai entendeu)
Papai: Vem cá. Olha se a gente junta assim fica redondinho. Se eu colocar um palito nem parece que cortei. Serve assim?
Criança: (Pode ser que aceite e então superamos a crises) …Mas pode ser que não aceite, então continuamos a negociar.
Pai: Vamos ver se tem mais ovos para gente fazer de novo. Quer me ajudar dessa vez para papai fazer direitinho? vem cá no colinho do papai. Correu muito na escola? Está cansado? papai está muito cansado, trabalhei muito hoje.
****E se não tiver mais ovos? ***
Papai: não tem mais ovos.
Criança: Começa chorar de novo.
Papai: desculpa filho não tem mais ovos, amanhã vamos no mercado comprar. Se não quer comer o ovo tudo bem. Vem cá no colinho do papai, papai sabe que está chateado, pode chorar, eu sei que está cansado. Quando quiser podemos procurar outra coisa para comer na geladeira.
É claro que não vai ser tudo lindo e maravilhoso na primeira tentativa, pra chegar lá, é preciso muito autocontrole por parte do adulto, para ser capaz de pensar a situação desde o ponto de vista da criança. Acolher o choro não significa ceder incondicionalmente, as vezes o único caminho é acolher e permitir a criança expressar sua frustração. Saber que o papai entendeu seu lado, no fim das contas vira um premio de consolação
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Texto original de Zioneth Garcia
Amei as sugestões, Zio!
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Muito bom! Post muito bem explicado, amei.
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