O ganho de peso do bebê é uma das primeiras e mais grandes preocupações dos pais, mês a mês na visita à balança, nós sentimos testados, será que consegui? e se a balança não mostra o numero esperado por nós, pelo pediatra, pela família? Veja a seguir quando é realmente hora de se preocupar pelo ganho de peso do bebê.
Nos primeiros dias de vida a maioria dos bebês experimentam uma perda de peso, uma diminuição de até 10% do peso com o qual nascem é considerada normal. Assim que o bebê nasce começamos aprender como amamentá-lo, reconhecer seus sinais de fome, cansaço, coceira, fralda suja, carinho, etc… Não é fácil, especialmente quando somos mães pela primeira vez, o medo e as inseguranças facilmente nos dominam. Se, por um acaso, o bebê não recupera o peso do nascimento nos primeiros quinze dias ou continua a perder peso qualquer resquício de segurança que possamos ter tido desaparece e sucumbimos aos conselhos de quem nos rodeiam, sugestões de conhecidos e até orientações erradas de alguns profissionais.
Quando se fala em ganho de peso insuficiente é importante saber insuficiente para quem? Para o pediatra? Para os pais? Para a família (porque o filho do primo nessa idade era bem mais gordinho)? Ou para o bebê? Nos venderam a ideia que só o bebê gordinho é lindo, todos querem ter nos seus braços o “bebê Johnson” e se nosso filho não parece com esse padrão acreditamos firmemente que está com algum problema.
Cada bebê é único, isso significa que cada um tem seu ritmo de crescimento e de desenvolvimento. As curvas de crescimento oferecidas pela OMS servem apenas como referência, não se espera que sejam seguidas a risca por todos os bebês de maneira idêntica, se fosse assim onde fica nossa variabilidade genética? O mais importante é que o seu bebê mantenha um ritmo constante de crescimento e que se mantenha no padrão da curva, ou seja, que cresça rapidamente nos primeiros meses e depois comece diminuir gradativamente o ganho até se estabilizar num ganho mais ou menos constante mês a mês… Se um bebê ganhasse todos os meses durante o primeiro ano 1 quilo, no seu primeiro aniversário pesaria o mesmo que uma criança de 3 anos, e assim o seu crescimento não seria representado por uma curva mas uma linha reta.

O Brasil tem uma ampla variabilidade fenotípica, gerações de imigrantes deixaram sua marca no padrão populacional. Vemos magros, robustos, altos, baixos, loiros, morenos, ruivos, cada um tem seu biótipo, que já é perceptível desde os primeiros meses do bebê. Ao comparar a curva de crescimento de seu filho na curva de referência da OMS o que nos mostra a altura na curva é o biótipo no qual ele se encaixa. Se um bebe é feliz, se desenvolve bem, ganha peso de forma constante e não apresenta nenhum problema de saúde aparente então ele é um bebê saudável seja ele gordinho ou magrinho.
Se um bebê ganha peso comprovadamente insuficiente, isso é: não recuperou o peso de recém nascido nas primeiras semanas de vida, não segue um padrão de crescimento constante sofrendo mudanças no percentil no qual se encontra mês a mês, a primeira causa a considerar é o manejo errado da amamentação, a pega errada, uso de bicos artificiais, limitação da livre demanda do seio, mamadas com baixa eficiência, freio de língua curto, hipotonia muscular da face (pouca força da sucção), retirada das mamadas noturnas precocemente, entre outros.
Se a amamentação está em ordem então a possibilidade de haver algum problema de saúde com o bebê deve ser avaliada, há probabilidade dele ter infecção urinária, anemia, alergia alimentar, entre outras? O sono está no padrão adequado para idade? (dormir bem é essencial para crescer pela produção de hormônio de crescimento) . Atenção especial deve ser conferida à anemia, o ferro é um micronutriente essencial para o bom desenvolvimento do bebê. Um bebê nascido a termo (marcado pelo trabalho de parto) de uma mãe completamente sadia, com uma gestação sem problemas e que recebeu todo sangue da placenta na hora de seu nascimento tem baixíssimas chances de ter anemia ferropriva durante seus seis primeiros meses de vida e após. Mas uma avaliação rigorosa é prudente em casos onde houve histórico de anemia gestacional, hemorragia durante o parto, nascimento por cesárea, nascimento pré-termo (antes das 39 semanas) e/ou clampeamento precoce do cordão, já que nesses casos o bebe pode ter deixado de receber toda a reserva de ferro que precisava.

Só em ultimo lugar e depois de descartar todos os outros problemas é que pensamos na possibilidade de que algo com a produção de leite da mãe seja a causa do ganho de peso insatisfatório. Algumas das causas de produção insuficiente de leite materno a ser avaliadas são: cirurgia mamária prévia que comprometeu as glândulas mamárias ou sensibilidade dos mamilos, hiperlactação ou fluxo forte (seja pelo consumo de medicamentos ou não) fazendo com o que o consumo de nutriente do bebê seja afetado, problemas com a tireoide da mãe, estresse, depressão pós-parto na mãe, ou até cansaço acumulado da mãe e do bebê (é durante o sono profundo que o corpo do bebê secreta hormônios de crescimento).
Quando um bebê está com problemas para ganhar peso ou para se desenvolver corretamente, seja ele recém nascido ou não, não é raro ouvir como primeiras sugestões limitar as mamadas e introduzir leite artificial, sob a justificativa de leite insuficiente ou fraco. Dificilmente a mãe desse bebê é questionada sobre a sua amamentação, se está com peito machucado, ferido, ou se o bebê engasga durante a mamada, ou mesmo se ele está usando chupeta, com isso raramente ouve a sugestão de procurar ajuda com a amamentação, avaliar a pega ou controlar a hiperlactação. A pior parte é que ao assumir cegamente que o problema é o leite da mãe que é fraco ou insuficiente a causa real do problema deixa de ser pesquisada, se há um problema com a saúde no bebê esse fica sem ser diagnosticado. Em casos de alergia alimentar sem diagnóstico introduzir leite artificial a base de leite de vaca ou soja pode ser fatal!
E o sobre peso?
Bebês em aleitamento materno exclusivo não tem sobrepeso ou obesidade, eles tem padrões de crescimento um pouco diferentes dos bebês em aleitamento misto ou aleitamento com substitutos do leite materno. Nos primeiros meses a curva pode ser quase uma linha reta se elevando acima do percentil médio da curva, mas após a introdução de alimentos a tendência é regularizar e alcançar a normalidade, dentro do padrão populacional. Vale lembrar que as curvas da OMS são baseadas em padrões populacionais mundiais, e tristemente a taxa de aleitamento materno exclusivo no mundo é muito baixa, o que vai tender a puxar os dados a essa curva que observamos, apesar da normalidade para criança em aleitamento materno exclusivo provavelmente ser diferente da mostrada na curva. Gosto de colocar assim: a gordura do bebê amamentado exclusivamente é gordura boa que vira cérebro!
Bebês em uso de formula infantil precisam uma atenção especial. Especialmente quando o bebê que usa a mamadeira associada ao sono. Seja como complemento ou alimentação exclusiva com fórmula infantil. Quando o bebê usa a mamadeira para adormecer, seus cuidadores podem confundir facilmente a necessidade de sucção não nutritiva com fome, uma vez que ele continua sugando mesmo após acabar o líquido na mamadeira, o que comumente leva aos cuidadores a aumentar o volume de leite ofertado, dilatando gradativamente a barriguinha da criança, que em seu estado natural deve comportar volumes de 120 – 180 mL até os 12 m , mas que pode se dilatar até dobrar a sua capacidade, e eventualmente trazer também a associação do sono com a sensação de sobre alimentação. Em médio e longo prazo pode essa sobre alimentação e dilatação da capacidade gástrica, junto com a associação da alimentação com mecanismo de regulação de estresse para descansar, podem levar ao sobrepeso da criança, por isso é necessário regularizar junto ao pediatra o volume e horários mais adequados para a oferta do substituto do leite materno. Para bebês que usam mamadeira e não são mais amamentados o ideal é que lhes seja ofertado alguma fonte de sucção não nutritiva (chupeta, dedo, mordedores ou estimulo oral com dedeiras), justamente para conseguir fazer uma separação e prevenir essa associação entre sobre alimentação e regulação de estresse.
Na dúvida sobre o ganho de peso seu filho, verifique a curva de crescimento junto ao pediatra antes de fazer qualquer intervenção.
Veja também:
Reflexões de uma ex-dependente do leite artificial: o que ninguém nos conta
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*Texto original de Zioneth Garcia
*Postado originalmente em 17 de Julho de 2014 para o Grupo Virtual de amamentação, ultima revisão em 16 de agosto de 2022.
Olá
Minha filha nasceu de parto normal, com 3,5kg. Aumentou quase 700g no primeiro mês; no segundo 400g; no terceiro 200g. Mama em livre demanda; pega correta; a única diferença que percebo que ela acaba dormindo na mamada e muitas delas não são eficientes. O que posso fazer?
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Olá Lucilene.
Vcs precisam de uma avaliação completa. Da bebê, para descartar qualquer problema que esteja interferindo com a eficiência da mamada (desde um freio de língua curto até uma confussão de bicos) , ou que esteja alterando crescimento (alergia alimentar , sono inadequado p.e).
Avaliação da sua saúde também é importante para descartar situações que podem levar à baixa produção (Hipertensão, diabetes, hipotireoidismo, cirurgia mamária, hipoplasia mamária).
A técnica de amamentação deve ser avaliada e a livre demanda se centrar mais no seu criterio sobre as necessidades nutricionais da bebê. Ter uma boa rotina se sonecas é essencial.
Acompanhamento do Pediatra é importantíssimo.
Previsando o ajuda deixo a consultoria mães com Ciência a disposição.
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