Desmame NÃO é solução mágica

Durante a amamentação prolongada podemos ter vários problemas que podem nos levar a pensar que o desmame seria “A solução”, mas é importante entender que se a criança não está pronta nutricionalmente, nem emocionalmente, o desmame pode ser um grande problema ao se tornar uma experiência traumática para ambos, mãe e filho.

Quando entendemos a duplicidade nutricional e emocional da amamentação, fica mais fácil entender porque esse PROCESSO acontece gradualmente, e mesmo sem pensar no desmame, ao começar a introdução alimentar damos o primeiro passo nesse caminho, que vai nos levar até um ponto no qual a criança não vai precisar mais do peito nutricional, nem emocionalmente, já que terá alcançado um desenvolvimento integral, com habilidades motoras, cognitivas, emocionais e sociais que lhe permitirão suprir todas suas necessidades adequadamente com a alimentação regular, e o convívio familiar e social. Por tanto, é importante ressaltar que a amamentação NÃO é a causa de nenhum dos problemas e o desmame NÃO é solução mágica para nenhum deles. Alguns exemplos de situações em que frequentemente é sugerido o desmame abrupto:

  • Sensibilidade nos seios pela fase no ciclo menstrual ou nova gestação;
  • Perturbação detonada pela pressão social, cansaço, estresse, gestação, medo ou conflitos internos;
  • Criança que não come como desejado, não dorme como esperado, não aceita outros cuidadores como desejado, não se comporta como desejado sendo apresentada como “birrenta”, nervosa ou explosiva.
  • Criança “apegada”  demais à mãe
  • Casos em que a mãe precisa recuperar ou perder peso, fazer tratamento médico ou estético;
  • Casos em que o trabalho da mãe exige passar uma ou várias noites fora de casa.
  • Rejeição do seio (greve de amamentação) detonada por dentição, doença ou resposta à separação.

Quando a necessidade do desmame é sentida pela mãe antes que pelo bebê, sempre é possível conciliar as necessidades de ambos de forma que ninguém saia perdendo, afinal, a amamentação é um relacionamento de mão dupla, e só é bom para cada um se está bom para ambos. O desmame pode ser induzido pela mãe e ao mesmo tempo ser respeitoso com o bebê.

Em termos puramente teóricos, é pouco provável o desmame natural abaixo dos dois anos, porém, são muito frequentes os casos de confusão de bicos, nos que o bebê começa espaçar as mamadas e rejeitar o peito gradualmente, ele desmama porque quebra o vínculo emocional e a dependência nutricional com o seio, em muitos casos esquecendo como mamar do seio. Mas suas necessidades de sucção e conforto oral, assim como o apego à mãe, se mantém, passando serem supridas pelos objetos, a chupeta ou a mamadeira, e não mais pelo seio da mãe.

Quando o desmame é gradual, natural ou induzido, acontecendo no tempo certo para o bebê, a criança não vai precisar de mamadeira ou chupeta para se acalmar ou adormecer, já que a estaremos equipando com as ferramentas sociais para se sentir acolhida e segura em qualquer situação, seja pela sua mãe ou pelos adultos que cuidam dela.

Métodos de desmame abrupto como simular ferida do peito, passar substâncias para gerar gosto ruim, usar trocas ou chantagens (ganhar presente ou benefício em troca de parar de mamar – muito comum na época de natal e aniversário-) são desaconselhados por psicanalistas, já que a criança pode manifestar sentimentos como sofrimento, ansiedade, preocupações e tristeza, que podem desencadear dificuldades imediatas na socialização, desfralde e mesmo relacionamento futuro com a mãe e o pai. Pode-se trocar o leite pelo suco, por leite de vaca, ou por qualquer outro alimento, mas a sensação de segurança, afeto, aconchego e prazer que o peito também oferece não pode ser simplesmente ignorado ou retirado abruptamente. A fonte de alegria, prazer e carinho, tirado ou transformado em fonte de sofrimento, doença, ferimento, coisa ruim, pode gerar pessoas que não conseguem sentir prazer sem sentir medo, que estão sempre desconfiadas e/ou com medo, para quem a ansiedade está sempre presente. Pessoas assim acabam deixando passar oportunidades, não conseguem se entregar verdadeiramente em um relacionamento, não conseguem manter a mente positiva, não conseguem desfrutar da alegria por medo de que algo ruim aconteça. Até mesmo se tornam pessoas que não lidam de forma positiva com o prazer.¹

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Texto original de Zioneth Garcia

Referências

Citação textual: 1- Carvalho, L. R. C. 2014. Sobre desmame: a “técnica do mamá dodói”. Ensaio pessoal disponível aqui

CarrascozaI, K. C; Cost Júnior L. A; Alves de Moraes, B. 2005. Fatores que influenciam o desmame precoce e a extensão do aleitamento materno. Estud. psicol. (Campinas) vol.22 no.4

SonegoI, J.; Pacheco Van der Sand, I. C.; Almeida A. M.; Gomes, F. A. 2004. Experiência do desmame entre mulheres de uma mesma família. Rev. esc. enferm. USP vol.38 no.3

Almeida, J. A. G. 1999. Amamentação: um híbrido natureza-cultura [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 120 p. ISBN: 978-85-85239-17-4. http://static.scielo.org/scielobooks/rdm32/pdf/almeida-9788575412503.pdf

Inoue, M. E. 2012. Desmame. Em: O Livro da Maternagem. (ed) Oliveira, T. B. pag 149-154

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