O relato de hoje não é de um caso em particular, mas uma situação muito comum, poderia se dizer até rotineira. O apego ao berço, por parte da família. Ao longo das consultas tenho me topado com resistência às modificações propostas para melhorar o quarto da criança, principalmente quando se fala de trocar o berço por uma cama.
Tenho percebido que acontece pelas mais diversas razões: seja porque é conjunto na mobília do quarto foi mandado fazer especialmente, foi presente ou herança familiar, custou um rim e o justo é usar, o berço chegou causar atrito na gestação e agora se não usar uma das partes vai ficar como vencedora, ou apenas a dificuldade de pensar no bebê sem nada para conter seu livre ir e vir pela casa.

Durante a gestação a preparação do quarto do bebê entra dentro do enxoval, as vezes com expectativas muito elevadas, aquela ideia romântica (trazida em muitos filmes e livros) que o bebê irá mamar e ternamente irá se aconchegar com seu ursinho de pelúcia, aceitará um beijo na testa e um carinho de leve, e dormirá calmamente no seu bercinho. A imagem parece linda, e é a ideia que muitas temos na gestação quando compramos o berço. Mas a realidade é bem diferente.
O que mais vejo são casais que têm dificuldade para deixar o bebê dormir sozinho no berço em seu quarto a noite toda. As primeiras semanas o instinto de proteção é bem forte, queremos o bebê do lado, para saber que está tudo bem, que respira. Depois, temos o aleitamento, seja amamentação ou não, o bebê precisa se alimentar a noite, e estar no mesmo cômodo facilita muito para a mãe (que geralmente é quem atende). E então quando finalmente vai para seu berço, começa logo engatinhar e querer se levantar, ficando pendurado tentando pular fora… se isso acontece já vou falando logo de cara que está na hora de sair do berço e ir para uma caminha baixa, por segurança.
A parte por onde consigo convencer muitos dos casais a sair do berço, é pela transferência, com o ganho de peso do bebê vai ficando cada vez mais difícil colocar no berço dormido. Fica bem confortável no colo e de repente escorrega ao berço, coisa de centímetros, e então acorda, tendo que começar o processo de adormecer tudo de novo!

A cabeça dos bebês é muito mais pesada em relação ao resto do corpo, uma vez se levantam apoiados na grade, podem facilmente escalar ou se pendurar usando a força de seus braços (que também é proporcionalmente maior à nossa) e simplesmente virar ou levantar os pés para tentar pular a grade. No começo não dava muita importância nisso, era uma sugestão para maior conforto da família, substituindo o colo por deitar juntinho. Agora sou bem insistente, por questão de segurança. Apesar da sugestão de troca para cama baixa, já há algum tempo um casal em acompanhamento optou por continuar com o berço, mesmo com o bebê se pendurando da grade para tentar sair. Um dia efetivamente saiu, caiu de cabeça no chão, mas com a sorte que a mãe tinha deixado um colchão ao lado do berço, e assim o incidente não passou de um enorme susto. É claro que após o incidente a troca foi imediata!
O berço pode ser uma decisão precipitada durante a gestação, que muitas vezes tomamos no impulso, da promoção do conjunto do quarto ou na necessidade de ver o “ninho” pronto. E na hora de sair dele, doe o coração e o bolso, por ter investido tanto esforço e dinheiro em um item que foi pouco usado. Varias vezes nem usado, já tive casos, e não foram poucos, nos que o bebê saiu do quarto dos pais direto para uma caminha baixa, e com a dor no coração o berço foi aposentado novinho!
E o berço que virá mini cama? Também já ouvi muito “mas meu berço vira mini cama, então vai dar para usar muito tempo” …. #SQN. O berço americano, que vira mini cama, é uma armadilha. Novamente caímos na ilusão do bebê que vai dormir sozinho e calmamente na sua caminha, com um beijinho na testa e um boa noite e tchau. Mas, o que é mais comum de acontecer é que, quando o bebê for para sua cama vai querer que mãe ou pai deitem do ladinho, para lhe aconchegar, abraçar, e vamos combinar que pai e mãe também gostam disso. O berço americano, que virá mini cama, não aguenta mais de 60- 70 Kg e no geral tem 130cm de comprimento, então vai ser igualmente necessário trocar para uma cama de tamanho padrão onde pai ou mãe caibam.

Nos casos que teve resistência para sair da mini cama, o que acabou rolando foi uma troca de colo por sentar no chão nas posições mais desconfortáveis para oferecer o aconchego e contato físico que o bebê/ criança precisa. Geralmente não é preciso argumentar muito, a situação sozinha se torna insustentável e a mudança é inevitável. Então, vai por mim, para dormir bem, mas vale segurança e conforto da família toda, do que ficar remoendo e forçando as decisões feitas durante a gestação (quando a gente mal sabia o que lhe aguardava).
Se você é gestante, saiba que nas primeiras semanas você sentirá a necessidade de ter o bebê do ladinho, no carrinho, moisés ou berço acoplado à sua cama, e conforme vê a forma que transcorrem as noites irá decidir se seu bebê fica do lado ou vai para o próprio quarto. A escolha pelo tipo de berço ou cama, pode esperar até esse momento. Então segura a ansiedade, e pense bem, muito bem, antes de comprar um berço.
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Texto original de Zioneth Garcia