Tratando a candidíase mamária

O tratamento da candidíase mamária é mais efetivo quando se faz integralmente, usando fármacos antimicóticos e controlando fatores de risco orgânicos e ambientais. O bebê deve ser tratado junto da mãe, mesmo sem apresentar sintomas na boca ou assadura de fralda, ele pode ser um portador silencioso. Em casos que há associado candidíase vaginal recorrente, pode ser necessário que o parceiro sexual da mulher também receba  tratamento.  

O tratamento com antimicótico é essencial. Esse é um assunto bastante polêmico. Muitas mães iniciam por conta própria o tratamento clássico, com nistatina. Porém, com o uso desregulado, as espécies de Candida spp. tem desenvolvido resistência a esse antimicótico de uso popular. O tratamento de candidíase mamária deve ser orientado por um profissional. O tempo de tratamento é muito importante. Um erro muito comum, que pode levar o fungo criar resistência, é suspender o tratamento uma vez os sintomas melhoram. Os sintomas podem melhorar após 5-7 dias de antimicótico, o fungo diminui sua atividade ao ponto de permitir que o tecido se regenere, mas ainda está presente, por isso, o tratamento deve se estender entre 14 -21 dias, para garantir que não vai ter uma nova explosão demográfica da levedura. 

Quando a infecção se encontra em fases iniciais, atacando apenas a pele do mamilo e aréola superficialmente, o uso de antimicótico tópico pode ser eficiente. As pomadas mais indicadas são aquelas que vão no mamilo da mãe e na boca do bebê, elas não têm venda controlada, com o que uma conversa com seu médico por mensagem, para receber as orientações pode ser bastante útil para iniciar o tratamento o quanto antes. 

Porém, quando os sintomas já são sentidos ao interior da mamá, sinal que tecidos internos foram afetados, o melhor tratamento é sistêmico, com uso de antimicótico oral. A dosagem e tempo de duração do tratamento deve ser acordo à extensão da infecção (sugerida pela intensidade e duração dos sintomas), e ajustada caso a caso com o profissional. Não inicie tratamento sozinha, os antimicóticos podem ser agressivos com o seu organismo, sobrecarregando o seu sistema hepático, e se mal empregados sua atitude pode contribuir para que o fungo desenvolva resistência ao fármaco, sendo mais difícil sua eliminação.  Um protocolo que considero bastante eficiente no manejo da candidíase mamaria é o proposto pelo Dr. Jack Newman, pode encontrar ele aqui

Medidas não farmacológicas para controle de Candida albicans

Além do tratamento com medicamentos, podem ser tomadas medidas não farmacológicas para controlar o crescimento do fungo, diminuindo sua proliferação enquanto as medicações surtem efeito, e prevenindo novas infecções no futuro. Algumas medidas que tem se mostrado eficientes na literatura e que vem sendo adotadas regularmente pelos especialistas, são simples e oferecem baixo risco para a saúde, sendo mais populares no tratamento de candidíase vaginal, mas vem sendo cada vez mais adotadas no tratamento da candidíase mamária. Algumas dessas medidas são:

  • Lavar o mamilo com solução de bicarbonato de sódio (1 colher de sopa em 250mL de água potável) ajuda mudar pH da região. O bicarbonato é alcalino, o que ajuda deixar menos ácida a região afetada, e dessa forma diminuir a atividade do fungo. Essa medida ajuda controlar a coceira, e é muito eficiente em fases iniciais, enquanto se recebe a avaliação profissional e começa o tratamento antimicótico. Pode ser feito 3-4 x dia, ou após cada mamada, lembrando de lavar com água limpa após a aplicação. Não deve ser usado no bebê. 
  • Controle dos açúcares disponíveis para o fungo, diminuindo o consumo de açúcares simples (sacarosa, fructose, glucose) e evitando o consumo de álcool.
  • Consumo de orégano, em preparações, como óleo essencial ou mesmo cápsulas. Seu uso tem sido recentemente documentado como coadjuvante no tratamento de infeção por várias espécies do gênero Candida spp.
  • Controle do ambiente com higiene rigorosa de roupas e brinquedos para evitar retransmissão. Trocando toalha regularmente, e deixando as roupas secar ao sol, tomando cuidado com a contaminação por animais (pássaros por exemplo). Em regiões muito úmidas, onde as roupas podem demorar para secar é aconselhável passar no ferro as peças de roupas íntimas, pelo menos na região que entrará em contato com a mama. 
  • Uso de probióticos específicos que ajudarão controlar as populações de cândida dentro do organismo. Eles são vendidos prontos ou podem ser manipulados. Os sugeridos na literatura são  Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus bifidus e Lactobacillus reuteri.
  • Manter a região do mamilo o mais seca e arejada. O fungo prefere um ambiente úmido, diminuir a umidade não o vai deixar nada feliz. Trocar os absorventes dos seios regularmente ou mesmo deixar o seio respirar livremente ajudará bastante. 
  • O fungo não gosta de luz. Tomar sol regularmente,  sessões de luz em alta frequência (fluxação 5-8 min),  ou sessões de laserterapia, diretamente na pele do mamilo e aréola;  

Veja também
Entendendo a candidíase mamária

Precisando ajuda ?

A consultoria Mães com Ciência pode ajudar com seus problemas de sono, amamentação, desmame, desfralde e educação positiva. Saiba como funciona aqui ou  Agende uma consulta virtual aqui.

Texto original de Zioneth Garcia

Referências:

Amir LH, Donath SM, Garland SM, et al. 2013 Does Candida and/or Staphylococcus play a role in nipple and breast pain in lactation? A cohort study in Melbourne, Australia. BMJ ;3:e002351. https://bmjopen.bmj.com/content/bmjopen/3/3/e002351.full.pdf

Barrett M, Heller M H ,  Fullerton Stone H, Murase J E. 2013. Dermatoses of the breast in lactation. Demartologic therapi.  Volume26, Issue4 331-336. https://doi.org/10.1111/dth.12071

Barrett M, Heller M H ,  Fullerton Stone H, Murase J E.  2013. Raynaud Phenomenon of the Nipple in Breastfeeding Mothers: 

An Underdiagnosed Cause of Nipple Pain. JAMA DERMATOL/VOL 149 (N°. 3), 300-306. https://jamanetwork.com/journals/jamadermatology/fullarticle/1485351?resultClick=1

Boix-Amorós, A., Martinez-Costa, C., Querol, A. et al. 2017 Multiple Approaches Detect the Presence of Fungi in Human Breastmilk Samples from Healthy Mothers. Sci Rep 7, 13016. https://doi.org/10.1038/s41598-017-13270-x

Boix-Amorós A, Collado MC and Mira A . 2016. Relationship between Milk Microbiota, Bacterial Load, Macronutrients, and Human Cells during Lactation. Front. Microbiol. 7:492. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmicb.2016.00492/full

Brown V, Sexton J A, Johnston M. 2006. A Glucose Sensor in Candida albicans. EUKARYOTIC CELL,Vol. 5, No. 10: , p. 1726–1737 . https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17030998

Brum Cleff M,  Meinerz A R, Xavier M,  Schuch L F, Carlos M. 2010 . In vitro activity of origanum vulgare essential oil against Candida species. Brazilian Journal of Microbiology (2010) 41: 116-123

Buffo, J., Herman, M.A. & Soll, D.R. 1984. A characterization of pH-regulated dimorphism in Candida albicans . Mycopathologia 85, 21–30 https://doi.org/10.1007/BF00436698

Ferreira, Carolina Boavida, & Andrade, Sara. 2019. Mastite por Candida em lactante: um relato de caso. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, 35(1), 52-56. https://dx.doi.org/10.32385/rpmgf.v35i1.11907

GIOLO, M. P.; Svidzinski, T I. 2010.  Fisiopatogenia, epidemiologia e diagnóstico laboratorial da candidemia . J Bras Patol Med Lab. v. 46 – n. 3: p. 225-234 http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v46n3/a09v46n3.pdf

Giugliani E RJ. 2004. Problemas comuns na lactação e seu manejo. J. Pediatr. (Rio J.) vol.80 no.5 suppl. Porto Alegre Nov. 2004. http://dx.doi.org/10.1590/S0021-75572004000700006

Kühbacher A, Burger-Kentischer A, Rupp S. 2017. Interaction of Candida Species with the Skin. Microorganisms. 5(2):32.  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5488103/pdf/microorganisms-05-00032.pdf

Lohse, M., Gulati, M., Johnson, A. et al. 2018. Development and regulation of single- and multi-species Candida albicans biofilms. Nat Rev Microbiol 16, 19–31 https://doi.org/10.1038/nrmicro.2017.107

Manohar V, Ingram C, Gray J,  Talpur N A, Echard B, Bagchi D, Preuss H G. 2001. Antifungal activities of origanum oil against Candida albicans. Molecular and Cellular Biochemistry 228: 111–117. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11855736

Newman J. 2017. CANDIDA PROTOCOL. International breastfeeding Centre
https://ibconline.ca/information-sheets/candida-protocol/ – Acesso em 18-04-2020

Sherrington SL, Sorsby E, Mahtey N, Kumwenda P, Lenardon MD, Brown I, et al. 2017.  Adaptation of Candida albicans to environmental pH induces cell wall remodelling and enhances  innate immune recognition. PLoS Pathog 13(5): e1006403. https://doi.org/10.1371/journal.ppat.1006403

Todd Watts and Dr. Jay Davidson. 2018.Candida Support Protocol: How to Get Rid of Candida Naturally.  https://microbeformulas.com/blogs/microbe-formulas/candida-support-protocol-how-to-get-rid-of-candida-naturally   Acesso em 18-04-2020

Elactancia.org. Maternal Candidiasis
http://www.e-lactancia.org/breastfeeding/maternal-candidiasis/product/ – Acesso em 18-04-20

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s