Até dois anos as crianças são tecnicamente consideradas lactentes, e a recomendação de consumo diário de leite é de 400 – 600 mL. O consumo de leite e laticínios de consumo regular pela família, pode começar após a criança completar um ano inserindo gradualmente nos preparados (Veja aqui ) . Porém devemos lembrar que diferente do leite materno, o leite de vaca e seus derivados (incluindo a fórmula infantil) podem interferir com a absorção de ferro dos alimentos (como carnes ou feijão), por isso, é ideal manter um intervalo de pelo menos 1 h entre as refeições ricas em ferro e a oferta de leite, derivados ou preparados.
O aleitamento seja no seio ou com mamadeira deve ser uma experiência prazerosa para criança. Até pouco mais de dois anos, o estímulo oral, da sucção, continua tendo um papel essencial na regulação emocional da criança, já que ajuda a compensar níveis elevados de cortisol no organismo.
Crianças amamentadas
Para crianças amamentadas a quantidade recomendada estará sendo suprida com 3-4 mamadas bem efetivas, isto é, mamadas nas que existe extração contínua, com sucção e deglutição, por 5-10 min. O desafio da amamentação nessa fase é justamente garantir a efetividade das mamadas.

Uma vez que a criança ainda consome leite materno, pode ser ofertado para ela leite de vaca e laticínios de consumo regular pela família. A oferta de leite não precisa ser feita em mamadeira ou limitada ao leite líquido e puro. O leite pode ser inserido nos preparados conhecidos (molhos, em pó junto da fruta) ou em novas preparações (sorvetes, picolés, cremes, bolos, biscoitos, mingaus).
Tenha um local fixo para as mamadas nutritivas, preferivelmente fora do contexto de dormir, em um ambiente iluminado que permita deixar a criança alerta para que faça mamadas vigorosas. Converse com a criança sobre o leite da mamãe e estimule a mamar de forma continua, quando perceber que está perdendo o interesse ofereça o outro seio, lembre que o que vai estimular a sucção é ter um bom fluxo de leite.
A sucção do seio também vai suprir as necessidades não nutricionais, regulação sensorial e emocional, regulação de estresse e relaxar antes de adormecer, porém, com o desenvolvimento cognitivo acelerado nesta fase, novas formas de relaxar e suprir essas necessidades emocionais aparecem, levando à evolução da livre demanda. O uso do seio como forma de conforto e calma vai dando espaço a novas formas de reconhecimento do acolhimento materno. Vale lembrar os pedidos de mamada são formas de comunicação de necessidades que precisam ser satisfeitas: alimentação, atenção, brincadeiras, carinho. Avaliar os pedidos de mamada um a um, para conseguir identificar e satisfazer a necessidade que há por trás do pedido, ajudará a determinar claramente quais são pedidos nutricionais e quais têm função de regulação emocional e estresse. Agora a comunicação, a previsibilidade da rotina e o aparecimento de combinados de acesso ao corpo materno vão ganhando cada vez mais força.

Crianças não amamentadas
Para bebês não amamentados a recomendação de consumo diário de leite é a mesma: 400 – 600 mL. A preferência deve ser do leite infantil ou leite integral de boa qualidade, e pode ser oferecido em pequenas porções ao longo do dia. O leite não precisa ser ofertado necessariamente em mamadeira, ele pode vir junto dos preparados, se assim for mais palatável. No caso de usar mamadeira lembre de revisar e ajustar o bico da mesma à fase de desenvolvimento atual, atendendo as recomendações do fabricante, para garantir que tenha um fluxo adequado à idade e mamar não seja tedioso e cansativo para o bebê.
Atenção à associação da mamadeira com o sono. Quando o bebê usa a mamadeira para adormecer, seus cuidadores podem confundir facilmente a necessidade de sucção não nutritiva com fome, uma vez que ele continua sugando mesmo após acabar o líquido na mamadeira, o que comumente leva aos cuidadores a aumentar o volume de leite ofertado, dilatando gradativamente a barriguinha da criança, que em seu estado natural deve comportar volumes de 150 – 180 mL até os 24 m , mas que pode se dilatar até dobrar a sua capacidade, eventualmente trazendo também a associação do sono com a sensação de sobre alimentação, passando a solicitar cada vez mais leite antes de dormir nas sonecas, começo da noite ou mesmo para emendar os ciclos de sono no meio da madrugada.
Adicionalmente, oferecer a mamadeira com a criança deitada aumenta o risco de otites, refluxo e cáries (pelos açúcares do leite). O ideal é dar um intervalo de uns 15- 20 minutos entre a mamadeira e a hora de deitar, tempo no qual uma escovação caprichada pode ser inserida. Prefira retirar a mamadeira do contexto de dormir, oferecendo o leite fora do quarto, antes de iniciar o roteiro de sono. Converse com a criança, deixando bem claro que a mamadeira não acontecerá mais na hora de adormecer, mostre a disponibilidade para ficar junto e brincar um pouco no quarto, orientando e lembrando sempre que a oferta do leite é antes de iniciar o roteiro de sono. Explicando claramente como será o roteiro da hora de dormir.
A sucção não nutritiva, que também é usada como mecanismo de regulação sensorial e emocional em bebês não amamentados, pode ser oferecida através do uso criterioso da chupeta, isto é mantendo o mínimo necessário, apenas para os momentos críticos, adormecer e situações de alto estresse nos que a criança não se acalma apenas com o colo, carinho e contato com a mãe. Nos casos que a criança não amamentada não usam a chupeta, pode ter compensação com uso do dedo, mordedores ou mesmo objetos (mantinhas, naninhas). Em qualquer caso é importante identificar quais são as ferramentas de regulação emocional da criança para lhe ajudar, ofertando na hora certa, e regulando seu uso, estimulando o desenvolvimento com comunicação e conexão emocional.

Depois dos dois anos
Após os dois anos não existe uma recomendação de aleitamento mínimo, considerando o consumo de leite e laticínios uma escolha cultural, uma dieta balanceada é a garantia da boa nutrição, mesmo que a criança não consuma leite. Nessa fase o cérebro da criança está crescendo rapidamente com o que há um aumento na necessidade de proteína e carboidratos na sua dieta, assim, esforços de regular (ou retirar) a mamadeira ou o seio devem incluir a avaliação e ajustes na dieta da criança. Dessa forma a oferta de seio, mamadeira ou chupeta vai ter uma função principalmente emocional. O manejo da sucção nessa fase deve se concentrar no desenvolvimento de mecanismos de regulação sensorial e emocional , assim como o manejo do estresse através de comunicação e conexão.
Sociedade Brasileira de Pediatria – Departamento de Nutrologia. 2018.
Manual de Alimentação: orientações para alimentação do lactente ao adolescente, na escola, na gestante, na prevenção de doenças e segurança alimentar / Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. – 4ª. ed. – São Paulo: SBP, 172 p.
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Texto original de Zioneth Garcia
